Leia a entrevista publicada na edição 1477 do SF
Há 35 anos, a então vila de Felgueiras viu concretizar-se o sonho dos responsáveis autárquicos de obter o estatuto de cidade. Hoje, para o presidente da União de Freguesias de Margaride, Várzea, Lagares, Varziela e Moure, José Lemos de Araújo, esse marco desvenda um percurso marcado por um “impulso extraordinário” no crescimento urbano e pela explosão da indústria do calçado, sem esquecer a frustração de um planeamento municipal que não acompanhou o ritmo do investimento privado.
Na memória de quem era miúdo, Felgueiras era uma peque comunidade, “uma aldeia, basicamente” escassa em infraestruturas, basicamente um aglomerado de grandes quintas com poucas vias de comunicação entre si que, gradualmente, começou a expandir-se aos pés do monte de Santa Quitéria.
“Não havia Avenida Leonardo Coimbra, por exemplo”, recorda o autarca de 70 anos, em funções há mais de três décadas. A grande transformação da malha urbana começou na década de 1980, com a instalação de fábricas de calçado que geraram milhares de postos de trabalho e atraíram nova população ao concelho e à cidade, em particular.
José Lemos recorda ainda alguma da oposição à ideia de elevar Felgueiras a cidade, um “sonho” de quem estava no poder municipal, na altura, nomeadamente o receio de que o novo estatuto iria resultar num aumento dos impostos aos residentes.
A nova urbe cresceu rapidamente, impulsionada sobretudo pelo investimento privado “decisivo”, mas ao qual o poder autárquico não correspondeu, naquela altura, com o mesmo ritmo e devido planeamento. O autarca lamenta, sobretudo, a falta de antecipação da necessidade de implementar uma ou mais zonas industriais bem delimitadas, capazes de articular, harmoniosamente, indústrias e áreas residenciais.
“Se tivéssemos planificado uma área só para as unidades fabris, hoje Felgueiras estaria num estado mais equilibrado entre indústria e habitação”, afirma. Com o progresso, surgiram também problemas estruturais, com as redes de saneamento, vias de comunicação e o espaço público a acompanhar o crescimento de uma forma desordenada.
Olhando para a cidade, hoje, José Lemos salienta uma série de intervenções que estão a retificar alguns destes problemas, nomeadamente através de projetos de regeneração urbana que estão a devolver um perfil mais urbano à cidade. Contudo, o autarca de freguesia mostra preocupação quanto ao impacto no comércio tradicional, defendendo que se deveriam pensar em soluções para defender os comerciantes locais.
“Há mais estacionamento, mas poderia pensar-se, por exemplo, na criação de zonas ou ruas só para comércio local, por exemplo”, explicou.
Recentemente, a Câmara de Felgueiras indicou que vai arrancar com a requalificação da Avenida Dr. Magalhães Lemos, mais conhecida por Avenida do Hospital, parte de uma série de intervenções planeadas para devolver maior centralidade à cidade.
“Espero que, entretanto, o presidente da Câmara de Felgueiras já deve estar a sonhar, e eu também gosto de sonhar, em requalificar a Praça da República. Não é que esteja feia, mas acredito que precisa de um novo ar, uma nova imagem” para recuperar a sua centralidade, acrescentou.
Recorda, ainda, que a própria União de Freguesias também tem os seus “sonhos” e projeto, salientando que a transição para a nova unidade administrativa territorial tem uma maior capacidade de investimento no território.
Apesar de receios iniciais quanto à perda de proximidade com as populações, a fusão mostrou-se vantajosa em termos económicos, reduzindo despesas administrativas e reforçando o poder de investimento. “Passámos a ter uma receita maior, aplicável em maiores projetos de capital”, explica o presidente da união, que reconhece uma aceitação gradual da comunidade da nova realidade administrativa.
Salienta, sobretudo, o projeto (em andamento) de reabilitação da Igreja Velha de Várzea e na criação de uma área verde entre o centro escolar e o templo, assim como um plano para adaptar um terreno propriedade da União de Freguesias para acolher, com maior dignidade e conforto, a Festa dos 23, em honra a São Jorge, em abril de todos os anos.
Para o presidente, que adiantou ao SF Jornal que se recandidata este ano ao que eventualmente será o seu último mandato, estas intervenções são “sonhos” que reforçam o laço entre passado e futuro de Felgueiras, atestando a vitalidade de uma cidade que, desde a sua elevação, nunca deixou de conquistar novos horizontes.




