Uma das memórias de mais tenra idade que tenho, é da minha avó abrir a porta de casa e quase tropeçarmos nos feirantes. Seria certamente uma terça-feira e os vendedores lá desviaram levemente os panos do chão onde estavam pousadas as mercadorias. Conseguimos espaço de passagem e fomos para a feira também.
Nesses anos, em setembro, à beira do velhinho fontanário, montava-se o palco para as festas das Vitórias, e correr no palco sabia a vertigem de montanha russa.
Feira, fontanário e palco das Vitórias… são esses os meus flashes de memória de quando a praça Dr. José Joaquim Coimbra era uma simples praça de terra batida. Todas as minhas outras memórias de infância são já da praça pavimentada e ajardinada, tal como a conhecemos até há uns meses atrás.
A atual requalificação do centro da Lixa, não deixou nenhum lixense indiferente. Por um lado, os entusiastas exaltam o progresso espelhado nas áreas de lazer, na ciclovia e na exuberância do espaço pedonal, num golpe de modernidade. Por outro lado, os discordantes preocupam-se com os constrangimentos nas alterações do trânsito rodoviário, do estacionamento, no acesso ao comércio local e no corte das antigas árvores que viviam na Praça.
A minha opinião? Se eu gosto? Gosto muito, está muito bonito e o meu filho diverte-se imenso lá. As minhas questões são porém outras….
Primeira questão – Seria esta a obra prioritária para a minha terra?
Sei que estas empreitadas estão inseridas no plano de regeneração urbana da cidade da Lixa, cofinanciadas no âmbito do Portugal 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Encontrei aqui a incoerência de requalificar a Praça Dr Eduardo Freitas e a Praça Dr José Joaquim Coimbra , que até eram os espaços “mais arranjadinhos” da cidade. Por que não investir, por exemplo, no largo da igreja de Vila Cova da Lixa ou no largo da igreja de Borba de Godim, onde estão estes monumentos históricos da cidade e estão degradados?
A minha segunda questão – Nesta obra foi assegurada a segurança rodoviária?
Penso que não. Não existe nenhum desnível entre a faixa de rodagem e os passeios. A ideia, provavelmente, seria melhorar os acessos de pessoas com mobilidade reduzida (o que facilmente se consegue com rampas), mas em vez disso, o que se conseguiu foi acesso facilitado dos veículos aos passeios, podendo facilmente alguém ser atropelado. Não haver nenhum desnível entre a faixa de rodagem e os passeios, agravado por não haver contraste de cores entre estes dois pavimentos, pode constituir um risco para acidentes.
Concluo que estima-se 2 milhões de euros em obras na “sala de visitas da Lixa”, a sala que não era sofisticada nem moderna, mas que longe dos tempos de chão de terra batida, era agradável e confortável, entre o seu pavimento, canteiros e bancos de jardim clássicos. E lá se vão 2 milhões para a “sala de visitas”, muito bonita, mas pouco segura, e o que precisávamos mesmo era de obras nos “quartos”.