No passado dia 6 de março decorreu a lição de jubilação, a última lição do professor catedrático Moisés Lemos Martins numa sala cheia de pessoas, professores, alunos, amigos e família para o homenagear e que tiveram o privilégio de assistir, eu fui uma delas.
Conheci o Professor Moisés Lemos Martins há menos de um ano, quando o convidei para uma entrevista para o Semanário de Felgueiras. Tive acesso facilitado porque o Professor é amigo de infância do meu pai e acabei por proporcionar um reencontro entre ambos ao fim de mais de 40 anos. Tinha já ouvido algumas histórias da infância do meu pai e sabia que a amizade e admiração que nutre por Moisés Lemos Martins é imensa. A lembrança de brincadeiras de miúdos num tempo profundamente pobre, a alegria de andar de bicicleta ou jogar futebol na rua são memórias únicas.
A primeira vez que ouvi Moisés Lemos Martins foi no Lugares Secretos de Fernando Alves na TSF, confesso que fiquei maravilhada ao ouvi-lo, a sua pronúncia que é muito a nossa, a sua abrangência académica, a sua grande paixão, a sociologia, que serve para pensar, para analisar, para pensar a comunidade e a sua doçura familiar quando descreve o canto dos melros. São 4 minutos inspiradores que aconselho a ouvir, talvez retenham que “o melro macho canta a felicidade em dias e tardes de primavera, como que a celebrar a vida”. Magnifico!
Ter um pai do mundo e ser diretora de um jornal local tem-me proporcionado grandes momentos e assistir à última lição de jubilação de Moisés Lemos Martins foi uma enorme honra e um momento inesquecível e inspirador.
Por ser inspirador escrevo hoje sobre o que ouvi, registei e entendo que devo partilhar. Ouvir tão ilustres professores a descreverem um percurso tão singular, de uma pessoa ímpar foi incrível.
Não vou aqui descrever o seu percurso académico, que é extensíssimo e poderá ser consultado em várias páginas, nomeadamente no Wikipédia. Retenho algumas coisas que descrevem magnificamente o grande Moisés Lemos Martins, como o facto de ter escolhido dedicar o seu tempo à intervenção, à construção, à crença e à luta, escolhendo uma postura peculiar muitas vezes de libertação do status quo existente e estou a citar e a nota de “agradecimento e herança” e o obrigada pelo tempo que deu à universidade, pela enorme dedicação que sempre demonstrou em tudo o que fez, pelo espírito edificante, pela ousadia em arriscar, pela vontade para fazer fazer e criar condições para que se faça, pela coragem para dizer, para questionar e, muitas vezes, para contestar e contrariar, pela capacidade de nos constituir como grupo e… continuo a citar. A sua primeira obra “O Olho de Deus no Discurso Salazarista” e que resultou na sua tese de doutoramento defendida em Estrasburgo e sobre todo o seu percurso do qual falou o seu colega professor de Sociologia e amigo Jean Martin Rabot. Esplêndido!
E na sua “última lição”, Moisés de Lemos Martins recordou vários temas, vários autores com uma espontaneidade sublime e no tanto que diz acaba por deixar uma última mensagem a todos os presentes: “A concha que eu transporto às costas, qual caracol, a concha que eu habito, é, pois, feita por todos vós”. E explicou “vós é que sois o brilho do meu olhar, a promessa e a esperança que me constitui. Foi sendo habitado por vós que eu me tornei naquilo que sou. Porque a realidade é esta, fui-me construindo com os sonhos que fui tendo de vós, sonhos que sempre me habitaram pela vida fora”. Presentes esses que o aplaudiram de pé, carinhosamente e emocionados.
E a última frase que guardei e que me inspira foi “Vós sois a minha vida porque vos guardo no coração”.
Desejo que com este breve escrito e no desafio para que vão ouvir a ultima lição de Moisés Lemos Martins possam sentir-se tão inspirados como eu me senti e possamos, também alguns de nós fazer parte dos que intervém e tentam mudar o mundo e não dos que apenas ficam a assistir e delegam nos outros a difícil tarefa de intervenção.
Susana Faria