O dia 25 de Abril em 1974 nasceu de sol aberto no concelho de Felgueiras, assim como pelo resto do País, conforme se viu pela televisão. Estava uma manhã radiosa quando comecei a perceber que alguma coisa se passava por Lisboa, pelas notícias entretanto chegadas. Mas cá na região de Felgueiras, por quanto me lembro, nada de especial sobressaía. Era um dia normal. Daí que só dias depois tenha havido algo diferente, com uma manifestação pública, de apoio ao Movimento das Forças Armadas. A primeira manifestação pública e livre de que há memória em Felgueiras.
Quando se deu o 25 de abril, a meio dessa semana de tempo primaveril, mesmo, fui apanhado de surpresa quando, ao chegar ao café da Longra pela manhã, ouvi que havia uma revolução. Eu nesse tempo estava à espera de ir para a tropa. Havia em janeiro anterior ido à inspeção e tendo ficado apurado para o serviço militar, fiquei em espera de incorporação para o exército, ou seja de ser chamado, como se dizia. E, por via disso, com o curso dos liceus mas em idade militar, estava sem conseguir emprego, pensando que mais mês, menos mês, lá iria para um quartel e depois para a guerra. Mas, afinal, com o 25 de abril já não fui… e, depois, após oficialização de passagem à reserva, já consegui emprego.
Ora, voltando atrás, tinha passado dias antes a Festa dos 23 em Várzea, ocasião em que por lá, entre a animação festiva, andavam até animadas conversas sobre o futebol, após mais um jogo do Felgueiras, visto o clube concelhio estar a disputar a subida de divisão, que depois aconteceu com o regresso à 1.ª Divisão Distrital no final dessa época de 1973/74, estava Borges como treinador-jogador, a comandar o plantel em que havia uns Pimenta, Adão, Augusto, Costa Leite, Pereirinha, Franklim, Mesquita, etc.
E no dia, propriamente, no 25 de abril de 1974, como nos emissores de rádio e televisão só davam músicas de marchas militares, ao início da tarde fui até à então vila de Felgueiras, para no Café Albano (Jardim) ouvir quem saberia melhor qualquer coisa, pois ali se costumavam juntar alguns senhores em tertúlias que até metiam assuntos políticos. Alguns dos quais entretanto, como também não sabiam ainda grande coisa, foram até ao monte de Santa Quitéria para lá no alto captarem melhor algo de emissoras estrangeiras.
Depois disso tudo, ao chegar a casa mais para o final da tarde, já ouvi alguns comunicados radiofónicos do MFA e pela noite dentro chegou a ocasião de ver na televisão a comissão da Junta de Salvação Nacional. No dia seguinte os jornais esgotaram e por isso apenas pude ler no café o diário que lá estava, na sexta-feira; e no sábado seguinte devorei as páginas do jornal nas reportagens sobre o 25 de abril, mais a mais porque já eram referidos os irmãos João e Francisco Sarmento Pimentel, da casa da Torre, como exilados políticos que em breve regressariam a Portugal. Dias depois ainda dei uma vista de olhos por um dos jornais de Felgueiras, mas sem conseguir ficar com ele. O resto é História.
Nesse sábado seguinte ao 25 de abril, ou seja no dia 27, fui até Felgueiras com a minha namorada, sendo que ao tempo as manhãs dos sábados eram ocasiões de muita gente ir passear à vila, como se dizia, aproveitando para fazer compras e conviver. E então, pelas conversas com quem nos deparamos, apercebi-me que pouca gente ainda estava ciente do que tinha verdadeiramente acontecido, fruto de ninguém até então saber nada de política, por assim dizer.
Daí que, entretanto, valeu o resultado de conversas entre algumas tertúlias de gente sociável e estudantes, sobretudo, para depois ter havido uma crescente ideia da manifestação que acabou por ir para a rua, dias depois.
Ora, tendo o dia 25 de Abril de 1974 sido na última quinta-feira do mês, depois na terça-feira seguinte, dia 30, houve então a histórica manifestação em Felgueiras, na véspera do então já proclamado oficialmente feriado nacional do Dia do Trabalhador, que veio a ser o efusivo 1.º de Maio em Portugal. Sendo da manifestação a memória que perdura mais.
Armando Pinto