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Verde – A cor do radicalismo

A poucos dias da ida às urnas, a campanha eleitoral é o grande tema da atualidade política portuguesa.

Depois de uma onda de debates demasiado curtos na sua duração individual para permitir aos eleitores tomar uma decisão devidamente informada, cada partido orienta as suas ações de campanha da forma que lhe parece mais proveitosa e todos os dias há atos inusitados que, além de proporcionarem momentos de humor, pouco ajudam a manter a credibilidade política dos candidatos.

Com o país mergulhado numa situação política instável e de futuro governativo incerto, o descontentamento geral continua a mostrar-se em protestos populares, sejam eles pelo direito constitucional à habitação ou por soluções ambientais que procurem resolver a emergência climática.

No segundo caso, os protestos mais recentes incluíram a invasão ao debate dos partidos com assento parlamentar e um ataque bastante mais direto ao líder social-democrata, Luís Montenegro.

Perante uma ação de protesto polémica e que “perdeu a eficácia”, nas palavras do Presidente da República, a opinião de todos os partidos com representação parlamentar foi unânime. A ação, revindicada pelo Movimento “Fim ao Fóssil”, foi fortemente condenada, sendo apelidada de “radical” e “ineficaz”.

Num país que já ouviu um líder partidário declarar que “Ser sequestrado é coisa que me chateia”, como se o sequestro do parlamento de um aborrecido dia de trabalho se tratasse, catalogar um balão de tinta verde como um ato de radicalismo antidemocrático parece, no mínimo, um disfemismo.

Mas, da esquerda à direita, nenhum partido se parece rever no protesto, que não mostra mais do que o descontentamento com um sistema que nos traz, de novo, a eleições antecipadas.

Se, por um lado, as declarações da maioria dos líderes políticos não passaram daquilo que seria de esperar, ou seja, atos de solidariedade e condenação vaga destas ações de protesto, por outro, o líder do partido Chega! foi mais longe, considerando o arremesso de um balão de tinta como um ato “desprezível e de cobardia”.

Concordando ou não com a forma de protesto e sendo sempre estas ações passíveis de serem criticadas, talvez não seja do partido que procurou fazer aproveitamento político do som de rateres de uma moto da sua comitiva que deve partir este rótulo de cobardia.

Também Mariana Mortágua resolveu pronunciar-se, acabando por falar num ataque à democracia. Estas declarações dividiram opiniões, e demonstram a perda do caráter revolucionário da esquerda, que se esconde sob a memória daquilo que já foi.

Já não temos hoje uma esquerda ousada que assume as suas ideologias. Pelo contrário, temos uma forma de esquerda reformista que não só não denuncia as estruturas de poder como trabalha dentro delas e no sentido de as manter.

Só assim se explica que estas organizações, tidas como radicais, tenham perdido a confiança nos partidos que as pareciam representar e vejam como única alternativa uma forma de protesto que desafia a noção de debate democrático e os mecanismos nos quais confiamos a resolução dos problemas que afetam todos.

Os derradeiros resultados destas eleições legislativas não são garantidos e não parece ser a campanha eleitoral a principal ferramenta que contribui para esclarecer os indecisos que, de acordo com as sondagens, não só não são uma minoria como não diminuem em número à medida que a data se aproxima.

O que parece estar a acontecer é uma perda de confiança da parte do eleitorado em relação à classe política, que os líderes partidários estão a falhar em combater.

Carolina Moreira

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