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Uma questão de linhas

É, para mim, muito difícil perceber a posição de quem defende que apenas devemos receber os imigrantes que disponham de contrato de trabalho ou aqueles que tenham “mais facilidade em interagir com os portugueses”.

Eu até compreendo que, a final, a intenção seja conferir dignidade aos imigrantes e, com isso, evitar algumas desumanidades que, tristemente, ocorrem – apesar de, por mera coincidência, claro, dessa forma, ficarem também mais bem defendidos os “interesses dos portugueses” (não falta quem aponte o exemplo dos países nórdicos, como a Suécia, onde o mundo, mesmo com imigrantes, parece idílico).

Entendo, porém, que a imigração é, em primeira linha, um assunto de humanidade. Bem sei que pode parecer (e seguramente que é) básico aquilo que vou dizer e que podem argumentar com todas as teorias da necessidade de “ordem”. No entanto, eu não consigo interiorizar o motivo pelo qual um bebé, que nasce para cá de uma linha desenhada pelo Homem, tem uns direitos e outro, que nasça para lá dessa linha, tem outros. Não interiorizo, nem aceito. Portanto, se essa criança, jovem ou adulto quer estar deste “lado”, seja qual for a razão, tem, para mim, tanto direito como eu.

Além disso, como portugueses que há 50 e 60 anos nos espalhamos pelos quatro cantos do mundo à procura de uma vida melhor e sem qualquer “papel passado”, temos um dever moral de receber quem queira, agora, procurar essa vida melhor por cá. Aliás, se tivessem obrigado esses portugueses a obter um contrato de trabalho ou que, pelo menos, falassem a língua dos lugares para onde queriam ir, desconfio que alguém tivesse ido.

De resto, medidas como aquelas servem apenas para empurrar o “problema” para outro lado. Na verdade, daquela forma não só não se trata todos de igual modo, como, pior ainda, se atinge e exclui os mais débeis entre os já débeis.

Com efeito, exigir a alguém a milhares de quilómetros de Portugal, com pouco mais que a roupa que tem no corpo, a apresentar um contrato de trabalho é, no mínimo, irrealista.
E se, ao invés, nos preocupássemos em punir quem, cá, explora os imigrantes? E se tratássemos de rapidamente os atender e legalizar (e integrar)? E se nos concentrássemos em resolver os problemas da habitação (um problema que afeta todos)?…

Naturalmente que se os mais frágeis não têm aqui lugar, o nosso mundo vai parecer muito melhor. Em todo o caso, eles vão continuar a existir “aqui ou na China” e “aqui ou na China” vão sempre ter o direito à dignidade.

Manuel Maria Machado

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