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Paixão infinita: a jornada de Alzira Silva, cabeleireira em Torrados há 38 anos

Alzira Silva é natural de Torrados, tem 56 anos, sendo cabeleireira há 38. Aos 18 anos realizou o sonho, abrindo o salão “Cabeleireira Zirita” na terra que a viu nascer e que jamais trocará.

O poder das bonecas não está escrito nos livros, mas surge nas memórias de infância de Alzira Silva. Em tenra idade, foi nos cabelos entrelaçados de uma boneca oferecida pelo pai que encontrou o sonho, um sonho que lhe deu a vida e que continua a colocar tesouras e secadores nas mãos da felgueirense. Humilde, persistente e lutadora, com 14 anos conseguiu o seu primeiro contacto com este ofício, tendo mais tarde se formado na cidade Invicta no Salão do Sr. Adriano, um cabeleireiro reconhecido na época, que lhe transmitiu tudo o que sabia. Foi este quem impulsionou o sonho da jovem menina, que com 18 anos abriu portas com a vontade de fazer o que sempre quis, deixando em Famalicão os pais e familiares que tinham partido da terra natal para cuidar de uma quinta. 38 anos depois as portas do salão Zirita continuam a abrir-se e a paixão pela profissão continua intacta. A cabeleireira esteve à conversa com o SF, trazendo a sua história de vida para mais uma rúbrica sobre as nossas gentes.

Sempre quis ser cabeleireira? Quando é que reconheceu essa vontade?
Quando era pequena, tinha os meus seis anos, o meu pai deu-me uma boneca, eu era apaixonada pelas trancinhas dela, já tinha aquele bichinho de mexer no cabelo, fazer penteados, deixar as trancinhas muito perfeitinhas. Creio que foi aí que percebi que queria ser cabeleireira, eu na verdade nunca sonhei com outra profissão. O meu pai queria que que nós tirássemos um curso, a minha mãe achava que ser cabeleireira não era nada. Um dia voltei a insistir no assunto, cheguei a casa da escola e disse ao meu pai que não queria estudar mais. Contra a vontade da minha mãe, o meu pai levou-me a uma cabeleireira lá na aldeia, em Famalicão e pediu-lhe se me dava umas orientações de cabeleireira para depois poder tirar o curso e assim foi. Durante três anos estive como aprendiz no Salão do Sr. Adriano, no Porto, onde aprendi muitas das coisas que ainda hoje aplico no meu dia a dia, ele era espetacular, ensinou-me tudo o que sabia.

Tendo em conta que estava a viver em Famalicão, por que escolher abrir o salão em Torrados?
Eu ainda tive a ideia de abrir um salão em Famalicão, mas lá já existiam muitos cabeleireiros. Como os meus pais tinham uma casa em Torrados que não estava a ser habitada, deu-me um flash de abrir aqui o salão, até porque não existiam muitas cabeleireiras aqui na altura. O meu pai reagiu a esta ideia de forma preocupada, até porque eu tinha 18 anos e não tinha como voltar a Famalicão todos os dias. Neste momento um dos meus tios foi essencial para que o meu sonho se cumprisse, disponibilizando-se para cuidar de mim. O meu pai aceitou esta proposta e sem saber, deu-me a vida, construiu-me o salão e então o sonho acabou por cumprir-se em junho de 1986. Só tenho a agradecer às gentes desta terra que foram e são tudo para mim e me acolheram a mim e à minha irmã.

O que a apaixona no seu trabalho?
Tudo, [sorri] o próprio momento em que coloco a cliente na rampa para lavar o seu cabelo, já me apaixona, mas acho que o corte é o que o que mais me entusiasma. Dá-me tanto orgulho pegar numa tesoura e tornar o pedido da cliente realidade, a tesoura para mim é tudo. Não há nada que mais me apaixone, eu sempre quis ser cabeleira e hei de morrer cabeleireira!

Quais são as dificuldades que enfrenta no seu dia a dia?
Até hoje, uma das maiores dificuldades que enfrentei foi a covid, não podia trabalhar, as pessoas não podiam vir ao salão e isso deixou-me muito triste. Em tantos anos de trabalho este foi o único momento em que parei, nem mesmo quando tive cancro parei assim. Foi quase como se me tirarem o meu cantinho, eu adoro aquele lugar.

No ano passado, com 55 anos, teve cancro. Como enfrentou essa situação? E como conseguiu manter-se a trabalhar?
Quando ouvi aquelas palavras do médico que me acompanhou, a parte de cabeleireira ficou de parte, só conseguia pensar no meu filho e na minha família. Eu sabia que tinha de ser muito forte. Foi também essa força que o meu filho, irmãs e toda a família me deram, mas também os meus clientes a quem estou muito grata pelo apoio, carinho e compreessão neste momento tão difícil, não tenho palavras para descrever. O salão no fundo foi o meu refúgio, nunca parei por completo, nem mesmo entre tratamentos de radioterapia e quimioterapia.

Quem são os seus braços direitos, no trabalho e na vida?
No trabalho sem dúvida a minha irmã Clara que trabalha comigo no salão e que é quase como uma filha para mim, estou-lhe tão grata pelo cuidado que tem e teve comigo, não há palavras para descrever o quão agradecida estou. Na vida, o meu filho a quem devo tudo, as minhas irmãs, sobrinha, família, amigos e sem dúvida os meus clientes.

Leva quase uma vida como cabeleireira, o que continua a apaixoná-la na profissão?
Isso é algo que não consigo explicar. Tenho um amor tão grande à minha profissão, não quero e nunca quis ser outra coisa. Até mesmo quando estava no IPO o meu pensamento estava nas tesouras e nos secadores, essencialmente pela paixão tão grande que tenho pela minha profissão. Quando é paixão não se explica, sente-se.

Rui Morais

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