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Recorde a entrevista do Padre Mário de Oliveira ao SF

Em 2012, a propósito do 75º aniversário natalício, o SF fez uma entrevista ao Padre Mário de Oliveira que aqui recordamos.

Completou ontem 75 anos de vida o conhecido Padre Mário de Oliveira.

Polémico, frontal, mal amado por uns, apreciado e seguido por outros, o antigo

pároco de Macieira da Lixa, onde reside, é uma figura incontornável da história

do concelho de Felgueiras. Crítico em relação à Igreja a que diz pertencer, autor de livros controversos, diretor do jornal Fraternizar, onde ao longo dos anos foi publicando os seus

pensamentos, considera que o poder, nas suas três vertentes, está a destruir o ser

humano. Vive da sua reforma de jornalista numa casa arrendada. Tem uma

vida modesta. Passeia a pé pelas ruas e vielas de Macieira diariamente na sua

caminhada pela saúde e aproveita “ para criar” nesse e noutros bocados do seu

dia a dia inquieto contra o mundo e os poderes instalados. Foi em Macieira da

Lixa que fez as homílias que o começaram a chamar à atenção. A PIDE

perseguiu-o. A Igreja não o acolheu. O país reconhece-o como um homem sem

papas na língua. Um padre longe dos altares, que tanto crítica, e dos rituais,

que repudia, mas que continua a comunicar utilizando as novas tecnologias.

Mudaria alguma coisa na sua vida depois de ter vivido 75 anos?

Acho que não. Porque a Mudança é contínua em mim. Só ela me revela como Ser Humano Presbítero da Igreja do Porto. À medida que cresço em anos, cresço também em Sabedoria e em Graça, quer dizer, em Entrega de mim e da minha vida aos demais. O Presbítero menino que sou, em 5 de Agosto de 1962, começa logo a mudar, mal acabo de ser ordenado. Como o grão de mostarda que vem a ser um arbusto onde os pássaros (igual a liberdade e a autonomia) fazem os seus ninhos, o mesmo se passa comigo, desde que sou ordenado até hoje. Acho que nunca me repito, em todos estes anos. A mudança é, pois, contínua em mim. Passo do Ritual para o essencial; do infantil, para a maioridade; da tutela eclesiástica, para a autonomia; do religioso para a política praticada; do mítico Cristo, para Jesus e o seu projecto político maiêutico. Da idolatria para a mesma fé teológica de Jesus. Quem quiser seguir, passo a passo, a minha evolução, basta ler os meus livros por ordem de edição.

Vejo os poderes existentes no concelho cada vez mais e melhor organizados e ativos, enquanto as populações continuam confrangedoramente desgarradas à mercê dos pequenos e médios padrinhos, das pequenas e médias máfias que se abrigam neste concelho, como nos outros.

Em consequência, os poderes, sobretudo, o poder económico-financeiro, são donos e senhores. As populações, as servas, os servos, já não da medieval gleba, mas das novas glebas industriais. Há ainda muito de Idade Média, reciclada de Século XXI, neste nosso concelho”

E há novidades quanto a livros?

Os dois novos livros que conto editar este ano 2012, um, ainda este mês de Março e o outro, em Outubro, são, até agora, o ponto de chegada da minha evolução /mudança que vai continuar, enquanto eu continuar a viver e a intervir na história. E vai continuar, também e sobretudo, depois que eu me tornar definitivamente invisível aos olhos dos demais.

Padre Mário da Lixa

O que ficou por fazer nestes 75 anos?

Tenho consciência de que, em cada momento da minha vida presbiteral, sempre tenho feito o que a minha consciência, nesse momento, me diz para fazer. Sem nunca pensar no preço a ter de pagar por isso. É já assim, no dia da minha Missa nova; é assim, como coadjutor da Paróquia das Antas; é assim como professor de Religião e Moral em dois Liceus do Porto; é assim, como capelão militar na Guiné-Bissau de onde acabo expulso, ao fim de quatro meses; é assim como pároco de Paredes de Viadores e, depois, como pároco de Macieira da Lixa; é assim, na Cadeia Política de Caxias; é assim, no Tribunal Plenário do Porto; é assim na Zona Pastoral Ribeirinha do Porto; é assim como Presbítero da Igreja do Porto sem Ofício pastoral e, simultaneamente, Jornalista profissional; é assim como director do Jornal Fraternizar, agora, só online (www.jornalfraternizar.pt.vu ); é assim na Internet, no Youtube e no Facebook; é assim onde quer que passe e intervenha, presencialmente, em múltiplos locais do país e nas televisões, quando sou convidado. Nunca deixo nada por fazer. Sempre digo sim ao vento /sopro maiêutico que me habita e me guia e por isso sou um rotundo não vivo ao Poder, vista ele a máscara que vestir, a do religioso/eclesiástico, a do poder político, a do poder financeiro.

Página da edição nº 1041 de 09 de março de 2012

“O poder é o inimigo n.º 1 das populações. E as populações só conseguirão amarrar o poder, se crescerem de dentro para fora, até, finalmente, o dispensarem para sempre

Como vê Felgueiras na atualidade?

Há oito anos que vivo, por opção, numa casinha arrendada, na freguesia de Macieira da Lixa, deste concelho de Felgueiras. Vejo as populações do concelho ainda bastante subjugadas pelos poucos clérigos católicos que o Bispo da Diocese lhes impõe, nas respectivas paróquias, sem que elas sejam tidas nem achadas. Tudo vem, já decidido, de cima para baixo. E as populações acatam como ovelhas e ainda correm a saudar “o Pastor” que lhes é imposto, e que elas vão ter de sustentar, senão mesmo, de enriquecer. Mesmo que o “pastor” seja descaradamente um mercenário de várias paróquias, é sempre o “Pastor”.

Vejo os poderes existentes no concelho cada vez mais e melhor organizados e ativos, enquanto as populações continuam confrangedoramente desgarradas à mercê dos pequenos e médios padrinhos, das pequenas e médias máfias que se abrigam neste concelho, como nos outros. Em consequência, os poderes, sobretudo, o poder económico-financeiro, são donos e senhores. As populações, as servas, os servos, já não da medieval gleba, mas das novas glebas industriais. Há ainda muito de Idade Média, reciclada de Século XXI, neste nosso concelho. O Cristianismo continua a formatar as novas gerações, já no ventre da mãe e, mal elas nascem, são logo “apanhadas” pelo Cristianismo, que outra coisa não pretende o baptismo em criança e o Crisma, na entrada da maioridade civil. E, obviamente, as Missas ao domingo! As populações estão longe de ser verdadeiramente livres e autónomas. E nunca o serão de facto, enquanto o seu pão de cada dia depender do trabalho que vendem a outrem. Sem autonomia económica, não há autonomia individual-pessoal. Muito menos autonomia política. São sempre muitos, para não dizer todos, os que vendem a sua força de trabalho, a depender de poucos, cada vez mais poderosos e mais hábeis na manipulação das populações que deles precisam. Nem as escolas laicas ajudam, na autonomia das populações, porque são todas escolas de cima para baixo, sem que as populações e as famílias sejam tidas e achadas nos conteúdos dos programas curriculares das suas filhas, dos seus filhos. A saúde anda muito doente. E com tendência a piorar. Porque somos um país reduzido a Lisboa e um pouco ao Porto. Tudo o mais é periferia, onde viver é uma espécie de lotaria que quase sempre sai aos do poder, não às populações.

O poder é o culpado?

Ora, o poder é o inimigo n.º 1 das populações. E as populações só conseguirão amarrar o poder, se crescerem de dentro para fora, até, finalmente, o dispensarem para sempre.

Então, haverá vida e vida de qualidade e em abundância. Para isto, já está levantado em Macieira da Lixa, o Barracão de Cultura, agora, na fase de receber no seu interior os equipamentos indispensáveis para poder realizar todos os fins para que foi projectado. São bem vindos, pois, todos os apoios, provenientes de pessoas livres e autónomas que, como eu, querem viver entre e com populações, também elas, livres e autónomas. contínua em mim. Passo do Ritual para o essencial; do infantil, para a maioridade; da tutela eclesiástica, para a autonomia; do religioso para a política praticada; do mítico Cristo, para Jesus e o seu projecto político maiêutico. Da idolatria para a mesma fé teológica de Jesus. Quem quiser seguir, passo a passo, a minha evolução, basta ler os meus livros por ordem de edição.

Padre Mário de Oliveira fotografado pelo SF na sua casa em Macieira da Lixa

 

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