Não é novidade que a indústria do calçado em Felgueiras tem passado por tempos difíceis, as encomendas não chegam em volume suficiente e a concorrência nacional e sobretudo internacional é cada vez mais difícil de acompanhar.
No entanto, em tempos difíceis não nos devemos apenas focar nos problemas externos. Deve a indústria do calçado em primeiro lugar olhar para dentro. Li por aí algures que o mundo só muda se mudarmos primeiro as nossas crenças, atitudes e hábitos.
Na minha opinião existem três fatores/condicionantes a serem alterados na indústria do calçado, o primeiro está relacionado com o posicionamento do setor no mercado e a estratégia de preços da maior parte das empresas, o segundo relacionado com os baixos salários, e o terceiro relacionado com a cultura e hábitos da nossa sociedade.
Sobre o primeiro fator, é importante que a indústria do calçado abandone gradualmente a estratégia de preços baixos e finalmente assuma que a qualidade tem um preço e tem de ser ajustado. Uma estratégia de preços que reflita a qualidade dos produtos irá acrescentar mais valor à indústria, permitindo à mesma pagar salários mais elevados a jusante e comprar melhores materiais a montante.
Será indiferente o esforço das associações do setor de pré-recrutar miúdos nas escolas, se o problema dos salários não se resolverem (segundo fator). E esse problema resolve-se com uma fiscalidade mais atrativa por parte da autarquia e do Governo, e claro com a disponibilidade e capacidade dos patrões para remunerarem mais.
Isto leva-nos ao terceiro fator anteriormente referido. Para que a indústria do calçado seja mais atrativa para trabalhadores/colaboradores e clientes, é imprescindível mudar algumas crenças, tais como aquela que é ensinada às crianças de que o dinheiro é a origem de todos os males, e que os patrões ricos são todos maus e gananciosos.
Não é verdade, nem todos os patrões só se preocupam em comprar Ferraris. Por outro lado, os patrões têm de abandonar a ideia de que os colaboradores são mais um custo para o negócio.
Os colaboradores, sejam eles do sexo feminino ou masculino, são ativos imprescindíveis à geração de riqueza, são um investimento necessário para que sejam produtivos e estejam motivados. Ou seja, falta cultura e valores fortes a muitas empresas, não só da indústria do calçado. É importante mudarmos esta última condicionante, determinante para melhorar as duas primeiras condicionantes.
Isto são apenas orientações gerais, não fosse isto a minha visão liberal para a indústria do calçado. Em estratégia empresarial a visão de uma empresa serve para a mesma se guiar e orientar, e para isso tem de necessariamente ser refletida em valores e objetivos sólidos.
Seria importante as forças políticas e sociedade civil em Felgueiras debaterem sobre este tema. Em nome da Iniciativa Liberal de Felgueiras estamos disponíveis para o debate, fica aqui o desafio.
Flávio Ventura
