Artigo de opinião, publicado na edição n.º 1474
As últimas eleições legislativas resultaram numa nova configuração parlamentar, marcada pelo fim do bipartidarismo tradicional e por um resultado francamente negativo para toda a esquerda, com exceção do Livre, o único partido com reais motivos para celebrar a noite eleitoral.
Ao Partido Socialista cabe agora uma reflexão séria e profunda. É urgente compreender os fatores que conduziram a este resultado e recentrar o debate político no que verdadeiramente importa para o país. Convém lembrar que este desfecho surge após o PS ter viabilizado o governo da AD, a eleição do Presidente da Assembleia da República, a aprovação do Orçamento de Estado e ter votado contra duas moções de rejeição. Terá sido o voto contra a moção de confiança o principal responsável por este resultado? Ou estaremos perante uma penalização do eleitorado face ao governo de António Costa, pela ausência de respostas concretas em áreas sensíveis, como a revisão das carreiras públicas, sacrificadas em prol de um superavit histórico?
Independentemente da interpretação, há uma certeza que se impõe: cabe à AD e ao PS o dever de trabalharem em conjunto para salvaguardarem os pilares da democracia.
Como fazê-lo? Um primeiro passo poderá ser a assunção de um compromisso claro na negociação de medidas estruturantes para o país e uma recusa firme de qualquer tentativa de revisão constitucional que apenas sirva para dar palco à extrema-direita. Que o “Não é não” seja levado a sério!
Afinal de contas o que é que leva tantos eleitores a apoiar um partido extremista? Partilham todas as ideias xenófobas, racistas ou misóginas desse partido? Ou será, em vez disso, um voto de descontentamento, uma forma de protesto contra um sistema político que sentem cada vez mais distante?
Se há algo que a história nos ensina é que os ciclos se repetem. Mas de que serve esse conhecimento se não o usamos para mudar de rumo das coisas? O futuro da democracia dependerá, mais do que nunca, da responsabilidade dos partidos moderados e da sua capacidade para responder às inquietações dos cidadãos com seriedade, coragem e sentido de Estado.
Continuemos na luta pela garantia dos nossos direitos e liberdades!
Paulo Soares