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As três Madrinhas

Este período pascal é um tempo muito propício para se falar de madrinhas.

E desde logo da minha, à qual me mantive ligado quase sessenta anos e de quem gostei sobremaneira, sabendo também sempre o quanto ela gostou de mim..

Por isso, hoje, nesta semana pascal, recordo com saudade os meus primeiros quinze anos de vida, precisamente aqueles em que ela sempre sinalizou a sua ligação afectiva, não só pelo folar que nunca deixou de me entregar, mas, sobretudo, pelos gestos ternurentos que evidenciava, quer no momento das entregas, quer noutras ocasiões em que os nossos passos se cruzavam.

Mariana era o seu nome e a minha prenda pascal, sendo muito singela, foi durante esses anos sempre a mesma – uma “rosca”, como se dizia na altura, ou uma “regueifa” mais ou menos de um kilograma, como se diz agora.

Porém, ao longo de dezenas de anos, o que mais me tem intrigado é o facto de saber que há pessoas que têm mais que uma, conhecendo eu algumas que têm duas, três ou até mesmo quatro madrinhas.

No caso em apreço, conheço particularmente uma que profere sempre ser sua madrinha aquela que em diferentes contextos e a talhe de foice salta para a conversa, passando a ser outra consoante as ocasiões e o quadro da mudança da conversação em curso.

Sendo três as madrinhas que efectivamente teve, momentos houve em que a conversa sugeria poderem ser quatro, na medida em que também existiam sinais desse hipotético enquadramento sobre uma tia que criou e conviveu dezenas de anos com a sua verdadeira madrinha.

No entretanto, vejamos pois a história das três madrinhas dessa “rica” felizarda:

No momento do baptizado, aquela que todos queriam que o fosse não o pode ser por na hora decisiva ainda ser menor.

Contudo, naquele momento, encontrando-se presente na igreja, foi a mãe da menina preterida que acabou por ser sufragada para o devido efeito, autenticando os respectivos autos…

Só que, na mesma altura do baptizado, presente também na igreja a mulher da personalidade que foi escolhido para padrinho, esta, por direito “sucedâneo” haveria de ficar intrinsecamente ligada ao acto e à vida da sua afilhada, e mais tarde, pela sua boa postura no decurso do tempo, também foi ela que enquanto pessoa ocupou toda a vida o lugar de madrinha principal.

Das três madrinhas, só uma perdura, e por sinal aquela que tendo sido a escolhida na verdade acabou por ser a que menos o foi, tendo já falecido a verdadeira, que também não o foi na plenitude do termo e aquela que de facto sempre assumiu essa importante condição.

Sendo a mais humilde e a que sempre viveu com condições económicas mais frágeis, essa madrinha foi a que mais prendou a sua afilhada, com muitos mimos e gestos continuados de ternura, carinho e amor, nãos esquecendo, jamais, a condição especial que ganhou e que sempre guardou junto das sua afilhada.

Por conseguinte, nesta época pascal, tão importante como celebrar a Páscoa, importa relevar o papel de todas as madrinhas, sendo que no caso vertente, nunca a escolhida ou a institucionalizada foram as madrinhas principais, acabando esse papel por ser desempenhado pela mulher do padrinho escolhido… e que boa madrinha, refere constantemente a sua reconhecida afilhada!

E eu, que também tive uma madrinha – e que apesar de não gostar da Páscoa por saber e acreditar que não é possível ressuscitar quem morre –  enquanto vivo, só quero aproveitar este ensejo pascal para homenagear a minha e com ela todas as demais que permanentemente souberam enaltecer esta condição, como é o caso da madrinha principal desta crónica, que não tendo sido a escolhida sempre se comportou como tal,  dando toda a vida em prol desse estatuto todo o seu melhor.

                                                                                                              José Quintela

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