Ei-los que partem…
Na hora já muito adiantada da noite de uma sexta feira, em convívio de amigos, o alerta chegara através da expressão facial de um dos convivas, tentando com discrição antever o que não quis revelar ali, mas se confirmaria mais logo no romper da manhã desse sábado que assinalava o primeiro dia deste mês de Junho.
A “morte saiu à rua”, sempre sorrateira, mais uma vez sem aviso prévio e, “alguém nosso amigo” fora arrebatado do nosso mundo.
Logo no início da manhã de sábado a notícia ecou na cidade:
Fernando da Silveira Coelho, o senhor Fernando da Magistral, faleceu!
Dito assim, desta forma seca e assumidamente natural, parece que afinal tudo estará certo porque se cumprem os desígnios da finitude da Vida e, para os que têm fé, a vontade Daquele que a determina…
Nesta corrida imparável do tempo e da voracidade com que ele apaga a memória, cumpre-me deixar em palavras escritas , porque assim permanecerão para recordação futura, a curta, sentida mas, também merecida, homenagem a um amigo que não se deixou envelhecer para merecer o reconhecimento público da perenidade da sua ação cívica e comunitária.
Fernando Martins Coelho deixou-nos aos 74 anos de idade.
Não fui seu contemporâneo do período académico, mas acompanhei muito de perto o seu percurso de industrial, mantendo e prestigiando uma marca criada pelos seus pais – Fábrica de Calçado Magistral – que geria com enorme brio e orgulho e onde se imponha meticulosamente como um perfeccionista.
As vicissitudes da actividade industrial, das tendências do mercado e das suas alterações ao longo dos tempos, haveriam de determinar a sua extinção e o seu encerramento, mais tarde.
No entanto, o que se realça da actividade cívica de Fernando Martins Coelho, para além, evidentemente, da sua vasta participação e ação em diversas entidades e coletividades de Felgueiras, é o seu papel determinante na criação da Rádio Felgueiras.
Decorria o ano de 1989 e por todo o lado no país, fervilhava a febre das rádios locais. Num movimento de iniciativas, normalmente não enquadradas legalmente, portanto clandestinas, Fernando presidia então ao Lions Club de Felgueiras e tomou como uma das iniciativas desse Club, dar forma legal ao trabalho que, clandestinamente, alguns amantes da radiofonia já praticavam.
Testemunho o seu frenesim no empenho e dedicação a essa causa, primeiro no enquadramento legal constituindo uma cooperativa da rádio, na apresentação do projeto de legalização e financiamento de que eu próprio me encarreguei, na sua entrega para aprovação “in extremis” no último dia desse ano de 1988.
O próprio Fernando haveria de integrar a equipa que arrancou com a RF na sua grelha de programas e até no seu financiamento.
Fica por esta via registada esta singela referência com a qual pretendo homenagear um amigo de Felgueiras que, pela sua ação em vida, também participou na nobre missão de educar, informando e assim reforçando o genuíno sentimento de ser felgeirense.
Deixo para outros que com ele implantaram e mantiveram o projeto, hoje realidade da Rádio, para uma mais minuciosa e rigorosa descrição e testemunho desse tempo e do seu real contributo nesse desiderato.
A sua memória permanecerá muito para além desta “caminhada” porque ele soube dar-lhe a extensão que torna notáveis alguns dos que fizeram da vida mais que a circunstância de viver e foram capazes de a adornar com atos de perenidade.
Aos filhos, Fernando e Carlos Miguel e esposa Dª Conceição Castro, um forte abraço!
Até sempre, Fernando Coelho!
Manuel Faria