A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou a existência de mais um caso de sarampo, na região norte do país. Trata-se de uma mulher de 29 anos, clinicamente estável, e fora do período de infecciosidade.
Desde 11 de janeiro, que este foi o nono caso de sarampo, confirmado em Portugal, desses, seis foram detetados na região norte do país e os restantes na região de Lisboa e Vale do Tejo.
A mulher, com história de viagem ao estrangeiro no período de incubação da doença, não terá ligações com os casos confirmados até esta altura.
A DGS informa, em comunicado, o reforço da “importância da vacinação” contra o sarampo “de acordo com o Programa Nacional de Vacinação”, que recomenda duas doses para crianças e adultos nascidos após 1970. Assinala ainda que, em colaboração com o Insa e os profissionais de saúde, está a acompanhar “a evolução da situação de acordo com o previsto no Programa Nacional da Eliminação do Sarampo, com enfoque na confirmação de casos suspeitos e rastreio de contactos”.
O número de pessoas com a doença está a aumentar na Europa, em grande parte devido à descida da cobertura vacinal. As autoridades de saúde alertam para um possível surto de sarampo esta primavera.
A DGS aconselha a ligar o número de telefone 808 24 24 24 (SNS 24) em caso de sinais ou sintomas sugestivos de sarampo, como febre e mal-estar, seguido de corrimento nasal, conjuntivite e tosse, e manchas no corpo.
As manchas de Koplik são indicativas de infeção por sarampo e surgem 1 a 2 dias antes do exantema.”
OMS pede “resposta urgente”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu uma resposta urgente contra o efeito que o surto de sarampo no continente pode ter em milhões de crianças, depois de registar o mais elevado número de casos em anos.
A OMS alerta que, “os últimos números de 2023 representam um rápido aumento em comparação com os três anos anteriores e um risco para qualquer pessoa na região que não esteja protegida. São necessários esforços prolongados para prever que os casos continuem a aumentar em 2024”.
Quase metade dos casos registados correspondem a crianças menores de cinco anos.
A OMS explica que, “à medida que o vírus continua a espalhar-se em muitas partes da região, a deteção atempada e uma resposta rápida são decisivas para evitar uma nova escalada e garantir o progresso no sentido da eliminação desta doença altamente contagiosa”.
O SF falou com Joana Sampaio, médica de clínica geral para esclarecer algumas dúvidas sobre a doença.
Joana Sampaio, tem 37 anos, e é natural de Felgueiras. É mestre em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e especialista em MGF (Medicina Geral e Familiar), na ULS (Unidade Local de Saúde) de Matosinhos. Joana Sampaio é também pós-graduada em geriatria pela Universidade do Porto e trabalha, desde 2016, na ULS Alto Ave- Guimarães.
Para quem não sabe, o que é o sarampo?
O sarampo é uma doença infeciosa, altamente contagiosa, causada pelo vírus do sarampo, que afeta principalmente crianças (mas também pode ocorrer em adultos, principalmente se não imunizados), com o potencial de causar complicações graves, como pneumonia, encefalite e mesmo a morte.
O vírus infeta o sistema respiratório superior primeiro (nariz, garganta, etc), acabando eventualmente por se disseminar para outras partes do corpo através da corrente sanguínea, tornando-se uma doença generalizada. Transmite-se, sobretudo, por via aérea sob forma de aerossóis em contacto direto com secreções nasais ou faríngeas de indivíduos infetados ou, mais raro, por contacto com superfícies ou objetos contaminados com secreções.
A forma mais eficaz de prevenção do sarampo é através da vacinação. Esta vacina é gratuita e está incluída no Programa Nacional de Vacinação em vigor”, Joana Sampaio
A prevenção só é possível através da vacinação?
Sim, a forma mais eficaz de prevenção do sarampo é através da vacinação. Esta vacina é gratuita e está incluída no Programa Nacional de Vacinação em vigor.
Quais são os sinais e sintomas do sarampo?
Sendo uma infeção provocada por um vírus, existem sinais e sintomas semelhantes a outras infeções por vírus diferentes, como o da gripe, por exemplo. Para ser considerado um caso possível de sarampo, é necessário que se cumpram os critérios clínicos, que se passam a enumerar: febre alta e exantema maculopapular caraterístico e, pelo menos, um dos seguintes três sintomas, como tosse ou rinite ou conjuntivite. As manchas de Koplik são indicativas de infeção por sarampo e surgem 1 a 2 dias antes do exantema.
Qual o período de contágio?
Estima-se que o período de incubação do vírus seja de 10 a 12 dias, podendo variar entre 7 a 21 dias. Habitualmente, os adultos têm um período de incubação mais longo do que as crianças. O contágio dá-se de 4 dias antes até 4 dias depois do aparecimento do exantema, sendo a transmissão mínima após o 2º dia.
A vacinação contra o sarampo pode acontecer em qualquer idade?
À exceção de crianças com idade inferior a 6 meses de idade, para as quais a vacina contra o sarampo (rubéola e parotidite epidémica) não está recomendada, sim, a vacinação contra o sarampo pode acontecer em qualquer idade, desde que a pessoa não tenha contraindicação médica para a mesma.
Tem surgido, no Norte, um aumento de casos associados a esta doença. A falta de vacinação pode ser o principal fator?
Sem dúvida. Sabemos que a maioria dos países europeus, ao contrário de Portugal, têm vacinação completa inferior ao limiar mínimo dos 95%, o que pode justificar os casos crescentes por todo o continente europeu.
Como se pode combater este tipo de casos?
O aumento dos casos de sarampo em toda a Europa deve ser um alerta para que todos os países maximizem os esforços para atingir e manter uma elevada cobertura vacinal contra a doença e aumento da vigilância nos cuidados de saúde.
Em Portugal poderá ocorrer uma grande epidemia de sarampo?
Poderá ser ainda cedo para concluir algo sobre essa possibilidade. O Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças prevê que os casos de sarampo continuem a aumentar em todo o continente europeu ao longo dos próximos meses. Durante um surto, algumas pessoas vacinadas poderão contrair a doença, ainda que de forma mais ligeira e com menor risco clínico e menor probabilidade de contágio.