Assistimos a uma país desgovernado, onde, quase diariamente, um escandâlo é-nos apresentado pelas televisões, jornais, rádios e conversas de café.
Assistimos a um ilusionismo digno de aplaudir, tal é a criatividade e o engenho – mas apesar do que nos habituamos a ouvir, uma mentira contada muitas vezes nunca se torna verdade.
Será mesmo esta a governação que queremos?
Rejo-me pela máxima de que na política não vale tudo. Não vale nem pode valer. Não pode valer a construção de um governo que mais se assemelha a uma árvore genealógica, onde a meritocracia fica à porta. Não pode valer uma gestão completamente danosa para os portugueses. Não pode valer enganar os portugueses.
E, em Felgueiras, qual o panorama?
Fomos presenteados com a recente notícia de que este é o executivo municipal com mais vereadores a tempo inteiro desde que há memória.
Se o argumento é que este facto se deve à descentralização de competências, então temos de prestar o dobro da atenção aos capítulos seguintes. O atual executivo vai no seu segundo mandato e este aumento é proporcional ao aumento da dívida municipal – sirvam-nos os aumentos a par e passo.
Para além disto, com a criação de um programa de aproximação do município às freguesias, quais são, em termos concretos, os resultados destas ações? Conseguimos apurar o que os munícipes realmente precisam?
Felgueiras precisa de seriedade, inovação e ação. Precisa de uma alternativa credível que tenha em consideração as necessidades de cada munícipe, que funcione como um espaço de partilha, intervenção e apresentação de propostas.
Precisa de alguém que construa um caminho lado a lado com a população, sem excluir ninguém. E já em 2021 referi que Felgueiras, sendo estas propostas transversais a todas as freguesias, precisa de dinamizar os espaços públicos, promovendo atividades culturais e de lazer, tais como concertos de Natal e Páscoa, Fado ao luar, artes, cinema, poesia e teatro.
Precisa de apostar na sustentabilidade ambiental e plantar e conservar o maior número de árvores possíveis em todo o seu território.
Precisa de apostar na formação estratégica e no tecido empresarial. E, ainda, num município tão marcado pelo desporto, é necessário construir um polidesportivo, que permita a prática de vários desportos, para benefício de todos os que pretendam praticar atividades desportivas.
As maiorias absolutas não são poderes absolutos.
As maiorias são, tal como o seu nome indica, maiorias e isso não significa que detenham todo o poder, nem que façam um mau uso dele porque, se há coisa que já devíamos saber, é que o poder é e está todo nas pessoas.
A política é um meio para servir as pessoas. Feita de pessoas para pessoas, é apenas o caminho para as representar e onde podemos ser verdadeiros servidores da causa pública.
Num presente indefinido e num futuro que não se avizinha fácil, o trabalho de proximidade será sempre a melhor resposta. Porque, se há quem esteja na política com outros objetivos, ainda existe quem esteja com serenidade, seriedade e convicção.
E como bem nos ensinou Francisco Sá Carneiro, “para nós, social-democratas portugueses, o poder local é a base de segurança de toda a verdadeira democracia: as municipalidades, as regiões, são fundamentais como centros de decisões locais e não podem ser absorvidas por um Estado centralizado, o qual se poderá tornar despótico, mesmo nos termos democráticos”, resta-nos saber se as maiorias absolutas conseguem acompanhar este pensamento e praticar, na sua plenitude, a democracia.
Sofia Soares