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Progressões Falaciosas

Durante doze anos – 1967/1979, (incluindo os dois que passei no cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, em Espinho, Porto, Almada, Évora, Luanda e Cabinda), trabalhei na Indústria do Calçado. Nesses anos, mas não só, habituei-me a lidar com muitas mulheres e homens que tinham imensa vaidade nas suas categorias e na sua progressão profissional. Chegarem a Cortadores, Gaspeadores ou Montadores de primeira classe constituía, não só um sonho, mas também uma luta e um trabalho fraterno nos seus quotidianos.

O normal era entrarem numa empresa em que se começava a fazer a aprendizagem durante dois anos, outros dois em Praticantes das categorias que futuramente iriam abraçar, mais quatro – dois em cada –, nas categorias de terceira e de segunda classe, até se chegar ao topo –, ou seja, à primeira classe de qualquer uma das referidas categorias.

Todavia, nem todos os trabalhadores chegavam ao topo das mesmas, porque, mais tarde, o ingresso na primeira classe, só se conseguia pela aplicação de uma extraordinária equação, onde penas uma pequena percentagem era extraída do quadro daqueles que tinham chegado e permanecido tempo de mais nas categorias de 2ª. classe.

Chegar ao topo daquelas categorias era um acto de grande empenho e dedicação, pois além da vaidade e do prestígio de que essas categorias se revestiam, também constituía o caminho certo para se chegar ao topo do vencimento inscrito nas grelhas salariais vigentes, e não raras vezes, também, para conseguirem receber valores acrescidos aos consagrados, já que era muito normal, os industriais, tal como hoje ainda sucede, não se importarem de pagar algo melhor a quem ascendia ao topo dessas categorias.

Porém, hoje em dia já não é assim.

Quiçá, num acto de repulsa, desaprovação e retaliação, por os sucessivos governos, desde há sete anos a esta parte terem assumido progressivamente o aumento do Salário Mínimo para valores mais condignos com os princípios de uma sociedade mais justa e uma vida melhor, os Industriais do Calçado, no quadro da sua associação – a APICCAPS –, passaram a aceitar muito mal, ou até passaram a recusar, como sucede desde o ano de 2019, a negociação de novas tabelas salariais, impondo e mantendo assim um quadro de salário igual para todas as categorias do sector, quando antes e durante décadas, o normal se traduzia no pagamento de valores diferenciados, de mais 10, 15, ou 20 Euros acima do Salário Mínimo para os trabalhadores de terceira, segunda e primeira classe, respectivamente.

Por conseguinte é muito grande a frustração de centenas de trabalhadores, que desde há muitos anos na categoria de primeira classe auferem salários iguais aos que se encontram em segunda e terceira, particularmente todos aqueles e aquelas que hoje se designam como Operadores de Corte e Operadores de Costura de Primeira.

Por isso, trabalhar hoje no sector do calçado não é motivador para muitas mulheres e homens, que tendo conquistado por mérito o topo nas suas categorias recebem valores iguais aos que possuem categorias inferiores, e também e nomeadamente, iguais a todos aqueles que são Praticantes com mais de 25 anos, ou tão só Praticantes com dois anos na actividade.

Assim, tal como acontece com os Professores, a progressão na carreira dos trabalhadores do calçado também não passa de uma falácia, na medida em que já não é aliciante chegar ao topo das respectivas categorias profissionais, uma vez que todas elas são contempladas com o mesmo valor salarial, a não ser, quando por excepção, este ou aquele industrial, por acto discriminatório positivo, premeia um ou mais trabalhadores com a atribuição de valores substancialmente superiores.

Se há falta de trabalhadores, é preciso promover o seu recrutamento no quadro de uma melhor perfomance do sector, protegendo-se o percurso curricular profissional até se chegar ao topo de cada uma das categorias profissionais, a par do pagamento de melhores salários, necessariamente acordados e fixados todos os anos em sede negocial, o que, ultimamente não tem acontecido.

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