“Revolucionei
o comércio em
Felgueiras”
“Se tu sentes que tens o mínimo de capacidade, torna o teu sonho numa verdadeira realidade”. Esta frase corresponde ao espírito empreendedor de Adriano Quintanilha.
Foi inspirada em si e está inscrita, em destaque, à entrada da sua fábrica. Com 67 anos de idade, o empresário, que nasceu em Várzea e diz ser felgueirense com muito orgulho, recebeu o SF para uma longa entrevista, onde explica o seu percurso pessoal e profissional, bem como o seu sucesso no desporto, especialmente no ciclismo, a sua paixão. Nasceu no seio de uma família humilde, mas desde cedo revelou muita ambição. Adriano Teixeira de Sousa, de seu nome completo, começou a trabalhar cedo, mas o seu sonho era ser um grande comerciante. “Quando me tornei comerciante, nada me conseguia parar, trabalhava de noite e de dia, para comprar um Ferrari”, lê-se numa inscrição colocada num dos anexos da sua residência. Como feirante, admite, ganhou dinheiro suficiente para comprar carros de alta cilindrada. Foi presidente do FC Felgueiras,
onde o seu plano era colocar o clube ao mais alto nível. Mais tarde, criou a primeira equipa de ciclismo, uma modalidade pela qual recentemente, numa parceria com o FC Porto, venceu cinco Voltas a Portugal e por isso recebeu dois Dragões de Ouro.
Cresceu no seio de uma família felgueirense. Como descreve a sua família?
Cresci no seio de uma família com muitas dificuldades, muito humilde e muito séria. Era uma família de trabalho… Até aos meus nove, dez anos tivemos grandes dificuldades. Sentia alguns problemas vividos pelos meus pais. Comecei a trabalhar com dez anos, nas obras, e a partir daí a minha mãe começou a trabalhar nas feiras e nos mercados, a vender umas coisas, tornando-se uma comerciante. A partir desse momento, a nossa vida melhorou um bocadinho. A minha falecida avó já era comerciante, vendia erva de semente. Atualmente nem se fala nisso, mas à época era um negócio muito bom, embora fosse mais propício nos meses de julho e agosto. Nessa fase a minha mãe ia com a minha avó e recordo que elas ganhavam algum dinheiro. Salvavam o ano. Comecei a trabalhar cedo, a minha mãe andava pelas feiras e o meu pai gostava pouco de trabalhar, mas ia fazendo alguma coisa. Mas poucos dias (risos). Assim, conseguimos ter uma vida limpinha. Quando completei 18 anos, os meus pais pagaram-me a carta de condução. Aos 19 fui cumprir o serviço militar, durante 10 meses. Portanto, trabalhei na construção civil até aos 22 anos com uma ligeira interrupção. A partir dessa idade comecei o negócio nas feiras. Aí acabaram os problemas. Foi sempre a crescer até aos meus 28 anos. Ainda era comerciante nas feiras e montei a primeira loja na Avenida das Tomadas, que foi um grande sucesso. Trabalhei sempre só com vestuário.
“Comecei a trabalhar
com dez anos nas obras”
A primeira loja foi a Casa Quintanilha na Avenida das Tomadas. Como surge a marca W52?
A empresa continua a ser Casa Quintanilha e tenho 18 lojas na Casa Quintanilha. Esse nome não desapareceu. A W52 é uma marca, só uma marca. Não tem lojas, empresa… é
um nome só com três letras e achei que era mais fácil para as pessoas decorarem. Eu e o meu sócio, Albertino Venâncio Costa, do Barreiro, achamos graça e criámos umas calças
com a marca W52, embora que quem as faça é a Conhaque, que é a minha central de compras. Achamos graça à etiqueta e lançamos a W52 no ciclismo. Quintanilha não é marca, tem lojas. Está dividido por grupos.
Considera que foi inovador no comércio naquela época?
Sim, e quando digo que fui inovado no comércio, deve-se ao facto de entre 1987 e 1988 ter montado a primeira fábrica quando já tinha umas 28 lojas. Comecei a fazer um grupo de três lucros. Gosto muito das coisas a três, não sei porquê (risos). Tinha a fábrica, tinha o armazém e as lojas. Da fábrica, eu vendo para ao armazém e fica o lucro da fábrica que era minha. Do armazém que é meu, vendia para as lojas e das lojas para o público. Portanto os três ficavam com lucro direto para mim. Fiz um ciclo com três lucros. Por isso é que causei uma dor de cabeça a muita gente (risos). Consegui gerar lucro em três coisas, mas sempre para o mesmo dono. Para uma pessoa com a 4ªclasse, que vinha da construção civil e que inventa três lucros num, tem que ser um cérebro um bocadinho diferente. Temos que assumir que há muitas pessoas mais inteligentes, mas também que somos mais inteligentes que muitos outros. Acredito que uns tiveram mais sorte que eu. Mas a sorte é sempre ao nascer. Uns nasceram milionários, outros com grande cérebro, outros infelizmente não vão mais do que aquilo. A felicidade é sempre ao nascer.
“Ninguém é mais
que ninguém. Mas
há pessoas que têm
sorte ao nascer.
São diferentes”
Por falar em felicidade, quais foram os momentos que mais o marcaram e que o deixaram feliz na vida?
Felizmente sempre tive muitas coisas pela positiva. A partir do momento que montei o meu negócio nunca mais tive dificuldades. Até aos 22 anos é que não foi bem assim…
Quando melhorou, andava nas feiras e já tinha carros de alta cilindrada como Porshes e Mercedes. Nos primeiros seis meses que comecei a trabalhar nas feiras comprei três camiões e comecei a fazer um cerco em todo o país. Eu tinha um camião e entreguei outros dois a quatro empregados. Dois ficavam responsáveis por um camião. Os camiões eram meus, a roupa era minha. Tirava 10% para o desgaste do veículo, dava 10 % de lucro aos empregados e 10% ficava para mim. Também era três…(risos). Quando fui obrigado, praticamente a deixar as feiras, já tinha um projeto inovador.
Qual era esse projeto?
Era construir um autocarro cheio de estantes com roupa. Os clientes entravam por trás e saiam pela frente. Escolhiam a roupa dentro do veículo. Era mesmo grande. Era uma inovação muito à frente. Ninguém seguiu esse meu conselho. A melhor coisa era chegar à feira e ter um espaço preparado para receber as pessoas. Em dias de chuva fazia toda a diferença. Depois deixei as feiras e até hoje nunca ninguém pegou nessa ideia.
Quantos irmãos tinha e como foi o seu percurso?
Seis irmãos. Trabalhei na construção civil, mas sempre fui o menino bonito das fábricas locais. O senhor Reis e o senhor Guedes que já faleceram quando me iam buscar às obras
quase não falavam com os meus patrões, que por acaso eram os meus tios. Entravam e começavam logo a chamar pelo meu nome. Era a mim que eles queriam para trabalhar nas
fábricas. O senhor Agostinho, da fábrica da Bouça também só me queria a mim a trabalhar. Tudo que tivesse a ver com construção, chamavam por mim, não sei bem porquê. Com
17 anos já tinha seis homens a meu encargo, portanto já tinha que ter um bocadinho de valor. Era chefe de homens casados e com uma família a seu encargo. Sempre fui empregado… Mas não era aquilo que eu queria. Queria ser comerciante e integrar o negócio com a minha mãe.
O facto de a sua mãe e da sua avó serem pessoas ligadas ao comércio também lhe despertou o gosto pelo comércio?
Quando a minha mãe montou o negócio tinha nove ou dez anos e deu-me o bichinho. Já tinha sonhos. Já pensava e sentia que tinha valor. Gostava muito da minha avó porque
me dava muito carinho quando era pequenino. Tratou-me sempre muito bem, até aos meus 15 anos. Sofri muito com a morte dela. Muito mesmo.
“A minha mãe e a minha avó
eram muito especiais. Aprendi
muito com a minha avó. A
pessoa pela qual sofri mais foi
por ela quando morreu”
“Eu vou ser! Dizia sempre isto com
firmeza. Sou sempre assim.
Eu quero e vou ter”
Estive no ciclismo de 1990 até 2001.
Ganhei muitas provas mas nunca ‘A
Volta a Portugal’. Retirei-me e afirmei
que quando voltasse era para ganhar.
Voltei, ganhei, é para ganhar e
vou continuar a ganhar. Só se houver
grandes problemas. Ganhei todos os
anos.
Porque deixou as feiras?
Fui o primeiro a fazer uma publicidade com uma avioneta nos saldos, em Felgueiras, no ano de 1981. Foi uma irreverência porque as pessoas não estavam habituadas. Revolucionei o comércio. Acho que foi um pouco alterado pela minha pessoa. Depois de abrir a primeira loja, ainda andei, cerca de um ano nas feiras, mas cheguei a uma fase que fui obrigado a desistir. Como comerciante já tinha clientes em todo o país. Desde Faro, Setúbal, Barreiro, Lisboa a Trás-os-Montes. Já vendia para todos os comerciantes que tinham lojas e fazia revenda para os feirantes. Entretanto comecei a vender para grandes redes de lojas. Certo dia, apareceu na feira em Paredes a fadista Hermínia Silva e o seu marido, o Manecas, com o senhor Jaime Barretas que detinha oito lojas em Setúbal. Era um dos meus clientes. Senti-me envergonhado por ter que atender aquelas pessoas, no meio de pó, naquelas condições. Refira-se que a Hermínia Silva era uma pessoa muito importante no mundo do fado, logo a seguir à Amália Rodrigues. Então decidi entregar as feiras à minha irmã e dediquei-me totalmente à criação de lojas. Abri uma
fábrica em Lousada e desde aí nunca mais parei. Começou com a abertura de uma loja, duas e assim sucessivamente… Até ao meu médico meti o bichinho dos trapos. O Dr. Armindo deixou a medicina e dedicou-se à confeção. Fui montando uma rede de lojas. Penso que fui o primeiro a inovar ao criar uma rede de lojas. Praticamente não havia ninguém. Acabei por chegar às cem lojas muito rapidamente. Hoje temos uma média de 148 lojas. Já tivemos 154. Infelizmente a pandemia veio prejudicar muito a economia. Não fui exceção. Se me perguntar se tive alguma crise ao longo da vida, respondo que nunca tive. Desde que me estabeleci, nunca imaginei sequer. Nunca me passou pela cabeça. Mas esta estou a sentir. Não tenho alternativa. Penso diariamente, mas não vejo soluções para a combater. As outras crises dependiam da própria pessoa esta ninguém sabe o que vai acontecer. São momentos difíceis e já fechei seis lojas, se calhar vou fechar mais algumas.
Há quebras no consumo?
Sim, sobretudo em Lisboa e no Algarve. Em zonas rurais as pessoas não vão para os shoppings e o negócio fica mais ou menos igual. Nas grandes cidades é muito difícil,
com a diminuição do turismo.
Ao longo da sua via sentiu algum tipo de impedimento ou obstáculo para
atingir objetivos?
Não. Desde que comecei os negócios, os únicos problemas que tive, que não eram problemas, porque os ultrapassava sempre com facilidade, eram as grandes amizades. Era aquilo que eu queria fazer pelos outros. No início muita gente me ficou a dever muito dinheiro. Mas eu ultrapassava de imediato. Eu tinha competência para ultrapassar essas dificuldades. Só de uma vez, em 1993, uns clientes ficaram a dever-me 5 milhões de euros e eu ultrapassei isso com facilidade. Portanto ainda não foi isso que me deitou abaixo. Sempre que surgia algo eu ultrapassava.
Isso explica o seu sucesso? O facto de ter capacidade para ultrapassar?
Sempre fui muito ambicioso. Nunca fui ligado à ganância. Pelo contrário, trabalhava nas feiras e fui prejudicado porque tinha amigos e colocava-os a trabalhar em frente a mim e ao meu lado, para eles levarem dinheiro para as famílias e para dar comida aos filhos. Colaborava. Sempre o fiz. Nunca tive ganância, mas fui sempre muito ambicioso, isso fui.
O que o tornou cada vez mais ambicioso?
Eu sentia que tinha muitas capacidades e quando as pessoas as têm, nunca são gananciosas. As pessoas com capacidades são as melhores pessoas do mundo. Porque elas podem perder agora, mas vão ganhar a seguir. As pessoas gananciosas não têm capacidades porque se perderem não sabem como voltar a ganhar. E são perigosas. Toda a gente sabe em Felgueiras, que eu tive grandes problemas porque apareci muito rápido nas feiras e de um momento para outro abri uma loja. Mas quando eu montei a primeira loja em Felgueiras, já tinha ganho muito dinheiro nas feiras. Eu vendia e ganhava o dinheiro que queria nas feiras, todos os dias. O que eu queria ganhar, ganhava. Eu vendia um camião de roupa numa só feira. Se me perguntar se ganhava muito dinheiro? Não! Ganhava pouquinho, mas na quantidade eu sempre ganhei muito dinheiro. Toda a gente me criticava porque vendia muito barato. Diziam que iria rebentar com tudo. O que é certo é que enquanto eles ganhavam dois eu ganhava vinte. Quando eles ganhavam vinte eu ganhava 200. Foi assim o meu crescimento.
“A minha ambição era vender
um contentor inteiro e não
duas peças”
Disse que teve problemas em Felgueiras. A que se refere?
Fui muito apontado como traficante de droga e que vendia diamantes… era acusado insistentemente… fui apontado como um dos maiores traficantes do país. Isso deu-me incentivo. Eu ria-me com os meus amigos quando eles me contavam. Enquanto eles pensavam no que era ou deixava de ser eu estava a ganhar dinheiro. Isso incentivou-me muito mais. Isso deu-me sempre muita raiva para eu trabalhar. Enraivecia-me. Obrigava-me… ás vezes até queria descansar mais um bocadinho, mas eu pensava: eu tenho que os fazer sofrer. Quanto mais falavam em mim mais eu os
castigava. Quanto mais se preocupavam comigo mais os chateava. Eu comprava um Ferrari, eles falavam e eu passado uns meses tinha que comprar outro. Era para os castigar. Pensava: Vou matar muita gente de coração. O meu lema de vida sempre foi esse. Custou-me. Só eu e Deus é que sabemos o trabalho que tive. Chegava muitas vezes às 19 horas, ou 20 horas de uma feira, e mudava de camião para ir a Trás os Montes, ou a Lisboa levar uma carga. Ás vezes levava um amigo meu, o falecido Félix, para me ajudar a conduzir. Isto tudo quase sem dormir para voltar para as feiras no dia seguinte. Fiz isso dias e noites seguidas. Muitas vezes questionava- me porque é que as pessoas me criticavam tanto. Era fácil ganhar dinheiro, bastava trabalhar… Isso incentivou-me muito. O meu sucesso deve-se àquilo que as pessoas quase me obrigaram a fazer. De raiva.
Acontecia algumas vezes sair com o meu amigo Barbosa. Ao outro dia as pessoas diziam que eu tinha ido dentro… Ele calava as pessoas, porque tinha estado comigo o tempo todo.
Tenho o meu registo criminal limpo.
“Se estão preocupados comigo
vão sofrer a vida toda”
O que é que mais gosta de fazer nos tempos livres?
Gosto muito de trabalhar, do sucesso… Gosto de fazer bem, sinto-me realizado, a fazem bem. Trabalho muitas horas, em que devia estar a descansar, mas faço-o porque tenho a obrigação com empregados que trabalham comigo há muitos e muitos anos. Não quero que amanhã digam que saí das empresas ou que abandonei e que eles tiveram que ir para o fundo de desemprego. Enquanto eu puder, quero mantê-los bem porque merecem o meu respeito. Gosto de comprar…sou um viciado…Nunca fui uma pessoa de pensar em marcas
caras para o negócio. O meu objetivo é a quantidade. É comprar moda com preços acessíveis. Às vezes é um erro porque as pessoas duvidam quando a roupa é muito barata. A diferença de roupa cara para roupa barata é a quantidade. Quando se compra duas mil peças temos um preço. Quando compramos duas peças é outro. Mas a roupa é toda igual. Já comprei roupa a 300 e a 400 euros que ao fim de duas lavagens se estragou e já usei
polos da minha marca por 12 euros e lavo 50 vezes sem se estragar. Já não entendo bem… Já houve muita diferença. Hoje não há. A roupa só é cara pela etiqueta. Acredito que as pessoas quando compram peças por 20 euros, escondem… Mas se comprarem uma peça a um preço superior, já dizem… Até podem andar a fazer fracas figuras com aquelas roupas,
mas se custar 300 euros exibem-se. A peça fica-lhe mal, mas a pessoa só esta preocupada com o preço. E às vezes a fazer figuras horríveis. E esta mentalizada que anda com uma coisa transcendente. Já comprei calças a 160 euros. Agora uso calças da minha fábrica. E as pessoas querem as calças de lá. Até o Luís Filipe Vieira usa as nossas calças. Levou seis pares, no outro dia. Foi ao programa do Fernando Mendes, na televisão, com as nossas calças. Fui sempre um defensor de qualidade a preços acessíveis. E muita quantidade. Que me interessa a mim vender duas ou três peças e ganhar muito dinheiro. Se eu for jantar vou gastar esse dinheiro. Mas se eu vender um contentor, a ganhar pouco, ganho o dobro do dinheiro. Mas isso dá muito mais trabalho. Vender três ou quatro contentores não é o mesmo trabalho. Há pessoas que têm lojas e só compram uma vez por ano. Eu compro todos os dias. Todos os dias as minhas lojas são abastecidas. É bom sinal…(risos)
Sente orgulho em ser Felgueirense?
Muito orgulho. Não descansei enquanto não trouxe a minha equipa para Felgueiras. Felgueiras para mim é tudo. Tenho todo o gosto em dizer que sou de cá.
Tem alguns projetos futuros?
Vou dar continuidade ao ciclismo, foi o que sempre quis fazer. O meu fim vai ser com o ciclismo. No futebol se quisesse estar lá, já estava. Se quisesse estar num grande clube também. Já fui abordado muitas vezes… Já me tentaram levar, mas enquanto o Sr. Pinto da Costa for o presidente do FC Porto, o que acho que vai acontecer durante muitos anos, e o Luís Filipe Vieira estiver à frente do Benfica, nunca ninguém me vai ver como dirigente no futebol. Tenho muito respeito por eles e não era capaz de me meter em qualquer clube
com esses dois amigos. Vale mais essas amizades, do que todo o resto. A amizade é muito importante.
Tem bons amigos em Felgueiras?
Sim, a maioria das pessoas são todas minhas amigas. Acredito que toda a gente tem um certo carinho por mim. Respeito os empresários mas se me perguntar se acredito que
eles gostam de mim? Tenho que ser sincero: não acredito! Há um ou outro que poderá gostar, há exceções. Acho que ninguém gosta de quem tem sucesso. Há dias disse a dois empresários, que queiram ou não queiram, têm que se mentalizar que a pessoa mais conhecida em Felgueiras sou eu. Disse-lhes de caras. Que gostem ou que não gostem. Que sofram… têm que aceitar. Fiz por isso. Ninguém fez nada por mim. Custe a quem custar. Sou mais conhecido que os empresários todos juntos. A maioria não aceita. Custa muito.
Quem me dera que houvesse muita gente de sucesso em Felgueiras, ficava feliz. Nem toda a gente é assim.
Quantos colaboradores trabalham para si?
Temos cerca de 380 pessoas a trabalhar connosco. É uma empresa grande. Sou sócio praticamente das empresas todas, mas trabalhamos muito com franchsing. 88 lojas são nossas e as restantes são franchisadas. Acontece na Madeira, Açores, Espanha, França, Suíça. Todo o comércio que não seja possível deslocar-me muito rápido não quero fazer parte. Quero lojas em que consiga chegar rápido. Sempre fui uma pessoa de dar oportunidades. Tenho clientes que têm 8 lojas, outros 5. Todos eles foram meus empregados e algumas lojas fui eu que as dei. O meu pai sempre me ensinou: “Adriano fazes assim: quando tiveres um bolo, fica logo com uma fatia grande, mas a outra
parte corta em fatias pequeninas e oferece. Não queiras comer o bolo todo, porque vais ter um ataque e podes morrer. Fica com metade e oferece a outra metade…”. Fui ensinado
a partilhar… A minha mãe então… dividia por toda a gente. O que tivesse na mão dava tudo. Ás vezes chateava- me porque dava mesmo tudo… Tinha um problema muito grande
(diz em tom emocionado), se chegasse com o dinheiro de uma feira, dava o dinheiro à família para irem ao supermercado… Ao outro dia ia para a feira. Dizia que depois trazia mais…
Há uma passagem sua pelo futebol. Chegou a ser Presidente do FC Felgueiras. Saiu com alguma mágoa?
Isso não é novidade para ninguém. Estive muitos anos no futebol a colaborar com o senhor Álvaro e outras direções. Houve um ano que assumi o cargo de presidente. Só que o meu
problema é que era o único dirigente empresário de confeções. 99% dos outros dirigentes eram do calçado. Eu queria subir o FC Felgueiras à 1ª Divisão e manter a equipa nesse patamar. Fizemos um acordo entre toda a direção e acabei por ficar sozinho. Perdi muito dinheiro. Só de uma vez levei 22 mil contos ao Senhor Joaquim Carvalho, que era Presidente da Assembleia. Transmiti-lhe que iria abandonar. Paguei todos os meus
compromissos. Ainda me tentou demover, mas não teve hipóteses. Saí muito magoado com toda a direção. Fiz mais uma das minhas promessas a todos os diretores e empresários de calçado. Não tenho problema em dizer porque o digo em qualquer parte
do mundo. Disse-lhes: vocês ainda vão ouvir falar muito no meu nome. Ainda vou comprar algumas das vossas fábricas. O que é certo é que a uma dessas pessoas a quem disse
isso, comprei-lhe mesmo. Curiosamente foi a pessoa que mais guerras criou comigo no futebol. Foi mais uma das minhas promessas cumpridas. A partir daí saí do futebol e disse
que ia montar uma equipa minha de ciclismo, mostrando que não preciso de ninguém para gerir uma equipa desportiva. Saí em 1989 e montei de imediato uma equipa de ciclismo.
Estive na modalidade até 2001. Retirei- me porque considerava que já eram muitos anos mas voltei recentemente ao ciclismo, para o salvar.
Como assim? Explique-nos.
Neste momento o ciclismo em Portugal está em alta e deve-me tudo. O Presidente da Federação, Delmino Pereira, disse que a situação em que se encontra o ciclismo se deve a
mim. Disse-o ao Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República. Em 2014, o ciclismo estava para desaparecer e agora está novamente em alta. Os ciclistas passaram de ordenados de 1.000 euros por mês para 25 mil. Já temos ciclistas a ganhar 30 mil euros,
por mês. Fui eu o causador desta mudança. Não revoluciono mais porque infelizmente não posso, porque estou preso a um clube. Se não estivesse ligado a um clube revolucionava
o ciclismo totalmente.
Sempre gostou muito de ciclismo, para além do futebol?
Sempre fui um apaixonado por ciclismo. Acho que quem estiver dentro do ciclismo nunca mais se desliga, nem se interessa por outra modalidade.
Tem dois Dragões de Ouro. É das poucas pessoas no país que tem um símbolo
tão grande de um clube também grande. O que tem a dizer sobre isso?
Posso dizer que fiz grandes amizades no FC Porto, incluindo o Presidente. Há uma amizade muito grande com o senhor Pinto da Costa. Uma amizade que vai durar toda a vida.
Tanto eu como ele falamos a mesma língua. Dizemos um ao outro que fomos das pessoas que mais gostamos de conhecer. Ele diz muitas vezes isso à sua direção. E eu digo a quem conheço. É uma amizade muito grande e uma parceria que tem dado todos os frutos. Dura há 5 anos e neste tempo conquistámos 5 Voltas a Portugal, 5 Grandes Prémios JN. Foram 5 provas vencidas por equipas, por isso não havia mais nada para vencer. Ganhamos
por equipas, ganhamos individual. Ganhamos 5 vezes na Senhora da Graça e também na Serra da Estrela, o que é um feito grande. Foi uma boa parceria. Eles estão muito satisfeitos e eu estou muito grato ao FC Porto. Neste momento sou um Dragão.
Mas em relação aos dois Dragões de Ouro é um reconhecimento?
É um reconhecimento de uma parceria vencedora. Acharam por bem retribuir e eu fiquei satisfeito por ser um Dragão de ouro. É sempre uma felicidade.
É conhecido em todo o país. O nome Quintanilha é conhecido não só em
Felgueiras, mas noutros locais. O seu nome é mesmo Quintanilha?
Não. Quintanilha vem de uma novela brasileira. Era o Francisco Cuoco, uma personagem que adivinhava as coisas. Nos anos 70, quando trabalhava nas feiras, ia às fábricas, que
passaram por grandes dificuldades e normalmente adivinhava onde deveria ir para encontrar stocks. E de todas as vezes que ia a uma fábrica tinha aquilo que eu idealizava. Chegava lá e tinha…Eu comecei a afirmar que quando abrisse uma loja ia colocar o nome Quintanilha, porque eu adivinhava mais do que o ator da telenovela (risos). O nome Adriano encostou e passei a ser conhecido por Quintanilha. O meu apelido é Sousa.
É um homem realizado? Sente que lhe falta fazer alguma coisa?
Neste momento sinto-me realizado. Felizmente tudo o que eu quero consigo. O que quero fazer, faço. A partir dos meus 30 anos, nada para mim foi obstáculo. Nessa altura, financeiramente já estava muito bem. Quando abri a loja na Avenida das Tomadas em 1981 e ainda era feirante, se quisesse parar de trabalhar já tinha a minha vida estabilizada e não
precisava de trabalhar mais. Agora trabalho muito mais do que trabalhava porque é mais difícil aguentar as coisas hoje em dia. Nessa fase era muito fácil ganhar dinheiro. A gente
quando queria bastava trabalhar mais umas horas. Havia dificuldade em arranjar a mercadoria em quantidades suficientes para os pedidos. Quem tivesse mercadoria vendia
até nos pediam por tudo para cedermos o nosso material. Hoje em dia não é assim. Começaram a surgir os chineses e a economia complicou-se. Agora há muita oferta.
Quais foram os momentos mais marcantes da sua vida?
Tive muitos momentos importantes mas prefiro destacar o facto de ter encontrado a minha atual esposa. É uma pessoa excecional, é o meu braço direito. é uma pessoa fora do normal. Tem-me dado mais força para lutar nos negócios. Não tenho nada a apontar à minha ex-mulher. A relação não deu, mas ficou uma grande amizade. Gostando, como é evidente, de todos os meus filhos, o mais novo, Tomás, de onze anos é especial. Tenho
mais tempo para estar com ele.
Que mensagem gostaria de deixar aos felgueirenses?
O que eu quero é que Felgueiras continue a crescer como tem crescido nestes últimos três anos. Este Presidente, pela sua juventude e pelo seu trabalho acho que vai ter um grande sucesso e fazer muito pelo concelho. Acho que herdou a Câmara com muitos problemas e está a mostrar do que é capaz: fazer grandes obras. Espero que ele consiga fazer o parque da cidade. Há pelo menos essa promessa. Continue assim. Considero que os felgueirenses devem estar gratos. O Nuno Fonseca sabe que aquilo que precisar estarei ao lado dele. Apoiei-o e não foi fácil convencer-me. Porque se houvesse um problema a critica caía em cima de mim. Mas ele soube responder. Da minha parte tudo que Felgueiras precisar também estarei presente!