Artigo de opinião publicado na edição 1475 do SF
A minha memória não me permite verificar se já escrevi sobre este assunto. Mas isso é bom, quer dizer que é genuíno da minha parte. Felgueiras é um concelho com um potencial enorme, com gente trabalhadora e bastante empreendedora. No entanto, é preciso disponibilizar as ferramentas necessárias e criar um ambiente propício ao risco, ao investimento, ao erro, à falha, e claro ao sucesso. Porque saber entender e processar mentalmente o sucesso é tão difícil como reconhecer o erro ou lidar com o insucesso. Podia estar a fazer um retrato do país, mas o meu foco é Felgueiras.
Para isso, o que faz falta não é só animar a malta, mas sim os decisores políticos em Felgueiras começarem a fazer política pela positiva, envolvendo a sociedade civil de forma genuína desprendidos de quaisquer segundas intenções. Porque em política, o político pensa mais no seu futuro do que propriamente no território que dirige. Portanto, partimos de uma premissa errada, que resulta sempre na hipoteca do futuro das próximas gerações. O alto endividamento, a má gestão de influências, o aumento da máquina do município, a dependência que este cria na população é prejudicial ao desenvolvimento e diversificação do tecido empresarial, da fixação de jovens no concelho e da criação de emprego de alto valor acrescentado. Não só de infraestruturas estruturais se faz um concelho ou de programas de festas. Infelizmente, o concelho de Felgueiras, atrasadíssimo relativamente em comparação a concelhos vizinhos, teve margem para melhorar. Como se costuma dizer quando alguém tem medo de cair ainda mais: “do chão para baixo não desces”. Lembrei-me agora daquele slogan do “Felgueiras está melhor, está diferente”. Mas estará melhor daqui a 10, 15 ou 20 anos? É preciso muita coragem para pensar o concelho a longo prazo e tomar decisões em função dessa visão. Muitos poucos políticos em Felgueiras o poderiam fazer, é esta a minha perceção. Por muito que se tenha dado “festas e bolos” às pessoas, o concelho e as suas instituições não podem servir como porta giratória ou catapulta para algum outro cargo, departamento ou instituição. Aqui não se enganam tolos.
No momento em que escrevo este texto começa a formar-se uma grande tempestade em mês de início de verão. Por instantes fiquei agoniado. Isto relembra-me o assunto deste artigo. Felgueiras pela positiva, não só tem de se aproximar genuinamente da sociedade civil, como tem de atrair os melhores talentos, tornar-se relevante, mais eficiente, ser um exemplo no distrito, no país. É esta a minha visão, positiva, construtiva e reformadora.
Flávio Ventura
