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“Os pais devem ter um papel ativo e firme de forma a contrariar esta tendência crescente de submersão das crianças e jovens no mundo virtual”

O SF pediu opinião especializada e a médica pediatra felgueirense, Catarina Carvalho acedeu responder e contribuir para este debate em torno da adoção dos manuais digitais.

Que implicações pode trazer a curto prazo às crianças e jovens? E a longo prazo?

As novas gerações vivem imersas num mundo digital e estão cada vez mais cedo conectadas aos ecrãs como meio de entretenimento e comunicação.

O maior problema do recurso ao ensino digital é que o tempo passado em frente aos computadores/tablets associado ao tempo de lazer que as crianças já dedicam aos ecrãs podem gerar uma superexposição à tecnologia. Este tema tem sido amplamente estudado, e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, (UNESCO) já alertou para os prejuízos que daí podem advir, nomeadamente na capacidade de concentração dos estudantes. Prejuízos na capacidade de leitura, memória e interpretação também têm sido relatados em diversos estudos que versam sobre esta temática. Além destes efeitos, sabe-se que o uso excessivo e prolongado da tecnologia digital nas crianças e jovens está associado, a longo prazo, a um desenvolvimento deficitário das capacidades físicas, cognitivas e sociais, e contribui para problemas como a obesidade, alterações posturais, distúrbios do sono, depressão e ansiedade nestas faixas etárias.

A nível da visão o que acha que os manuais digitais podem significar?

Os dispositivos eletrónicos – com todos os seus estímulos – exigem um esforço extra do sistema visual, bem como do cérebro para os interpretar. A visão humana tem capacidade de se adaptar a esta exposição por curtos períodos, mas as horas que as crianças e jovens passam em frente ao computador obrigam os olhos a focar em objetos muito próximos por longos períodos resultando em fadiga ocular, olho seco e problemas de focagem. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertou para o aumento da miopia em todo o mundo, que relaciona com as mudanças no estilo de vida, e diversos estudos científicos sugerem que a utilização prolongada aos ecrãs seja um fator de risco significativo para o seu desenvolvimento e progressão. Para minimizar estes riscos deve incentivar-se as crianças a afastarem-se dos monitores 45 a 60 cm e a seguir a regra 20-20-20, ou seja, a cada 20 minutos, uma pausa mínina de 20 segundos a focar um alvo distante a mais de 20 pés (6 metros).

O que podem os pais e professores fazer para manter um equilíbrio saudável de utilização de ecrãs?

Os professores, mas principalmente os pais, têm um papel de suma importância no tempo que as crianças dedicam aos suportes digitais e na qualidade dos conteúdos assistidos. O tempo de ecrã não deve ser tempo sozinho, a criança deve ser acompanhada na visualização dos conteúdos, ajudada a interpretar o que vê e capacitada a selecionar e discriminar a informação. É também importante perceber que os limites são necessários e muito importantes, e que os adultos devem dar o exemplo. As recomendações de tempo de exposição aos ecrãs são muito facilmente ultrapassadas, e com o ensino digital ainda mais. Por este motivo, é importante incentivar a práticas “não digitais” como atividade física, jogos de tabuleiro, leitura de livros físicos, escrita…. que muitas vezes as crianças e jovens têm relutância em aceder. Os pais devem ter aqui um papel ativo e firme de forma a contrariar esta tendência crescente de submersão das crianças e jovens no mundo virtual.

Pensa que os manuais digitais são o futuro ou acha que têm de ser tratados com cautela e avaliar gradualmente?

É preciso reconhecer a importância das tecnologias como aliadas nos processos educativos. O uso do material exclusivamente físico, sem suporte digital, já não faz sentido no século XXI, e a principal questão que se coloca é: como chegar a um equilíbrio? Na minha opinião, o caminho deve ser híbrido, ou seja, deve integrar as vantagens do analógico e digital. Este processo deve ser gradual, acompanhado de adaptações nas infraestruturas das escolas, formação docente e propostas pedagógicas. É também importante garantir que todas as crianças e jovens têm acesso igualitário a infraestruturas tecnológicas e acesso à internet.

Esta é uma discussão muito atual, deve ou não ser repensada e ouvirem-se os vários intervenientes? De que forma poderia ser?

Como já referido anteriormente, a adoção do digital deve ser efetuada com muita cautela e adaptada à realidade. Não existe atualmente experiência internacional, estudo ou entidade que apoie a decisão de eliminar os livros da sala de aula e ofereça apenas conteúdo informático. Podemos até observar o exemplo da Suécia, que adotou a digitalização completa do ensino e decidiu muito recentemente recuar nesta medida. Portanto, este tema deve ser amplamente discutido pelos diferentes especialistas da área, bem como por todos os intervenientes no processo (pais, professores, alunos…). Em jeito de conclusão, é imperativo que se realize uma avaliação e discussão de todas as medidas entretanto implementadas nas diversas escolas do território nacional, e considerada a experiência internacional nesta matéria, de forma a que se consiga atingir um equilíbrio que facilite a aprendizagem, com benefícios para os alunos e para todo o processo educativo.

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