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Quinta de Maderne
InícioOpiniãoSem título.

Sem título.

Ela. Ela, daquela vez foi arrastada pelos cabelos para dentro de casa.

Ela, daquela vez também foi mordida no rosto. Ela, ficou com aquela marca gravada para o resto da vida. Como se não tivesse direito ao esquecimento.

Ela gritava. Ela não foi socorrida por ninguém. Ela contava só com ela. Era um assunto que só a ela dizia respeito.

Ela, foi muitas vezes assim, violentada e marcada para o resto da sua vida.

Ela hoje ainda vive, mas agora encarcerada na alzheimer.

Ela, entretanto, perdeu um filho, que se perdeu. Também foi uma vítima disfuncional.

Ela perdoava, um dia saiu e voltou. Ela perdoou, mais uma vez, e desta vez foi para sempre.

Ela tem uma filha, que agora cuida dela.

Ela, naquele lugar não era só ela. Havia mais “Ela”. Ela é o rosto que marca a criança que eu era. Porque foi ela que eu testemunhei. Que os meus olhos enxergaram.

Passaram quarenta anos.

Ela ainda marca a criança que tenho dentro de mim.

Ela desde cedo fez de mim um aliado, um ativista, um intervencionista.

Ela, passadas décadas continua a ser assediada, abusada sexualmente e emocionalmente, injuriada, difamada, batida, humilhada, proibida, indigna, desigual, perseguida e assassinada.

Não há melhores leis, decretos-lei, decretos regulamentares que lhe valha.

Não há órgãos de polícia criminal que lhe valha. Não há estruturas de atendimento e de apoio que lhe valha.

Não há casas abrigo que lhe valha.

Não há melhor justiça que lhe valha.

Porquê? Porque ela é objeto de poder, de controlo, de opressão, de egoísmo, de narcisismo.

Porque estes valores são transmitidos de geração em geração. Que se perpetuam no passar do tempo.

Porque estes valores são estruturais, profundamente enraizados e importa mantê-los.

Porque a coletividade ainda não chamou verdadeiramente a si grande parte da responsabilidade que tem em relação a ela.

E assim, continua a ser, um problema só d`ela.

É político. É sociológico. É religioso. É de nós todos/as. Mas na verdade ninguém quer saber dela. Só depois, quando não já não há ela.

Ela quer empoderamento, e a dignidade como ser humano que é.

Ela quer educação e formação, quer na parentalidade quer na escola, na religião, na sociedade. Ela quer a transmissão de valores da igualdade e da dignidade.

Ela quer um amor igualitário.

Ela quer que nos empenhemos todos/as, nos envolvamos todos/as. Todos/as com a missão, consciente e interiorizada que é urgente  a travar o ciclo da violência.

Ela quer que entre pares se empodere a censura familiar e social sobre a violência e a desigualdade sobre ela.

Por último ela quer que cada um/a de nós faça a escolha, traduzido num ato de vontade, que assuma o compromisso, individual e coletivo com ela.

Ela quer a justiça, a justiça que tarda, da igualdade.

Ela quer que estejamos todos/as ao lado d`ela!

 Milton Brochado

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