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O ano dos professores

É já muito antiga a luta dos professores, porque, também muito antiga, é a falta de consideração por parte dos sucessivos governos, quer pela sua condição enquanto classe, quer pelo papel primordial que desempenham na construção de uma Escola Pública de qualidade.

Por isso, todos os anos, de uma ou de outra forma os encontramos, com igual empenho e perseverança, a lutarem por melhores condições de vida e de trabalho, sendo que, desde outubro do ano passado, e agora no início deste ano, numa atitude mais ofensiva e mais determinada, sem pararem de lutar, terem conseguido juntar à sua luta todos os outros componentes da realidade escolar – Assistentes Técnicos, Assistentes Auxiliares, Alunos e Pais.

Roubados no tempo de serviço; com uma situação de mobilidade interna que tarda em resolver-se; com as carreiras estagnadas; com ordenados baixos e com escolas degradadas; com falta de pessoal auxiliar e com a presente ameaça de passarem a contar com uma gestão municipal – a Intermunicipal já existe – da distribuição dos docentes por escola, que ficariam a cargo dos Conselhos Locais e Directores, os professores só têm que endurecer a sua luta, não permitindo, contudo, que dela se apropriem agentes e forças populistas, sejam elas de índole político ou sindical, como já se depreende por alguns indicadores em desenvolvimento no terreno…

Na verdade, numa Escola Pública de qualidade, não podem continuar a haver professores com 40, 45 e mais anos na condição de “contratados”, nem professores recém-licenciados no desemprego. Mas, também, não é mais possível manter uma lista nacional, onde, pessoas do Algarve são “despachados” para o Porto, Braga, Vila Real e Bragança, ou vice-versa, e pior ainda, quando esses mesmos recém-licenciados são recrutados por trinta ou 90 dias em regime de substituição, com elevados custos profissionais e sem qualquer perspectiva de futuro.

Tendo-me já acontecido, no seio familiar mais directo um caso desses, em que uma professora com mestrado foi recrutada para dar aulas em Faro por um período de 30 dias em regime de substituição, onde as rendas com habitação, estrada e alimentação seriam pelo menos o dobro do ordenado que iria auferir, é fácil de perceber o drama dos professores que enquadrados numa lista anual arcaica se encontram sistematicamente sujeitos a grandes desconfortos, enormes prejuízos e permanente incerteza.

Daí a importância da sua unidade, da sua organização e da sua luta, e dentro desta, da solidariedade do país, não só pela retoma da sua dignidade profissional, mas também pela importância dos pais ao lado de uma luta que é decisiva para o futuro dos seus filhos.

Os professores, que desde há muitos anos a esta parte têm sido muito desrespeitados pelos governantes, precisam de uma sociedade que os acarinhe e não de um qualquer ministro da educação que, ao contrário de os respeitar os tratam como indigentes mentais, como, de resto, recentemente aconteceu, quando o actual ministro da Educação João Costa declarou que os “milhares de professores presentes na manifestação do dia 17 de Dezembro se deixaram manipular pelo sindicalista André Pestana e por alegadas mentiras postas a circular nas redes sociais”!…

Se não percebermos que os professores são uma elite intelectual no país e que sem a sua profissão não haveriam muitas outras, é tempo de se começar a perceber que os seus problemas carecem de resolução, e que a sua luta, sendo justíssima, só tem de continuar, já que a mesma será determinante para se fazer justiça e para que o ano de 2023 seja o seu ano, mediante a conquista de grandiosas vitórias.

E é agora, ou nunca!

José Quintela

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