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UM CONFINAMENTO COMO SE TIVÉSSEMOS 6 ANOS

Lembro-me de ter 6 anos e a gaiola dos periquitos estar aberta no terraço. A minha mãe estava a lavá-la e intencionalmente assustei-os para fugirem. Um deles acabou mesmo por fugir. Eu gostava dos periquitos e fiz isso porque queria que eles fossem livres, pudessem voar. Via a gaiola como uma prisão, não seria o melhor para eles. “Porque fizeste isso?” terá perguntado perplexa a minha mãe. “Para o passarinho voar”, terei respondido. A explicação que recebi terá sido o marco que me doeu mais que qualquer palmada merecida para ter guardado memória desta tenra idade – “os periquitos viveram sempre na gaiola, não sabem procurar comida e em liberdade vão acabar por morrer”. Talvez tenha sido a primeira vez que uma das minhas verdades em nome do bem tenha sido uma tragédia de lágrimas e pranto.

Há muito aprendi que aquilo que nos aparece à frente dos olhos e nos parece uma verdade incontestável pode não o ser. É preciso ler, aprender, pensar, espírito crítico. O mais difícil será certamente assumirmos as fragilidades dos nossos próprios pontos de vista e transpormo-nos para outras perspectivas fora da caixa. Sair da teoria e avaliar a prática, o terreno, onde e como tudo se passa e às vezes “dar o braço a torcer”, não ficarmos presos aos pensamentos de um dia. Se não fosse assim, ainda hoje abriria gaiolas aos periquitos, mas como me deram uma explicação lógica, eu aprendi.

Agora, na realidade de 2020, porque é importante o (pseudo)confinamento?  Para manter certamente o distanciamento social evitando o risco de contágio.  Então, mas podemos manter a distância social sem confinamento… até porque estar “confinado” em casa não garante o distanciamento social (que é o que interessa de fato).

Na província, o que se consegue com o confinamento em muitos dos locais que as ruas estão desertas, é ter casas apinhadas de familiares e amigos, sentadinhos bem ao lado uns dos outros, a comer queijo e presunto. Onde fica o distanciamento? Ah, mas está tudo confinado…

Depois também temos o extremo oposto, onde também reina o prejuízo. Ao longo destes meses são vários os diabéticos que na consulta me revelam o seu medo de contrair Covid. E os discursos repetem-se, “desde o início da pandemia tenho tanto medo que mal saio de casa. Deixei de fazer as caminhadas habituais”, e mais à frente continuam “sabe Dra. como agora estou sempre em casa e ando mais nervosa também acabo por comer mais”. Neste padrão de consultas, constato frequentemente um aumento significativo do peso e da glicemia.

Então nestes casos específicos o confinamento, na prática, favoreceu uma descompensação da diabetes e um agravamento da obesidade, que por sua vez aumentará ainda mais o risco de complicações que estas pessoas possam vir a ter se contraírem covid. E eu digo-lhes para desconfinarem, para não ficarem o dia inteiro fechadas em casa. Que escolham uma hora com pouco movimento na rua para fazer a caminhada que tanto precisam. E se se forem a cruzar com alguém?  Então passe para o outro lado da rua, e se for um amigo ou um vizinho que mal fará ficar cinco ou dez minutos à conversa com alguém, de máscara (bem colocada), cada um no seu passeio (mantendo a distância de segurança) com responsabilidade e não num confinamento como se tivéssemos todos 6 anos e onde tudo é feito ao contrário.

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