Saíram recentemente os resultados de um inquérito que pretendia obter respostas sobre
as condições de saúde mental dos estudantes de ensino superior em Portugal.
Em estatísticas preocupantes, constata-se que cerca de metade (48%) dos estudantes mostra sintomas de problemas do foro psicológico, entre eles depressão, ansiedade e perda de controlo.
De repente, diversos meios de comunicação social tiraram das gavetas termos como
burnout académico e sintomatologia e escreveram-se notícias sobre o estado mental dos
estudantes.
Para aparente choque de muitos, as estatísticas apresentadas pelo inquérito da RYSE e da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia, espelham a realidade, e as teorias para justificar este flagelo alargado abundam. O que não sobeja é a procura pela raiz do problema.
Não seria este quadro muito menos chocante se olhássemos para a realidade da vida
estudantil?
Aqueles que se candidataram ao ensino superior e prosseguiram os estudos, fazem-no assombrados pelas consequências do Processo de Bolonha; pela crise da habitação – que não discrimina e dispara para valores absurdos os preços dos poucos quartos disponíveis para estudantes; pelas despesas mensais que sobrecarregam não só os estudantes, mas os seus agregados familiares; e pelas propinas, que nunca desapareceram e exigem um gasto anual de quase 700€ aos estudantes de licenciatura (sem mencionar os 1500€ anuais das propinas de mestrado e os 2750€ das dos doutoramentos), valores que se agravam para os estudantes internacionais.
Não fosse isto suficiente, vivem sob a constante pressão de obter resultados não só satisfatórios, mas que se destaquem e o medo, que se torna cada vez mais real, de não conseguirem entrar no mercado de trabalho, pelo menos não nas respetivas áreas de formação, e de terem de se sujeitar a salários insatisfatórios e ao decrescente poder de compra que isso implica, ou a procurar soluções em países que compensem a ginástica económica e o desgaste mental que significa estudar atualmente no ensino superior em Portugal.
Vale salientar que, graças às rendas descomunais, à inflação, às propinas e aos salários
que não as acompanham, estamos a assistir a uma elitização do ensino superior, que se
refletirá num fosso de classes entre aqueles que têm condições económicas para prosseguir os estudos e os que são forçados a trabalhar e, portanto, a adiar ou a pôr termo aos seus objetivos de conseguir uma formação académica.
Ainda assim, os estudantes continuam a fazer um esforço hercúleo para se manterem no
ensino superior, não sendo, por isso, chocante que mostrem sinais de problemas psicológicos.
O que não pode nunca acontecer é permitir-se que esta realidade seja varrida
e sazonalmente transformada em títulos de jornais, sem que nunca se resolvam os motivos
de base que os causam.
Carolina Moreira