O nosso convidado desta edição nasceu no seio de uma família em que o acordeão era o menino da casa. Alegrava, e ainda alegra, os jantares de família e os convívios com os amigos. Foi o pai que lhe transmitiu “o bichinho” pela música, “bichinho” esse que se foi desenvolvendo e que o transformou no Ruizinho do Acordeão.
Quando era pequeno, olhava para o acordeão como um instrumento de brincar. Mexia nas teclas e gostava do barulho que elas faziam. A verdade é que nunca imaginou que fosse um instrumento tão versátil. Com o passar do tempo e com a sua ida para a Universidade, começou a olhar com “olhos de ver” e com muita seriedade para o instrumento, pois achou que ali podia estar o seu futuro.
Os seus amigos sempre lhe disseram, nos tempos de escola, que ele devia prosseguir no mundo artístico porque reunia os requisitos necessários. Alegrava as pessoas e podia levar algo diferente à sociedade. E isso era o mais importante.
Começou a treinar, a aperfeiçoar alguns apontamentos que eram necessários para se lançar no mundo profissional e as coisas começaram a evoluir.
No meio de toda a história, o pai foi o “clique” no sentido de “Tens aqui o instrumento. Tens asas. Voa!”. O irmão de Rui também toca acordeão e percebe muito bem do instrumento, mas nem sequer quis enveredar pelo mesmo caminho. Rui sente que foi uma mistura de emoções e de opiniões de amigos dele que lhe deram força para continuar. Teve a autoconsciência de perceber que aquele instrumento iria alegrar e realizar aquilo que ele gostava, que é a produção da sonoridade do instrumento.
Contou-nos que sempre tocou pelo ouvido, nunca teve aulas profissionais de acordeão. O pai tocava algumas músicas lá em casa e ele achou por bem ir descobrindo aos poucos o som que cada tecla do acordeão produzia. Treinava diariamente até sentir que já dominava o instrumento e confessa que foram precisas mesmo muitas horas.
A música popular tradicional portuguesa esteve sempre presente na sua vida. Quando era pequeno, ia para os bailes e festas da aldeia com os pais e já se revia nos artistas que estavam nessas festas. Os pais estão ligados à agricultura e quando os ajudava no campo, passava o tempo todo a cantar e a imitar os artistas que tinha visto.
Ao longo do tempo foi aperfeiçoando a parte vocal, tendo algumas aulas de canto. Contou que o jogo do diafragma/ respiração é muito importante porque o instrumento pesa 14 quilos e não é fácil conjugar o canto, dança e o peso do acordeão. Quando há espetáculos com banda, em que tem as bailarinas e tem de interagir com elas, tem de ter muita noção daquilo que está a fazer em tempo real. As letras das músicas não podem ser esquecidas, as pessoas têm de ser animadas, há que quebrar o gelo com alguma criatividade e alguma brincadeira… todo esse jogo de cintura tem de acontecer durante as duas horas de espetáculo. Quem está na plateia não pode ouvir trémulo vocal, a voz tem que sair minimamente limpa, porque mesmo sendo música tradicional portuguesa, esta não deve ser desvalorizada. Na sua opinião, muitas pessoas pensam que este género musical não tem tanta importância, mas a verdade é que faz parte da nossa cultura, das nossas raízes e é algo que os portugueses amam. Em todas as festas que participa, de norte a sul do país, as pessoas admiram o instrumento, admiram o registo musical e as pessoas dançam e sorriem, o que só demonstra que gostam daquele estilo. Rui frisou que a música popular portuguesa faz parte de nós!
A banda tem dez elementos, entre bailarinos e músicos e mais sete da equipa técnica, desde fotografia, multimédia, iluminação, etc.
Quando questionado se alguma vez tinha pensado, nos tempos de infância, em vir a pisar um palco televisivo ou numa festa do concelho, Rui explicou que tudo foi surgindo. As suas aspirações estiveram sempre muito bem pensadas e delineadas e não se mostra surpreendido por ter chegado até aqui, por culpa do seu esforço, trabalho árduo e dedicação ao projeto. Dia após dia ele certifica-se que o seu projeto veio para ficar! Sabe que, também por ser jovem, pode trazer rejuvenescimento à música popular portuguesa. Admite que todas as conversas que tem com o seu produtor musical e com a editora, a Vidisco – que para ele tem feito um trabalho fantástico – é mesmo acerca do facto de saber que não pode mudar aquilo que é a música tradicional, mas pode acrescentar-lhe algo diferente e dar o seu próprio estilo. Canas verdes, viras, malhões, são já tocados por muitos grupos e, por isso, Rui prefere acrescentar e trazer, por exemplo, ideias mexicanas, latinas, kuduro… tendo sempre em atenção os pedidos/feedbacks dos fãs e pessoas próximas acerca dos estilos musicais. Rui afirma que o mais fácil é seguir aquilo que os outros já fazem, mas ele prefere acrescentar uma “pitada” de juventude, sem nunca sair demasiado do registo.
Ruizinho do Acordeão lançou um álbum editado, de seu nome “O Poder das Mulheres”, que se direciona para a fortaleza e o crescimento que a mulher tem adquirido na sociedade, assim como a sua valorização e importância com Ser na vida. Este álbum tem temas dedicados exclusivamente às mulheres. Título surge de jantares e convívios com amigos e da sua própria perceção acerca do papel da mulher na sociedade, cada vez mais vincado e a ganhar o seu espaço.
No final deste ano, Rui está a organizar um fantástico Jantar de Natal, no dia 17 de dezembro, num restaurante local. Contará com a participação do Ruizinho e da sua banda e outros convidados muito especiais. Estão todos convidados a dar um pezinho de dança pela noite fora, ao som da melhor música portuguesa.
A nós, resta desejar todo o sucesso ao Ruizinho do Acordeão e esperar que continue a alegrar as pessoas pelo país fora!
Elsa Ferreira