Artigo de opinião publicado na edição impressa n.º 1471
Portugal viveu recentemente a queda repentina de um governo que mal tinha aquecido o lugar. A coligação da AD chegou com promessas de estabilidade e seriedade, mas rapidamente se viu envolta em notícias que comprometem a ética e a dignidade exigíveis a um Primeiro-Ministro. Longe vão os tempos em que a decência e o sentido de responsabilidade política eram a bitola. Recordemos, por exemplo, um anterior Primeiro-Ministro que, perante um mero parágrafo, colocou de imediato o seu lugar à disposição. Hoje, vemos Luís Montenegro completamente agarrado ao poder, arrastando consigo um governo inteiro.
Entre casos e casinhos que continuam a surgir, vamos assistindo a uma autêntica maratona de campanha eleitoral. O melhor exemplo disso foi o Conselho de Ministros no Mercado do Bolhão, para o qual foram também mobilizados militantes partidários, num total clima de campanha. E, como cereja no topo do bolo, o anúncio da candidatura do ministro Pedro Duarte à Câmara Municipal do Porto.
Pese embora, o ministro Leitão Amaro tenha garantido que este governo da AD nunca usaria os meios do Estado para fazer campanha. Pois bem, se esta é a nova bitola da ética republicana, está mais baixa do que nunca.
E agora? Como será o futuro? Que condições existirão para garantir a governabilidade do país?
Os acontecimentos recentes mostram que as sondagens nem sempre conseguem prever com rigor os resultados eleitorais. No entanto, são uma indicação. As mais recentes (Católica, 3 de abril) apontam para um empate técnico entre PS e PSD. Ainda assim, há uma clara predominância de direita nas intenções de voto. Luís Montenegro já contou não uma, nem duas, mas três vezes com o sentido de responsabilidade do PS: na viabilização do governo, na eleição do Presidente da Assembleia da República e na aprovação do Orçamento do Estado, através da abstenção do PS.
Caso o PS vença com maioria relativa, poderá esperar o mesmo sentido de Estado por parte do PSD? Ou veremos o PSD recorrer ao Chega, se a Iniciativa Liberal não for suficiente, para garantir a estabilidade governativa? E, caso o PSD saia vencedor, será legítimo exigir ao PS a viabilização de um governo minoritário, depois de toda a opacidade e das sucessivas fugas às respostas por parte do Primeiro-Ministro?
São perguntas que merecem respostas claras, para que todos os portugueses possam votar com pleno conhecimento das circunstâncias.
Paulo Soares