Neste país de moeda forte e de baixíssimos salários, são sempre os mais frágeis que pagam a factura das más decisões políticas.
Por causa de um propalado objectivo para a obtenção de contas certas, os reformados, nos anos de 2023 e 2024 encontram-se condenados a perderem rendimento, não só na sequência dos “estapafúrdios” adiantamentos concretizados no corrente ano, que nenhum reformado reivindicou, mas, também, pela aplicação dos truques para disfarçar o registo da austeridade em curso consagrada no Orçamento Geral do Estado para o ano de 2023. Austeridade que todos já sentiram e registam, menos os principais agentes políticos do governo e do país.
Ancorados numa indicação absurda de que os valores da inflação – 9,3% actuais –, não terão continuidade no ano seguinte, o governo resolveu baixar significativamente o rendimento dos reformados no ano de 2023, impondo em 2022 uma meia prestação que nenhum reformado pediu, que a nenhum serve e que a todos só trará reais prejuízos nos anos de 2023 e 2024.
Por muito que alguns apregoem que este é um governo de esquerda deveras preocupado com a pobreza crescente no país, será sempre muito difícil aceitar essa qualificação por parte de todos aqueles que, sem consulta prévia, se viram compelidos a abraçar a imposição de uma meia prestação no seu rendimento no ano de 2022 e que também já perceberam que este foi o expediente encontrado para escamotear e destruir o seu direito real e legal, antes consagrado, a um aumento de valor mais elevado nas suas reformas (8,3%) em 2023, significativamente superior ao que afinal (4,43%) irão obter.
Em Felgueiras, sendo alguns os milhares de reformados que auferem menos de 478,70 Euros mensais, – o valor do Indexante de Apoios Sociais (IAS) previsto para o ano de 2023 – e ou o montante de 554,00 Euros, – o valor mensal que no nosso país, abaixo do qual, é considerado uma situação de pobreza – valerá muitíssimo pegar apenas num caso de uma pensão de montante muito reduzido – 296,00 Euros mensais – de um antigo trabalhador do calçado, mas esse igual ou muito próximo dos valores de outros reformados do concelho, para ilustrar a verdadeira natureza deste logro e para fazer um exercício matemático suficientemente demonstrativo das implicações negativas nos valores das reformas mais baixas para os anos de 2023 e 2024.
Verificamos, então, que com este esquema, o referido reformado, que ganha apenas € 296,00 mensais, vai passar a auferir 309,17 Euros, quando, se aplicada fosse a fórmula que estava prevista para o ano de 2023, deveria passar receber € 320,56 mensais. E sendo certo que nesse contexto passaria a receber anualmente o montante de € 4.487,84, resulta claro que na decorrência de tal expediente apenas vai receber o valor de (€4.328,38 + €148,00 – valor da meia pensão adiantada no ano de 2022) – 4.476,38 Euros, apurando-se assim uma perda de rendimento real de 11,46 Euros.
E tratando-se, como já vimos de uma pensão muito baixa, mas por certo igual a muitas outras ainda mais baixas ou de valor pouco superior, como é possível aceitar como sendo de esquerda uma política que persegue como objectivo obter contas certas à custa do aumento da pobreza dos reformados?…, retirando-lhes rendimento nos anos de 2023 e 2024, neste último, por no ano antecedente – 2023 – receberem pensões de valor bastante inferior àqueles a que tinham inegável direito.
Num tempo em que, – a carne (17,5%); o peixe (14%); os lacticínios (12%); as frutas e legumes (10%); a mercearia (9%); os materiais escolares (16%); os combustíveis (17,1%) e a energia (24,5%) –, registam crescimentos brutais, é inaceitável toda e qualquer política que, ainda que se sustente o contrário, se resuma a retirar rendimento aos que menos têm, nomeadamente aos reformados, incluindo nesses todos os do nosso concelho, que tendo por tradição carreiras contributivas muitos baixas, tiveram que se reformar com pensões muito fracas, muitas das quais crescentemente diminuídas ao longo dos anos pelas políticas financeiras seguidas e quase todas actualmente com menos valor real do que aquele que lhes foi atribuído na data em que se reformaram.
Sendo cada vez mais certo que Portugal não é um paraíso para os reformados subsistirem, saibamos por agora, pelo menos rejeitar a Verdade da Mentira com que esta nova maioria absoluta nos quer brindar!
José Quintela