Este mês há eleições num dos maiores clubes portugueses, no FC Porto.
Ninguém fica indiferente, seja adepto de futebol ou não, seja ou não seja portista.
E as razões são várias, desde as polémicas notícias que deram a conhecer os graves episódios nas assembleias do clube.
Os casos de polícia e as detenções de figuras de relevo do clube e da claque.
A violência exercida e intimidação a André Villas Boas.
O facto de Pinto da Costa ser uma figura incontornável do futebol e do FC Porto, mas já conta 86 anos e 42 à frente do clube.
A falta de alternância na direção do clube.
E não menos relevante, o ato eleitoral em si.
Em Portugal, no ano em que se comemoram 50 anos de liberdade ainda é muito comum “ganhar na secretaria“.
A expressão, penso que muito utilizada no futebol é facilmente generalizada e em muitas instituições, clubes e afins. Há sempre quem prefira não ir “a jogo” e “ganhar na secretaria”.
É lamentável que este tipo de ação ainda leve a melhor, não se faça o escrutínio exigido, não se garanta a livre expressão, a defesa da honra, a cultura democrática que há 50 anos deveria ser praticada, mas que nos dias de hoje continua a ser posta em causa.
Ainda não se matam os adversários como se faz na Rússia, mas as maldades e violência utilizada é igualmente condenável.
O jornal não tem clube futebol e não tem partido político, pratica o seu estatuto editorial, é um órgão independente de qualquer tipo de poder económico o político e orienta-se pelo princípio da dignidade da pessoa humana e pelos valores da democracia da liberdade e do pluralismo.
Mas as pessoas tem a liberdade de fazer as suas escolhas e defende-las dentro dos limites da urbanidade e respeito pelos outros.
Como tal fui ouvir André Villas Boas, primeiro porque veio a Felgueiras e depois porque lhe reconheço uma grande coragem por defender um projeto para um dos maiores clubes de Portugal, contra o poder instalado.
Não deveria ser encarado como um ato de coragem, mas sim um ato normal em democracia e num país livre, mas não é, Portugal vive de compadrios, instituições fechadas em si mesmo, sociedades semi-secretas, pequenos grupos de “elite” que se apoderam das instituições como se fossem donos delas e criam um “sistema” blindado que não permite alternância, o contraditório.
Quem se habilitar a fazê-lo é aniquilado ou destruído.
Ouvi André Villas Boas numa sessão pacífica, civilizada e muito interessante.
Temo, como muitos, que o processo esteja viciado e que o resultado seja como muitos outros “ganhar na secretaria”. A ver vamos.
Tenho esperança que continuem aparecer os “Andrés Villas Boas” que existem, mas que são cilindrados, porque o país precisa de gente séria, competente, com convicções, sem medo de defender a correção de atitudes e ações e com capacidade de se submeter ao sufrágio.
Portugal não precisa só de políticos com idoneidade, com honra, com educação, com cultura democrática, que pratique a liberdade e não viole os direitos fundamentais.
Portugal precisa de pessoas assim em todo lado e em todas as instituições, a bem de todos nós e para que se cumpra abril.
Susana Faria