Leia o artigo de opinião publicado na edição 1472 de 29 de abril
A direita portuguesa perdeu a coragem e a clareza. Envergonha-se dos seus princípios, pede desculpa por existir e entrega a cultura política à hegemonia da esquerda. Está na hora de recuperar a voz e a convicção.
Artigo:
Há um vírus mais sorrateiro do que qualquer pandemia: a vergonha ideológica. E esse vírus parece ter feito ninho no coração da direita portuguesa. Sim, a direita tem vergonha de ser direita e quem disser o contrário ou está distraído, ou anda a fingir.
Os nossos supostos líderes conservadores caminham de cabeça baixa, pedindo desculpa por existir, com medo de serem rotulados de “reacionários”, “fascistas” ou “retrógrados”. Em vez de baterem o pé, ajoelham-se perante os dogmas progressistas, vestem o uniforme do politicamente correto e declaram-se “moderados” esse termo assexuado que serve apenas para agradar à esquerda e trair os princípios.
Mas quem é que nos representa verdadeiramente? Onde estão os que defendem a autoridade da família, a soberania da pátria, a ordem, o mérito, o respeito pelas tradições e a liberdade verdadeira?
Enquanto isso, a cultura de género entra pelas escolas adentro. O Estado continua a tratar os cidadãos como crianças incapazes. A justiça está refém da ideologia. A família, essa célula essencial da sociedade, é desvalorizada ou, pior ainda, atacada.
E a resposta da direita? Silêncio, ou pior, conivência.
Falam de liberdade, mas aceitam leis que impõem ideologia de género nas escolas. Falam de economia de mercado, mas não têm coragem de enfrentar o monstro fiscal. Falam de corrupção, mas não limpam a própria casa. Falam contra a esquerda, mas recrutam o “refugo” do bloco e do pan. Falam de patriotismo, mas isso não passa de chavões. Falam mal da esquerda, mas aceitam e confirmam as suas propostas. E, quando se trata de defender valores cristãos, torcem o nariz como se fosse pecado.
A esquerda não tem este problema. A esquerda acredita no que diz, por mais absurdo que seja. A esquerda doutrina, impõe, cancela, grita. A direita, pelo contrário, tenta agradar, negociar, parecer simpática. Fofinha.
Mas a política não é um concurso de popularidade, é uma guerra de ideias. E numa guerra, quem pede desculpa antes de disparar, já perdeu.
O saudoso Sir Roger Scruton dizia que o conservadorismo é antes de mais, um gesto de amor. Amor à nossa herança, à nossa civilização, às coisas que resistiram ao tempo porque tinham valor. Mas hoje, até isso parece “radical”. Defender a família é radical. Acreditar na autoridade dos pais é radical. Dizer que há dois sexos é radical. Defender fronteiras é xenofobia. Defender a vida é “fanatismo religioso”.
A direita precisa de reaprender a dizer “não”. Não, à agenda identitária. Não à cultura do aborto. Não à infantilização da sociedade. Não ao Estado que tudo absorve. Não à destruição da nossa história.
E, acima de tudo, precisa de reaprender a dizer “sim”. Sim à autoridade. Sim à responsabilidade. Sim à liberdade com raízes.
Está na hora de sermos claros. A direita tem de deixar de pedir licença para existir. Ser conservador não é andar para trás.
Está na hora de recuperar a coragem. Está na hora de deixar de pedir desculpa por sermos quem somos. Portugal precisa de uma direita que fale sem medo, que enfrente os dogmas culturais da esquerda com a cabeça erguida.
Ser de direita é impedir que o país caia no abismo. É, aliás, o último reduto de sanidade num mundo que perdeu o norte.
E se isso incomoda alguns? Melhor ainda. Afinal de contas, como dizia Burke: “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.”
Jorge Miguel Neves