InícioOpiniãoA erosão dos valores democráticos

A erosão dos valores democráticos

Estamos a vivenciar um processo corrosivo, uma destruição deliberada dos alicerces que sustentam a liberdade e a civilização ocidental e que sob a máscara da democracia, vemos a ascensão da demagogia, do populismo vazio e da manipulação mediática. Em vez de líderes, temos atores; em vez de princípios, temos narrativas convenientes; em vez de instituições respeitáveis, temos arenas de espetáculo onde os valores são pisoteados ao sabor das conveniências do momento.
Estão a matar a política e a democracia, vivemos tempos de ódios e de perseguições na sociedade e na política.
O que pudemos assistir no passado dia 28 de fevereiro na “Sala Oval”, foi apenas mais um episódio da triste e infeliz novela em que a política se transformou: um espetáculo vazio, um reality show onde a substância cedeu lugar à teatralidade e ao jogo de aparências. A democracia, essa velha senhora já tão maltratada, continua a ser usada como desculpa para a sua própria erosão. Em nome da liberdade, descredibiliza-se a própria liberdade. Em nome da defesa das instituições, mina-se a sua autoridade. No fim, tudo se resume a isto: quanto maior o circo, menor o respeito pelas regras do jogo.
Talvez agora alguns percebam por que razão o “trumpismo” não é muito apreciado por estes lados, inclusive por mim. Não porque a alternativa seja mais nobre, longe disso, mas porque transformar a política num concurso de gritos e escândalos conduz, inevitavelmente, à sua decadência. O problema é que este espetáculo lamentável já não tem saída de emergência e somos todos forçados a assistir, quer queiramos, quer não.
O encontro entre Trump e Zelensky só veio reforçar aquilo que há muito se percebe: há duas Américas e uma delas está a destruir a autoridade moral da outra. O que se passou na “Sala Oval” foi mais do que um simples braço-de-ferro diplomático, foi um retrato anormal e cruel da decadência política do Ocidente. Sete momentos de tensão, um acordo por assinar e um líder ucraniano a lutar por apoio enquanto a Europa assiste, ora solidária, ora receosa, ora não sabe bem o que fazer.
A política deveria ser um exercício de responsabilidade, mas tornou-se um desfile de egos inflamados e narrativas convenientes. Governar deixou de ser um ato de visão e estratégia para se transformar numa disputa de popularidade. O pior de tudo? O povo, entretido com papas e bolos, continua a aplaudir, esquecendo-se de que, quando a democracia se torna um espetáculo, o final raramente é feliz.

Jorge Miguel Neves

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