Na véspera do debate da moção de confiança e com a demissão do Governo dada como certa, o primeiro ministro deu uma entrevista à felgueirense Sandra Felgueiras, fiquei com a clara sensação que estava sereno e que defendeu com humildade a sua dignidade.
De facto, nos últimos dias, muito se tem dito, e ao que parece continuará a dizer-se, mas será que com razão?
Ouvir Luís Montenegro no dia anterior à moção de confiança fez-me acreditar que na política há pessoas íntegras, sérias e que não abdicam da dignidade que possuem.
Depois de chumbadas duas moções de censura e dos partidos de oposição utilizarem todos os argumentos possíveis e impossíveis para colocar em suspeição a imagem do Luís Montenegro, um dia antes de ser reprovada uma moção de confiança proposta pelo próprio Montenegro que foi chumbada e provoca eleições antecipadas, os portugueses tiveram oportunidade de ouvir as explicações do homem que é primeiro-ministro.
Montenegro respondeu às mais variadas questões colocadas, esclareceu exaustivamente as suas opções profissionais, falou da sua vida profissional, das suas estratégias, da sua família, dos seus investimentos, dos seus projetos… Foi, até, constrangedor assistir a explicações tão minuciosas sobre a sua vida…
Mas será que fala verdade ao país?
A mentira tem perna curta e todos sabem que nos dias de hoje tudo se descobre, nada passa ao escrutínio rigoroso da comunicação social e dos mais atentos. Terá este homem mentido à Nação?
Terá sido apenas imprudente? Deveria ter “vendido” a empresa a outro familiar, que não ao seu núcleo familiar? Terá cometido algum erro de análise, dada a circunstância das notícias que apareceram? Deveria ter dado explicações mais cedo?
Afinal, o primeiro-ministro nunca teve uma empresa imobiliária para usufruir de leis que criou, como se começou por sugerir…
O Luís Montenegro é advogado de profissão, tem um percurso profissional, tem um passado profissional e terá que ter um futuro…
É ou não natural que tenha tido outros projetos? Diria que sim…, criou uma empresa familiar, para realizar trabalhos de outros âmbitos, formou uma equipa para prestar serviços, especializou-se em matérias específicas. Até aqui, nada ilegal…
Mas então qual é a questão?
Acautelar o futuro da família e trabalhar para ter rendimentos e poder adquirir património não é legal?
Não é esse um objetivo de quem é empreendedor, trabalhador e sério?
Será legítimo precipitar eleições por suspeitas aparentemente “infundadas” sobre a sua atividade? Por aquisições imobiliárias em que se põe em causa a origem dos fundos? Por optar por dormir num hotel cinco estrelas em Lisboa, quando é o próprio que suporta a despesa?
Aparentemente… é normal, é legal!
E assistimos todos a um primeiro ministro “despir-se” por completo, contar tanto daquilo que é do foro pessoal, mas que o exercício dos cargos públicos determina que se faça. É o escrutínio a quem exerce tais cargos!
Mas a minha questão é, devem ou não os políticos ter vida profissional? Criar e possuir empresas? Possuir e gerir o seu património? Fazer investimentos?
O que sabemos é que a maioria dos portugueses não queriam eleições, que não percebem este tipo de regras e comissões de inquéritos, que estavam aparentemente satisfeitos com a governação… e também sabemos que o Luís Montenegro na dúvida dos portugueses quanto à sua conduta, preferiu que todos se voltem a pronunciar e em maio teremos eleições…
De lamentar é que o país pare, porque tem necessidade de evoluir, de crescer, de ter políticas que melhorem a vida dos portugueses e este é mais um impasse ao nosso desenvolvimento.
Desejo que seja a democracia a funcionar e que as pessoas vão votar para escolherem quem as deve governar…
Defendo o cabal escrutínio, e julgo que os esclarecimentos foram prestados, não terá existido má fé? A ver, vamos!
Esta situação deve fazer-nos pensar…
Quererão os portugueses, governantes que nunca geriram nada, que nunca decidiram, que nunca fizeram opções?
Quererão os portugueses, políticos profissionais que nunca tiveram uma profissão?
Quererão os portugueses, governantes que não foram capazes de administrar as suas vidas particulares e que se dispõe a administrar os recursos de todos?
Pois bem… serão os portugueses e os felgueirenses que terão de pensar bem nas escolhas que fazem, sendo certo que a maioria é que escolhe os governantes que gerem a riqueza que é de todos. Porque quem a cria somos todos nós.. há que escolher quem a administra!
Defendo os homens íntegros e com dignidade! Sabendo de antemão, que a dignidade e a honestidade não se compra.
Susana Faria