Agora que Abril já terminou e que Maio já vai a meio, é este o tempo certo para fazer algum balanço sobre a jornada comemorativa dos cinquenta anos do 25 de Abril no concelho.
Sabendo apenas alguns de nós, que só a arte ajuda a semear e a aprofundar Abril e que a flor cor de sangue ainda gera alguma divisão e perturbação nuns tantos, importa enaltecer o valor de todos os registos institucionais realizados, sendo que, em abono da verdade, foi muito notória a ausência de uma festa popular na tarde desse dia no centro da cidade.
Neste aniversário, deveras marcante, especial e único, além dos registos que se conheceram, teria sido possível e teria sido determinante realizar outros eventos, porventura com outra distinção, mas seguramente com maior dimensão popular, ou seja, com uma festa de arromba dirigida à generalidade da população concelhia.
Desde logo, contando com uma cerimónia pública, que juntasse todos os antigos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal ainda vivos. Outrossim, os presidentes das Juntas das Freguesias em iguais circunstâncias, já que todos eles mereciam um carinho especial na passagem desta incomparável data de celebração do 25 de Abril.
Melhor só aos cem anos, mas…
Também teria sido útil, ter produzido uma Tertúlia ou uma Conferência onde se procurasse juntar o maior número de activistas ainda vivos – mais de uma dúzia por certo -, que no quadro do MDP/CDE, no concelho e para além dele, já antes do 25 de Abril se dedicavam à actividade política, reunindo clandestinamente para organizar a elaboração e a difusão de comunicados contra o antigo regime e pelo fim da Guerra Colonial, e aos quais se devem, quer o êxito da nomeação da Comissão Administrativa para a Câmara Municipal, presidida pelo saudoso Dr. Machado de Matos, quer a exoneração dos antigos Regedores, implantando durante várias semanas a fio, sobretudo aos Domingos, as respectivas Comissões Administrativas em quase todas as freguesias do concelho. Mulheres e homens que, também no ano de 1973, antes das eleições de Outubro, se encontraram no Porto para apoiar as candidaturas do MDP/CDE e da CEUD contra o regime e depois de, organizadamente e ao lado de Machado de Matos, terem participado activamente na sede dos Bombeiros de Lousada, num comício do MDP/CDE, onde se lutou, e de que maneira, pelo fim da Ditadura e pela instauração de um Regime Democrático, como solução primeira para acabar com a Guerra Colonial, o qual terminou com uma cena de agressões por parte dos militares da GNR presentes, sobretudo dirigidas às personalidades mais conhecidas – Macedo Varela e Berta Monteiro do Porto, Arnaldo Mesquita de Lousada e Machado de Matos e alguns outros de Felgueiras, tendo eu próprio sido compelido a saltar de uma janela, onde depois disso, julgando-me já em piso seguro, acabar por apanhar uma coronhada, felizmente numa zona corporal onde só ficou uma monumental pisadela.
E neste ano em que se continuará a celebrar o cinquentenário do 25 de Abril, havendo também espaço para alguns actos celebrativos fechados e bafientos que aconteceram, foi pena não se ter aproveitado o ensejo para se realizar uma verdadeira festa popular, juntando os actuais presidentes da Câmara, da Assembleia Municipal e das Juntas/Uniões das Freguesias a todos os autarcas vivos, que depois do 25 de Abril exerceram iguais funções, mormente e também num apontamento de romagem singela ao quartel dos Bombeiros de Felgueiras.
Com efeito, também teria sido importante, juntar na mesma cerimónia todos aqueles que já foram Deputados da Nação, um à Assembleia Constituinte – Artur Barros -, e todos os demais sucessórios à Assembleia da República.
Mas o mais importante, não desmerecendo tudo o que afinal se fez, foi o que faltou fazer, nomeadamente uma festa de cariz popular na Praça da República, onde na tarde desse dia só um vazio muito grande e por demais friorento marcou assinalável presença.
Neste cinquentenário do 25 de Abril, quando de tarde deambulava pelas ruas da cidade, deparei-me com um imenso número de felgueirenses que se queixavam relativamente ao facto de na tarde desse dia não haver nada na cidade, os quais me ofereceram desde então o mote para pensar neste escrito, sobretudo para a partir destas linhas proclamar; que quem tinha a obrigação de realizar um programa mais global, mais condigno com esta efeméride e verdadeiramente virado para a população não o soube fazer, apenas e a final, porque como é obvio, de ABRIL NÃO É QUEM QUER!
José Quintela
Privacy Overview
This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.