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Lá se apagou o digital com o Apagão em Portugal!

Às 11h33 de segunda-feira, 28 de abril, sem pré-aviso, as luzes apagaram-se em Portugal, os ecrãs ficaram negros e as redes silenciaram-se. E o resto do dia foi passado sem eletricidade, sem acesso a redes de telemóvel ou internet.

As comunicações tornaram-se quase impossíveis, as corridas aos supermercados e às bombas de gasolina fizeram lembrar os tempos da pandemia. No final, percebemos que não estamos assim tão preparados para lidar com estas situações atípicas.

O país todo, aliás, a Península Ibérica, apagou-se por muitas horas, e penso que aprendemos mais.

Tomamos consciência a fabulosa tecnologia que parece oferecer-nos o mundo com um simples premir de um botão no écran do telemóvel, afinal, é infalível e não resolve tudo. Também constatamos que o simples fato de termos um cartão multibanco, afinal, não tem poderes absolutos, e em caso de necessidade de nada nos vale!

No dia 28 de abril precisámos de moedas e notas para comprar uma garrafa de água, pão na padaria ou simplesmente velas, a não ser que nos conhecessem e fiassem a compra. Para abastecer o carro de combustível, em caso de deslocações essenciais, apenas com notas o podíamos fazer.

E no caso, que me é tão “caro”, o acesso à informação, na era em que todos, ou quase todos vaticinam o fim dos jornais e das rádios, corremos aos arrumos e “sótãos” lá de casa para recuperar o transistor, o rádio a pilhas, que lá estava há mais de 20 e tal anos, desaparecido e atirado para relíquia pelos avanços tecnológicos.

Foi a rádio pública que fez serviço público. Foram os jornalistas, esses profissionais que estiveram toda a tarde e entraram pela noite dentro a contar-nos o que se passava, a verdade do que estava a acontecer, com verdade e em tranquilidade.

Aprendemos a importância da rádio e de ter um transístor em casa. O cuidado com as notícias de que não se sabe a origem. A necessidade de ter em casa bens essenciais e não confiar excessivamente na Internet porque pode ficar off facilmente. Evitar acreditar em propaganda disfarçada de informação.

E aproveitar o tempo disponível, em que não era possível responder às milhares de solicitações diárias para “ouvir” o silêncio, ler e meditar, conversar com a família, sem que um telemóvel desta vida o evite!

Aprendemos, ou tivemos mais consciência, de que o nosso modo de vida é, afinal, muito frágil. Assente no bem-estar e na tecnologia, que falha.

Chamou a atenção para a possibilidade real de ciberataques dirigidos contra infraestruturas críticas, e na necessidade de ter capacidade defensiva.

Aprendemos como está vulnerável a nossa rede elétrica, da qual estamos cada vez mais dependentes. E como falha também o investimento e produção de energia renovável. É urgente o investimento em fontes de energia renovável com armazenamento local (baterias).

O apagão mostrou que o Estado precisa de garantir que estamos todos mais bem preparados e que tem que existir planos de contingência mais robustos para fazer face a emergências.

Tomamos consciência que os efeitos das alterações climáticas e a nova realidade geopolítica a nível mundial podem tornar estes momentos de emergência mais frequentes.
Percebemos que nem a tecnologia da inteligência artificial não soube encontrar a solução para o que provocou o apagão.

Aprendemos que estes episódios tem elevados custos económicos.
Num ápice descobrimos que a normalidade do nosso dia depende de fios invisíveis que entendemos como garantidos, mas que podem deixar de funcionar.

Tivemos receios e medos? Claro que sim! Em Gaza e em certas zonas da Ucrânia, o que aqui foram horas lá são dias, semanas e anos sem esperança de que a luz volte ou de que a comida ou água estejam disponíveis.

Mas foi no escuro que vimos outra luz, a das crianças a brincar, a jogar cartas, a conversar, os pais a cozinhar com brasas e fogões a gás…
Jantamos mais cedo, em família e a conversar enquanto havia luz do dia e deverá ser essa a reflexão a tirar, porque afinal o essencial é o essencial! E quando não há tecnologia, há mais humanidade!

Termino com uma frase do professor Carlos Fiolhais que sintetiza muito do que aconteceu “o digital apagou-se com o apagão.” numa época em que só falamos e defendemos o digital, há mais mundo para além do digital!

Susana Faria

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