A atual crise que assola a Indústria de Calçado, Componentes, Artigos em Pele e seus sucedâneos é mais do que um desafio setorial, é um alerta para todo o país.
A falta de encomendas e o iminente aumento do desemprego representam não apenas uma ameaça económica, mas também um reflexo claro de questões mais amplas que precisamos urgentemente abordar.
Um dos sintomas mais preocupantes desta crise é a falta de encomendas que atinge empresas de todos os tamanhos. Isso não é apenas um problema de gestão ou de estratégia de mercado, é uma indicação de mudanças profundas no comportamento do consumidor e nas dinâmicas comerciais globais.
Os consumidores, cada vez mais cautelosos com os seus gastos devido à incerteza económica, estão a reduzir nas compras, especialmente de produtos não essenciais como o calçado. Esta mudança no comportamento do consumidor cria um efeito dominó, levando à acumulação de stocks não vendidos e, em última instância, à redução da produção e ao possível encerramento de empresas.
Além disso, a crise na Ucrânia e o aumento brutal dos preços das matérias-primas são como ventos fortes que empurram ainda mais o barco da indústria de calçado em direção ao oceano tempestuoso da instabilidade económica.
As tensões geopolíticas resultantes da guerra na Ucrânia perturbaram gravemente as cadeias de abastecimento globais, tornando o processo de produção mais caro e complexo.
O aumento dos preços das matérias-primas essenciais, uma consequência direta dessas tensões, tem pressionado ainda mais as margens de lucro das empresas.
Mas qual é o impacto disso para o nosso país?
As consequências são graves e diversas. Primeiro e mais imediato, enfrentaremos um aumento no desemprego.
Com empresas a fechar ou a reduzir drasticamente as suas produções devido à falta de encomendas, muitos trabalhadores poderão ver os seus contratos suspensos ou colocados na difícil situação de perder o emprego.
Isso não afeta apenas o sustento dessas famílias, mas também tem um impacto negativo na receita fiscal do governo devido à diminuição de impostos arrecadados.
Além disso, esta crise representa uma ameaça para a estabilidade social. O possível desemprego em massa pode levar ao aumento da pobreza, ao declínio da qualidade de vida e até mesmo a distúrbios civis. O tecido social do nosso país está intrinsecamente ligado à saúde económica e à prosperidade dos cidadãos.
Não assobiem para o lado nem acreditem nas maravilhas que certas associações e certos grupos económicos têm andado a apregoar. A crise existe e terá de ser ultrapassada tal como tantas outras o foram, com resiliência.
Diante desse cenário preocupante, é crucial que o governo, as empresas e a sociedade como um todo se unam para encontrar soluções.
Isso inclui investir em programas de qualificação profissional para os trabalhadores afetados, implementar políticas que estimulem a procura do consumidor e facilitar o acesso ao crédito para que as empresas enfrentem esta tempestade económica.
Estamos diante de um momento decisivo para a nossa economia e para a nossa sociedade. A forma como enfrentaremos essa crise não moldará apenas o futuro da indústria de calçado, mas também irá definir o curso da economia no nosso país nos próximos anos.
É hora de agir com determinação, visão e solidariedade para superar os desafios e construir um futuro mais estável e próspero para todos.
Jorge Miguel Neves