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O lado obscuro do ser humano

De repente, o império da dor instalou-se no meio de nós! E tão só, porque em Felgueiras, mais uma vez, uma nova mulher, vítima de violência doméstica, foi assassinada pelo ex-companheiro que, de seguida, também se suicidou.

Em Agosto de 2022, mais de uma dezena de anos depois do início da relação, entre Carla Fonseca e Alberto Teles, já eram evidentes alguns sinais de que a mesma não se encontrava bem, tendo essa acabado no mês seguinte.

Antes da separação, Carla, uma mulher forte, alegre e geralmente sempre bem disposta já não conseguia disfarçar as incomodidades que tal relação lhe ocasionavam, não obstante, como mãe, e tão só como um meio para defender o filho, evitasse mostrar ao mesmo o quadro desolador dos seus últimos meses de vida ao lado do seu pai.

No meio de uma tempestade conjugal em crescendo, Carla, sentindo-se impotente para continuar a navegar à vista decide abandonar o barco, recusando-se a naufragar dentro do mesmo, persuadida  de que só esse acto a levaria à conquista de uma vida mais tranquila e mais feliz e sempre ao lado do seu menino.

Permanecer dentro do seu mundo deixou de se compaginar com a relação que apesar de tudo durou quinze anos, e daí, a decisão de acabar com a mesma um mês depois de ambos terem gozado férias juntos.

Carla, já antes e por várias vezes ameaçada de morte, prosseguia a sua vida dentro de um quadro pouco normal, atendendo a que o seu antigo companheiro, continuando a não aceitar o fim da relação,  jamais conseguiu proporcionar-lhe dias de paz, fazendo-lhe perseguições e esperadas constantes, quer junto da sua casa, quer um pouco por toda a parte, na procura de a continuar a pressionar no sentido de reverter a decisão tomada, sobre uma relação que tendo sido frutuosa, já não continha os mesmos condimentos para continuar a ser o que antes fora.

Carla Fonseca, uma mulher culta, deveras bonita e muito vistosa – no  sentido estrito do termo que só ao conceito da beleza diz respeito -, e profissionalmente bem integrada na vida e no meio social, tendo esse direito, decidiu percorrer novo caminho, libertando-se de uma relação que já era e que nos primeiros meses do ano de 2022 já dava sinais de não poder continuar a ser o que antes foi.

Alberto Teles, um homem bom e sobremaneira considerado no meio social, com pergaminhos positivos na vida profissional e comunitária, persiste em recusar a decisão de Carla, passando e jamais parando de fazer marcação cerrada aos passos, aos movimentos e à vida em geral da sua ex-companheira.

Sentindo-se crescentemente mais incomodada pela marcação constante que o seu antigo companheiro lhe movia, Carla, não obstante a agressividade da sua presença indesejada, procurava um novo sentido de vida, trabalhando e cuidando abnegadamente do seu filho, não deixando, sempre que podia, de se divertir, socializar e viver.

Erro seu – por certo na avaliação constante na mente do seu ex-companheiro!

Não gostando do filme que continuava a passar, o seu ex-companheiro, primeiro porque ela decidira terminar a relação e depois por ela ter dado sinais de que estaria a protagonizar uma nova relação, intensificou as perseguições e as ameaças, não lhe dando qualquer descanso, vigiando-a,  procurando-a e convidando-a continuadamente para encontros, tão só com o intuito de lhe dizer e mostrar que, ou ela aceitava reatar a relação, ou morte, com alegadas promessas de eventual esquartejamento.

Temendo pela vida, Carla Fonseca, e a sua irmã Raquel decidiram  apresentar queixa formal junto das autoridades locais, tendo essa seguido os trâmites normais para o respectivo Ministério Público, porém, sem qualquer efeito prático já que passados apenas alguns dias, Alberto, por certo, sentindo-se definitivamente perdido, desorientado e derrotado acabou por dar sentido às suas anteriores ameaças, matando selvaticamente a sua ex-mulher, afinal, a mãe do seu querido filho, o qual pai e mãe  tanto amavam.

Não sendo por razões económicas – a Carla tinha uma sólida profissão, não obstante mal paga, como se reconhece à maioria dos professores – e o Alberto com um rendimento e um património consolidado deveras considerável -, que motivações terão estado na rotura conjugal deste casal cujo desfecho final deixa orfão de mãe e de pai uma criança com apenas onze anos de idade?

E não sendo, também, falados ou conhecidos quaisquer casos de infidelidade conjugal por qualquer um dos protagonistas, o que aconteceu, de facto, para que a Carla, enquanto mulher, tenha deixado de se sentir feliz e segura no quadro da relação conjugal antes vigente?

Não havendo, nem importando agora encontrar resposta para a tragédia que vitimou, primeiro, a Carla Fonseca e, depois, o seu ex-companheiro, Alberto Teles, importa tão só assinalar que em Portugal continua a crescer o número de mulheres assassinadas pelos seus actuais ou antigos maridos, um acto tanto mais cobarde quando pelo caminho se deixa um filho de tenra idade dos dois e que sem qualquer culpa vai ter de viver e carregar sozinho com tão macabra lembrança.

Sendo certo que as nossas vontades ilustram quase sempre sinais sobre a nossa força, a verdade é que no caso em apreço essa foi tão só um força muito nefasta que apenas serviu para ditar a morte da Carla Fonseca, mas jamais o símbolo maior de uma mulher – no caso, o de uma grande mulher, que ao sentir-se molestada se recusou a viver no pântano, procurando adiante reconstruir uma vida melhor!

E se na morte da mãe do seu próprio filho há um crime hediondo que nenhum suicídio posterior poderá explicar e muito menos atenuar, tanto mais por deixar para trás uma criança indefesa que tanto adorava os dois e que subitamente se vê sem nenhum, na morte do Alberto Teles só poderemos encontrar o desfecho de um acto macabro que só a si cabia e deveria evitar, prescrevendo, a final, que na execução do acto premeditado, não foi capaz de evidenciar escrúpulos perante a destruição de duas vidas, as quais  poderiam continuar a ser belas, a da sua ex-mulher e mãe do seu próprio filho, e a sua, que não obstante o panorama antes vigente, todos gostariam de continuar a contar!

José Quintela

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