Pelas historiazinhas de tempos de infância, para quem em tempos idos ganhava conhecimentos pelos livros de fábulas infantis, era conhecida a história da gata borralheira, em tão interessante conto cuja protagonista era a Cinderela, nome pelo qual a mesma história é mais conhecida, afinal. Tratando duma narrativa sobre uma menina órfã de mãe, a quem a madrasta e as filhas desta desprezavam, fazendo dela sua criada.
Contudo, através de contornos duma fada boa, acabou a jovem infeliz por viver momentos felizes, no famoso baile real, embora voltando de permeio à realidade com a quebra do encantamento, até que com a cena do sapatinho houve um final feliz, à boa maneira dos contos de outrora.
Ora, em género empírico, figurativamente, a Cinderela desta história atual pode chamar-se Longra.
Um nome também feminino. Transpondo esse mundo imaginário a algo da realidade. Com naturais distâncias e diferenças. Sendo que a história, no que concerne à Longra, tem também semelhanças e diferenças.
A Longra que, enquanto povoação, era uma linda menina dos olhos de gente boa, e que, ao cabo de ações díspares, incluindo retrancas de quem não queria a elevação, teve momento alto com a proposta para passagem a vila e resultante aprovação oficial, quer nos meios autárquicos felgueirenses como, especialmente, depois e por fim a nível da Assembleia da República Portuguesa.
Vivendo-se aí, então, algo belo como o tal baile real. Contudo, tal como na história, depressa o encantamento da magia transformou a carruagem do tempo num desaparecido comboio de muitos anos antes, como o que passou e desapareceu por estas bandas nos princípios do século XX.
Tanto que, tal como na história da Cinderela, passada meia-noite da história real, a transformação operada nos meios locais, entretanto ainda inícios do século XXI, com o regresso de quem antes não queria que a Longra passasse a vila, voltou a colocar o anterior estado de desprezo.
Coisa depois alterada, com um volte-face na política concelhia, derivada à política da água, como é sabido. Apenas que a nova situação acabou também por meter mais outra água até mais não… e o abandono manteve-se.
Com uma agravante: Se antes as dotações que estavam destinadas à localidade eram desviadas para outras terras, como aconteceu com escolas e algumas outras possíveis benesses mais que justificadas, com o seguinte estado municipal as obras operadas foram piores que a encomenda, além de terem ficado pela metade, tal o que de obras de regeneração urbana e expansão ambiental foi feito, diante do que estava anunciado (e inclusive exposto num painel grande e vistoso).
Daí derivando que, assim como antes, também esse período do poder autárquico teve fim natural. Sem que a sucessão tenha tido melhores resultados, por enquanto. Continuando a Longra à espera que se dê o processo de verificação a quem cabe calçar o sapatinho da história local, no âmbito da visão histórica concelhia.
Estando a Longra pois em Felgueiras, também, no concelho que é deveras Torrão Doce para quem sente isso da ligação conterrânea, passam diante de nós, de quem viveu e convive com tudo isso, tantos vultos defensores da igualdade das gémeas felgarianas, como devem ser as terras do concelho de Felgueiras na comparação poética geminada da figurativa irmandade concelhia de Santa Quitéria.
Contando que a Longra, que à vista desarmada das antigas eras da povoação de tempos românticos teve transformação da abóbora do conto clássico em carruagem lustrosa, em 2003, com a elevação a vila, precisa mesmo que a entidade régia do atual concelho meça onde cabe seu pé…
Agora que passam vinte anos de ser vila, de forma a caber (em forma de pé, mesmo, do tamanho que urge calçar), na amplitude das necessidades.
Quão em 2023 e imediato futuro, algo e alguém traga algum grão e mais ampla seara de progresso devido.
Tal qual, como cantou em verso Miguel Torga sobre seu Reino Maravilhoso, também por cá…«das asas que agite/ O poema que cante / Será graça e limite / Do pendão que levante / A fé que a tua força ressuscite»… ó Longra!
Armando Pinto