“O meu governo tudo fará para impedir a privatização da TAP”. Quem disse isto é hoje o Primeiro Ministro de Portugal, que, ao contrário do que antes defendia, se prepara agora para fazer o mesmo que fez Passos Coelho no ano de 2015.
Depois de o Estado ter injectado na TAP 3.200 mil milhões de euros para que a empresa não deixasse de ser um importante activo do país; da redução de um grande número de trabalhadores e do corte de salários para aqueles que nela permaneceram, e do facto de, presentemente, a mesma se encontrar a dar lucro, não deixa de causar alguma perplexidade querer entregar ao privado uma empresa que é deveras decisiva para a estratégia do país.
Manter a posição que o Estado deve ter e manter na TAP não se compadece com o caminho que está a ser desenhado, razão pela qual não ser esta solução a melhor solução.
Se continua a ser essencial termos hoje a TAP, como no passado foi termos as caravelas que fizeram os descobrimentos, como entender a urgência actual deste governo para vender uma empresa tão importante para a economia do país, que dá lucro e que tantos sinais tem dado de estar em crescendo e em crescimento económico?
Não havendo nenhuma razão de fundo para vender apressadamente este importante património comum, que é nosso e é bom, é confrangedor ver este governo de maioria absoluta a optar por uma venda directa no mesmo formato que utilizou Passos Coelho no ano de 2015, sustentando agora ser muito bom o que antes com muita justeza rejeitou.
Constituindo-se, desde sempre, como um activo muito importante para o desenvolvimento económico do país, seria natural que a TAP continuasse a ser nossa!…, não entregando ao investimento privado a carne de lombo guardando para os portugueses – aqueles que já lá meteram 3.200 mil milhões – apenas os ossos.
Mas o mais paradoxal, reside na posição de Miguel Pinto Luz, o vice-presidente do PSD, que tendo sido à época um dos responsáveis pela privatização, vem agora apresentar cartão vermelho ao actual processo de reprivatização, acusando o actual governo de ter copiado o velho processo do PSD, não vendo nem querendo ver que entre os dois pouco ou nada irá mudar.
Havendo nesta conjuntura, amplos sinais de crescimento da Companhia e do Emprego, que melhores sinais poderemos querer e esperar do investimento privado para melhorar o que já é bom e que por razões do interesse nacional, a maioria de capital, deveria continuar nas mãos do estado?
Entregar, pelo menos – mas certamente vais ser muito mais – 50% do Capital da TAP aos investidores privados não faz nenhum sentido e pior será se se mantiver a abertura para valores mais elevados, designadamente de 60, 70 ou 80 por cento, mas pior ainda, se o processo acabar encerrado com a totalização do capital nas mãos dos investidores privados, exceptuando os cinco por cento consignados para os trabalhadores.
Sustentando sobre este processo tudo e o seu contrário, António Costa, que no ano de 2015, e bem, se opôs à privatização executada pelo governo de Passos Coelho, não se encontra agora a defender a melhor solução para o futuro da TAP, e se atentarmos bem nos desígnios do presente processo, só poderemos concluir como fez recentemente o Bloco de Esquerda, ou seja o que eu aqui subscrevo e muito baixinho balbucio: UMA VERGONHA!
José Quintela