Artigo de opinião publicado na edição 1483 de 24 de outubro de 2025
Regra geral, antes de usar o computador, devo confessar que todos os textos que crio quinzenalmente para esta rubrica são escritos pelo meu punho em folhas de papel velho, e as mais das vezes, com uma esferográfica foleira.
Só que, desta vez, por também me sentir um vencedor do recente acto eleitoral autárquico, à luz de uma esferográfica de um claro e reluzente azul deixada pelo “Sim Acredita” na minha caixa de correio, decidi que deveria escrever o presente texto com a mesma, se mais não fora, para ver se desta vez conseguiria escrever alguma coisa de jeito. E não é que resultou!
Antes de mais, seja-me permitido divagar um pouquinho, tão só para dizer que dirigir uma câmara municipal não é como escrever. Daí, serem muitos os presidentes que nunca percebem o que se vai escrevendo e os escribas a não entenderem como se dirige uma câmara, quando estas apenas conseguem certificar o seu trabalho à custa de um contínuo endividamento primário!
Depois do acto eleitoral do dia 12 de Outubro, em que o PSD ganhou no país e o “Sim Acredita” no concelho, pouco de relevante haverá para acrescentar no campo da análise política, até, porque, tendo em conta o banho de decepção que o Chega levou, no concelho e no país, pouco mais importará dizer, seja a que título for.
Todavia, havendo vitórias que exaltam e outras que corrompem e de derrotas que matam e outras que despertam, salve-se o LIVRE, que não sendo a Esquerda do futuro continuará a registar um ténue período de alegria devido ao jeitoso lugar de bengala a que há muitos anos se associou.
Num concelho “sui generis” onde a liberdade pessoal de muitos eleitos se encontra capturada; onde o principal representante do LIVRE na A.M. é funcionário municipal; onde o líder do Partido Socialista é empregado do presidente da Câmara e onde alguns presidentes de Junta também são empregados ou assessores municipais, só resta a curiosidade para se perceber se o novo presidente da Assembleia Municipal, – que até agora o tem sido -, continuará a ser um renovado empregado da vereação municipal… e mais não digo, não vá alguém perceber que numa democracia local já muito doente, se isso acontecesse, ainda acabaria por ficar pior!
Eu sei que os homens de bem ainda não aprenderam que a política não é a moral e que essa apenas se ocupa daquilo que é oportuno, assim, como, também ainda não perceberam, que num tempo de engano universal, dizer a verdade sempre foi e continuará a ser um acto revolucionário.
No entretanto, com elevado mérito, o “Sim Acredita” ganhou as eleições autárquicas no concelho, elegendo os mesmos 7 mandatos para a Câmara Municipal e 19 para a Assembleia Municipal. E ganhando, também, na generalidade das Assembleias de Freguesias, ficando com “todas” as Presidências de Juntas, o “Sim Acredita” acabou por esmagar como antes nunca tinha acontecido todas as oposições, com destaque para o PSD, que não conseguindo sair da cepa torta acabou por obter o seu pior resultado de sempre, e para o Chega, a quem nas ruas, nos cafés, nos supermercados e nos cabeleireiros já se vaticinava um resultado melhor e onde até já se faziam apostas de eleição de um ou até dois Vereadores.
Vivendo uma parte de nós dentro de uma vida em que a nossa atenção se encontra capturada pelas Redes Sociais, alguém deveria ter percebido bem cedo que na onda do “Sim Acredita” já não havia nenhum lugar para experimentalismos aventuristas, e que sem trabalho político atempado e consistente jamais se poderão esperar resultados auspiciosos, tendo sido isso o que aconteceu ao PSD e ao Chega, ao primeiro por nos últimos quatro anos pouco ter feito para se constituir numa alternativa credível, e ao segundo, por não ter percebido que o que hoje está na moda pode muito bem amanhã já não ser assim, e ademais, por também não terem percebido em tempo útil o volume do burburinho que já perpassava às mesas dos cafés, razão pela qual tudo ficou na mesma.
Daí, não surpreender, a não ser por algum defeito, a retumbante vitória de Nuno Fonseca!
“Texto escrito segundo o anterior Acordo Ortográfico” José Quintela




