A Pandemia continua e continuará a obrigar-nos a pensar e repensar o modo como vivemos, as opções que fazemos e como vai ser o futuro.
Quando ouvimos que “40% das mortes por Covid-19 em Portugal ocorreram em lares”, que em pleno Agosto de 2020 depois de termos ouvido durante meses a Ministra da Saúde e a Direção Geral da Saúde (DGS) a dizerem que a prioridade em Portugal são os grupos de risco e a discussão assenta na morte de 16 idosos no Lar de Reguengos de Monsaraz que desencadeou uma auditoria da Ordem dos Médicos que emitiu um relatório assustador que aponta para a total negligência, para o não cumprimento das normas da DGS, a não existência de planos de contingência, a insuficiência de recursos para a prestação de cuidados adequados no lar (médicos, enfermeiros), a inexistência de registos sobre a situação clinica das pessoas e até o desconhecimento pela medicação ministrada, a morte por desidratação e/ou falta de medicação por causa das doenças crónicas. Que o Governo, as ministras da Saúde e da Segurança Social que tutelam os lares ainda não se pronunciaram. Que existem surtos ativos em 73 lares que atingem 545 idosos. E que já só se antecipa uma nova segunda vaga da Covid-19… fico estarrecida!
Se o Estado deveria ter como primeiro papel a proteção das pessoas com mais vulnerabilidade, falamos nos idosos e nas pessoas doentes e a situação é esta, temos motivos para ficar profundamente preocupados pela situação que se vive na generalidade do país. É muito grave. É imprescindível que a tutela tome uma posição, revele o que aconteceu em Reguengos e tome medidas para que não volte a acontecer. O Ministério Público já abriu um inquérito sobre o surto no Lar, mas cabe ao poder político tomar e dar a conhecer as medidas para garantir que novas situações não se repitam.
Quem de nós, não tem um familiar uma pessoa especial num Lar?
Quando pensamos na situação concreta, não deixamos de pensar que existem tantas outras situações semelhantes noutros lares.
É necessário que se apure se há condições ou não, e os que não tem, as Câmaras Municipais, as instituições de Solidariedade Social, as instituições de Saúde tem que dar resposta atempada a situações graves. Porque sabemos, tal como tem acontecido em várias situações em que o Estado falha, no fim ninguém é responsabilizado, mas as pessoas morrem!
Refletindo sobre toda esta situação e antecipando que se assistirá a um “galopante envelhecimento da população” (Até 2050 Portugal terá mais cidadãos dependentes do que a trabalhar e o peso dos cidadãos com mais de 65 anos poderá representar cerca de 30% da população – demógrafo David Bloom (Fev.2020), que estratégias estão a ser desenvolvidas para o futuro do país?
E nós como cidadãos? Também temos responsabilidades e deveres, temos que cuidar dos mais vulneráveis e também pedir contas ao Estado sobre as políticas públicas que tem obrigatoriamente que desenvolver e estar centradas nas questões do envelhecimento ativo, a independência física, económica e social dos mais velhos e na aposta na saúde e sua prevenção.
Agora é o vírus que mata.
Será também a negligência.
O envelhecimento da população será um dos maiores problemas com o qual as sociedades terão que lidar.