No próximo sábado, dia 4 de fevereiro, pelas 17.30h será inaugurado o espaço Museu Padre Rodrigo Ferreira na sede dos escuteiros – Agrupamento 694 Margaride do CNE.
Esta iniciativa está enquadrada no âmbito das celebrações do 40º aniversário do Agrupamento 694 Margaride do CNE. No mesmo dia, às 18.30h vai ser apresentado o livro de Poesia do Chefe José Teixeira “Palavras que o vento (E)leva” seguindo-se um momento musical.
O Agrupamento de Escuteiros de Margaride foi fundado a 19 de março de 1983 e os primeiros dirigentes foram o padre Rodrigo da Costa Ferreira, Orlando Araújo, Maria Glória Freitas, Luz Maria Martins, Maria Glória Coelho, Manuel António Costa Alves, José Carlos Pinheiro e José Luís Sousa.
O Padre Rodrigo da Costa Ferreira, faleceu em 4 de fevereiro de 2017, na sua residência, com 80 anos de idade. Faz precisamente 6 anos que faleceu, no próximo sábado, dia em que será inaugurado o Museu que pretende perpetuar a memória de um Sacerdote marcante para a comunidade felgueirense, refere o agrupamento de escuteiros.
O SF entrevistou por várias ocasiões o Padre Rodrigo da Costa Ferreira. Transcrevemos a última entrevista feita em agosto de 2013.
Discreto, afável, empreendedor. O Padre Rodrigo Ferreira completa 50 anos de vida sacerdotal este domingo.
Natural de Airães, onde nasceu a 24 de dezembro de 1936, foi ordenado a 4 de agosto de 1963. Depois de dois anos e meio como Coadjutor na Paróquia de S. Gonçalo, em Amarante, foi nomeado Pároco de Bitarães, em Paredes, onde permaneceu durante durante 10 anos.
A 3 de abril de 1976 chegou a Margaride, onde esteve 30 anos, até 2005. Aqui deixou a sua marca pastoral mas também obra física: a construção da Capela da Ressurreição, as sucessivas melhorias na Igreja Matriz, a construção da sede do Agrupamento de Escuteiros de Margaride, são as mais emblemáticas. Este domingo receberá a Medalha de Ouro Municipal.
A Paróquia de Margaride, à qual dedicou 30 anos da sua vida sacerdotal, desenvolveu diversas iniciativas para lembrar as suas Bodas de Ouro Sacerdotais.
Diz-se “surpreendido” pelo gesto.
Cinquenta anos de sacerdócio é obra! Fale-nos de como tudo começou (que chamamento sentiu ou recebeu?) até aos dias de hoje.
Cinquenta anos de sacerdócio ministerial é comparável às bodas de ouro matrimoniais. Nestas juntam-se filhos, netos, outros familiares e amigos para celebrarem festivamente e darem graças a Deus. De facto, a missão de um casal cristão é fundamental para crescimento e progresso da sociedade e da Igreja. Com razão se afirma que a família cristã é a mais pequenina comunidade eclesial. A saúde da sociedade e da Igreja tem aqui a sua base.
O meu irmão João, 10 anos mais velho que eu, frequentava o seminário. Se ele seguiu esse caminho por que é que eu não o podia seguir também? Ele começou a ser para mim um modelo. Convenci-me (e hoje não penso o contrário) que, através dele, Deus me mostrava o caminho de realização.
Sente-se um sacerdote realizado?
Costuma dizer-se que um homem satisfeito é uma fonte que secou. Sempre me senti e continuo a sentir cada vez mais, em caminho de realização.
Padre Rodrigo ferreira
Durante 30 anos serviu a Paróquia de Margaride. O que mais o marcou pela negativa e pela positiva nesta experiência?
Tinha deixado um ambiente com muito calor humano e cristão (paróquias de Bitarães e de Gondalães, Paredes). Nasci no concelho de Felgueiras, mas em Margaride apenas conhecia duas pessoas da mesma família originárias de Bitarães. Não conhecia mais ninguém e mais ninguém me conhecia. Daí, uma espécie de sensação de frieza. Esta foi a maior marca pela negativa. Quanto ao que mais me marcou pela positiva, não destaco nada em particular mas a vida pastoral no seu conjunto. No decorrer dos anos o ambiente foi aquecendo e cada vez gostava mais de ser pároco de Margaride.
Alguma vez se sentiu “desmoralizado” nesta caminhada?
Vivi alguns momentos dolorosos como é natural, mas desmoralizado nunca.
Das suas obras físicas na Paróquia, qual a mais importante?
Todas eram necessárias para o bom funcionamento da pastoral. Conforme cada uma se ia concretizando, essa era a mais importante.
Faltou fazer alguma coisa?
Falta sempre alguma coisa. O atual pároco, Pe. Benjamim, já sentiu necessidade de se preocupar com esses trabalhos. Já concretizou alguns. A casa do cruzeiro -entretanto adquirida pela paróquia – oferece espaço para o dispêndio de muitas energias e não só.
E das obras humanas…faltou fazer alguma coisa? O que considera de mais relevante ter feito?
Se faltou! O trabalho pastoral nunca se acaba. Quanto mais se trabalha, mais há para fazer. A evangelização e a liturgia foram os setores em que mais se investiu. O setor da caridade foi o «parente pobre».
Viu Felgueiras e a Paróquia crescer. E as mentalidades mudaram? Para melhor ou para pior?
Que mudanças mais notou desde que chegou a Margaride até que saiu?
Desde 1976 até agora, claro que vi Felgueiras e a paróquia a crescer. As mentalidades mudaram muito e continuarão a mudar.
Quanto mais as pessoas buscam o hedonismo mais se afundam no relativismo e materialismo.
Padre Rodrigo Ferreira
Um amigo dizia-me, muito convencido, «tudo o que dá dinheiro é bom». Outros pensam: é bom tudo que dá prazer. Nesta situação, prescinde-se de Deus e dos valores que a fé transmite. Resultado: nunca como atualmente houve tanta desonestidade e crimes de toda a espécie, incluindo o homicídio. E o suicídio tornou-se muito mais frequente. Também houve mudanças para melhor: cresceu a solidariedade, o voluntarismo e o espírito comunitário. Nasceram associações culturais e desportivas. No âmbito da paróquia multiplicou-se o número de pessoas ativas na pastoral e nos diversos serviços.
Vai ser agraciado pela Paróquia e pela autarquia. Como se sente a dias de receber essa distinção?
Muito surpreendido.
Vai receber a Medalha de Ouro Municipal, um título só ao alcance de alguns. Que comentário lhe merece tal distinção?
Nunca aspirei a protagonismos nem a distinções honoríficas. Também nunca me considerei merecedor de qualquer homenagem. É uma grande surpresa.
O que pensa sobre o Papa Francisco?
É o Papa providencial para hoje.
O que se pode esperar da Igreja nos tempos de hoje tão difíceis?
A Igreja continuará a ser fermento do bem.
O relativismo que grassa no mundo moderno é motivo de preocupação?
Sem dúvida.
De quem é a culpa da crise que vivemos (económica e de valores)?
«Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra».
Os portugueses têm motivos para ter esperança num futuro melhor?
Repete-se que a esperança é a última a morrer. Eu afirmo: a esperança não morre.
A crise de vocações vai manter-se?
É provável que não cresçam em número as vocações consagradas. Mas aumentarão as vocações laicais.
Como passa o seu dia a dia atualmente?
Procuro cumprir a gratificante missão de Capelão da Misericórdia de Felgueiras; colaboro gostosamente com o meu pároco; atendo quem me procura; rezo; acompanho as notícias.
Como vê Felgueiras na atualidade?
Como a minha terra. É bom viver aqui.
O que não fez que gostaria de fazer ainda?
Não sei concretizar o que não fiz. Na etapa final do meu curriculum nada mais desejo que amar cada vez mais a Deus e ao próximo.