Volvido meio século do 25 de Abril, as reflexões sucedem-se. Mas celebrar o aniversário sobre a Revolução dos Cravos não pode ser apenas mais um feriado, nem condensar-se em meras cerimónias, concertos e eventos na agenda política.
De tempos a tempos, o pensamento social dá um salto de fé. Quando os Regimes não acompanham a evolução civilizacional, os brandos costumes dão lugar à indignação que, não sendo acolhida, conduz ao motim.
O 25 de abril de 1974 foi o ponto alto de uma revolução social, cultural e política, culminando no fim do regime ditatorial, que foi o Estado Novo. Em retrospetiva, a 17 de abril de 1969 (cinco anos antes), na inauguração do edifício das matemáticas em Coimbra, o presidente da DG da Associação Académica pediu a palavra para fazer uma intervenção, que lhe foi recusada. Não se conformando, o referido dirigente desobedeceu, subiu a uma cadeira e fez o seu discurso, à revelia do então Presidente da República Américo Thomaz. Este simples gesto de desconsideração e consequente rebeldia representa o estalar da crise académica.
A irreverência dos jovens e o descontentamento de uma sociedade reprimida deram o mote da mudança.
Também hoje assistimos a este descontentamento, pela falta de honestidade, integridade e qualidade ética da classe política, impõe-se uma versão atualizada do “25 de Abril”, que à semelhança de um software, traga aperfeiçoamento do regime atual e crie mecanismos de saneamento e defesa do Bem Comum.
Não basta no entanto, esperar o decurso do tempo até ao limite do insustentável, cabe a cada um nós fazer da cidadania participativa uma prática e desta forma merecer o legado democrático, deixado por aqueles que lutaram pela liberdade.
“Não se acomodem ao mundo como é, à sociedade como a encontram, à vida como vo-la mostram. Mas restituam ao mundo a beleza das origens, à sociedade a justiça que a torna possível, à vida o ideal que a transforma e enriquece.” – Maria de Lurdes Pintassilgo
Marta Rocha
