InícioOpiniãoDepressão Martínez

Depressão Martínez

Artigo de opinião publicado na edição n.º 1470 de 28 de março de 2025

Na Quinta-feira, 20 de Março, foi o Dia Internacional da Felicidade, sendo que no dia anterior foi dia do Pai e nos seguintes, os Mundiais da Árvore e da Poesia (21) e da Água, (22).

A par de todas estas celebrações, ou datas, também tivemos que conviver com a Dissolução da Assembleia da República e a Depressão Martinho, esta última provocando elevados transtornos e prejuízos às pessoas e ao país.

Porém, e não tanto inesperadamente como possa parecer, também chegamos a viver 72 horas com a Depressão Martínez, tendo esta terminado por acção de uma nuvem carregada de ar quente chamada Trincão, que acabou por se sobrepor a uma outra de massa muita gélida oriunda da Escandinávia.  

Todavia, deste conjunto de acontecimentos o que mais importa reter respeita ao Dia Internacional da Felicidade.

Tendo falado com algumas personalidades diferentes sobre este assunto, depressa me apercebi da complexidade do tema, não só por constatar que para mais que muitos é fácil ser feliz com pouco, e para outros, é muito difícil ser feliz mesmo com mais.

Para a personalidade mais idosa que ouvi, com 90 anos, não obstante ter registado alguns momentos de infelicidade ao longo da vida, o mesmo foi sempre muito feliz, acrescentando que um momento especial dessa felicidade reside e residirá no propósito e na certeza de saber que irá morrer não deixando para os seus filhos dívidas ou quaisquer outros problemas para resolverem.

Por seu turno, para outra personalidade que também perscrutei, «ser feliz é estar sempre de bem com os outros, nomeadamente com a família. Que me lembre, só vivi dramáticos momentos de infelicidade quando a minha filha, que nessa altura frequentava o nono ano de escolaridade, sofreu um atropelamento bastante violento, sendo que fora isso, fui sempre e sou uma pessoa feliz».

«Fazer sempre o melhor e não fazer mal a ninguém, é um outro modo de eu ser feliz, disse-me ainda o meu interlocutor mais idoso».

Com uma grande mulher da cidade, hoje com 87 anos de idade, consegui obter registos de excelso valor. «Para mim, a felicidade é saber desde sempre e poder continuar a contar com o amor do meu filho, e desde há alguns anos a esta parte, também da nora e das netas, mas, e ainda, com a amizade de todos aqueles que diariamente comigo convivem e que tanto me cotejam. Isso, sempre me deu e continua a dar uma felicidade imensa à qual procuro retribuir com igual amizade».

Manifestando medo sobre o que está a acontecer no mundo, a mesma personalidade também me mostrou que nem sempre sente felicidade quando olha para a cidade, mormente quando todos os dias a sente e vê muito parada, social e economicamente. «Seria muito mais feliz se pudesse olhar para a nossa cidade vendo nela mais beleza e muito mais movimento. Ver hoje a Cidade como antes foi a Vila, com mais vida e se possível ainda com a Pérgula, faria de mim mais feliz. Mas, tendo em conta toda a vida que já vivi, posso e devo dizer que tive uma vida cheia de felicidade. Mas ainda não acabou!» – disse-me ela com um sorriso largo libertado no fim da conversa.

Porém, o que me deixou mais perplexo, foram as observações colhidas junto de um felgueirense ilustre, que vivendo há muitos anos em Vizela não se coibiu de manifestar infelicidade pelos parcos sinais de desenvolvimento registados nos últimos anos no concelho.

«Sendo muito importante o que se tem vindo a fazer no campo da criação de novas alternativas de emprego, isso não é tudo, sendo que viveria neste momento com mais felicidade se os centros das nossas Cidades e Vilas tivessem mais vida social, maior actividade económica e de lazer e melhor protecção para os sem-abrigo, mas, sobretudo, maior carinho pelos pobres».

«Tendo conhecido novos apontamentos de rejuvenescimento urbano, a cidade e o concelho mostram-nos poucas melhoras nos últimos anos e ao contrário de Lousada ou de Vizela, não ganharam melhor vida citadina nem redimensionamento central. Mais movimento, novas centralidades e melhor vida social é o que as Cidades e as Vilas do concelho precisam, pelo que sendo muito feliz pela vida, pessoal, familiar e social que construí, sê-lo-ia ainda mais se não visse o meu concelho e a sua cidade principal a padecerem das mesmas maleitas porque sofrem desde há décadas atrás».

«A pobreza reinante, a precaridade social e a pequenez política de quem nos tem governado constituem para todos nós um doloroso panorama de infelicidade, razão pela qual, não sendo só a vida pessoal de cada um a contar, contará muito mais tudo aquilo que nos rodeia, pelo que assim sendo jamais poderemos perspectivar coexistir com parâmetros muito elevados de felicidade», e ademais, digo eu, de absoluta felicidade!

OBS: Têxto escrito segundo o anterior Acordo Ortográfico.

José Quintela

Pub

Teco

Mais Populares

A sua assinatura não pôde ser realizada.
A sua subscrição foi realizada com sucesso

Subscreva a nossa newsletter

Pub

Sifac

Últimas