Reportagem publicada na edição n. 1473 de 9 de Maio
O SF Jornal foi ao encontro da “Peregrinação Amor Por Ti 2025”, que reuniu cerca de 325 peregrinos do Tâmega e Sousa, numa manhã em que avançavam em união e devoção até à vila da Caranguejeira, em Leiria, numa das últimas jornadas rumo ao Santuário de Fátima.
Poucos quilómetros antes de alcançar o destino daquele dia, o grupo—facilmente reconhecível pelo icónico chapéu azul—fez uma pausa na localidade de Leão. Ali, entre o cansaço e a esperança, dedicaram momentos de repouso e oração diante da imagem da Senhora do Monte.
Apesar da exigência física de uma semana inteira a caminhar, o que mais se destacava entre estes peregrinos, muitos deles de Felgueiras e da Lixa, era a alegria e o profundo sentido de missão que os unia. Oriundos de praticamente todos os concelhos do Tâmega e Sousa e até do Grande Porto, sentiam que Fátima, a pouco mais de 20 quilómetros de distância, já estava ao seu alcance e a motivação crescia.

Entre rostos conhecidos e novos companheiros de jornada, constatava-se o que já era evidente: esta peregrinação, organizada há 37 anos por Adelina Maria Guimarães e família, era, de longe, a mais bem organizada e estruturada das que passaram em frente às lentes da reportagem, no final daquela manhã.
Antes, no pavilhão desportivo da vila onde se preparava a receção ao grupo, Elisabete Cunha, uma das filhas de Adelina, explicou como tudo começou: “A minha mãe, comerciante de fruta em Figueiró, Amarante, ia ao Mercado Abastecedor do Porto e cruzava-se com muitos peregrinos nas estradas nacionais. Via-os caminhar com esforço e achava o processo doloroso, ainda mais com a bagagem às costas. Como sabia que provavelmente nunca conseguiria chegar a Fátima a pé, fez uma promessa: auxiliar os peregrinos, transportando-lhes a bagagem.”



Além do transporte, Adelina preparava refeições, negociava locais para pernoita e assegurava outras necessidades essenciais dos caminhantes. O projeto cresceu ao longo de mais de três décadas e meia, e após a paragem forçada pela pandemia da COVID-19, as suas filhas retomaram a iniciativa nos últimos três anos.
“O grupo tem aumentado ao longo dos anos, mas chegou a um ponto em que não pode crescer mais. Em termos de logística, o máximo que conseguimos acolher é cerca de 350 peregrinos”, revelou Elisabete, que faz parte da organização há 27 anos e até realizou um estágio do seu curso de enfermagem no apoio à peregrinação. Manuela, a irmã mais velha, também enfermeira, acompanha-a na equipa de apoio.
Este ano, para além dos 325 peregrinos, a iniciativa contou com 75 elementos de apoio e uma frota de 16 veículos. Entre pequeno-almoço, almoço e jantar, são servidas diariamente cerca de 1200 refeições. O suporte à organização vem de diversos quadrantes, incluindo as câmaras municipais de Felgueiras, Amarante, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Fafe, além dos Bombeiros da Lixa e várias empresas da região.
Mesmo com uma estrutura bem organizada e planeada para o grupo de peregrinos participantes, há sempre espaço para acolher quem mais precisa: “Nunca dizemos não a outros peregrinos. Muitas vezes aparecem-nos caminhantes solitários ou em pequenos grupos, que se separaram dos seus grupos originais ou que enfrentam dificuldades por falta de planeamento”, revelou.
Um dos exemplos marcantes ocorreu há dois anos, quando um pai e os seus filhos chegaram “só com uma mochila às costas, sem colchões nem cobertores. Acabámos por os adotar e arranjámos o que lhes faltava”, contou Elisabete.
Um “Amor por Ti” que é um verdadeiro sentido de missão
Para a enfermeira Elisabete, que tira dias de férias para se dedicar à organização da peregrinação “Amor Por Ti”, o que a move são sobretudo os peregrinos mais vulneráveis, que necessitam não apenas de apoio físico, mas também psicológico.
“Há muita gente que vem e que não precisa de apoio, mas há outros que nos aparecem num estado psicológico tão baixo que precisam daquele ´abracinho` especial para poderem prosseguir, não só na caminhada, mas na vida”, revelou.
Por isso, esta peregrinação não é apenas um percurso espiritual—é um espaço de acolhimento e renovação. “Sempre digo que isto tem de continuar, porque há realmente muita gente que necessita deste apoio especial”, concluiu.