Dos justos tributos…
Muitas pessoas se cruzaram e cruzam connosco, no tempo e no espaço do AELixa, Felgueiras, deixando profícua “pegada” e/ou “impressão digital”, marcas indeléveis, na História da Educação do nosso estabelecimento de ensino.
Há pessoas que fazem a diferença na qualidade das instituições, nas vidas dos seus alunos e dos demais; Pessoas que acrescem valor e dignidade aos locais que frequentam e/ou onde permanecem, quase impercetíveis, quase invisíveis, talvez por serem estas, associadas à humildade, as características dos verdadeiros Mestres…
É o caso da Pessoa que a nossa equipa escolheu para homenagear, neste nosso “ensaio” de aparição pública, e que divulgamos, para que haja Memória.
Falamos de um docente do nosso Agrupamento que, há décadas, continuadamente, é exemplo da busca de conhecimento (muito para lá do inerente à prática letiva) e partilha gratuita do mesmo, quer com os alunos, quer com os seus colegas e comunidade; e a quem já pecam, por tardias, estas nossas linhas e estas nossas palavras. O reconhecimento público (também) é uma virtude.
Quando chegou à nossa Escola (na época, Escola Secundária de Vila Cova da Lixa), era difícil abrir turma de Física A, no décimo segundo ano, mas com alguns contactos e esforços lá íamos conseguindo ter uma turminha de 10-11 alunos. Aos poucos, foi sendo conhecido o seu trabalho e a sua pessoa e a procura foi aumentando. Hoje, a turma de Física do 12º ano é sempre grande, se não a maior. Da nossa Escola saíram já muitos Físicos e Engenheiros que também fazem a diferença, cá dentro e lá fora (sim, “espalhados” pelo mundo).
Tirou a Licenciatura na Universidade da Covilhã (Universidade da Beira Interior – UBI) e fez Mestrado na Universidade do Minho (onde poderia estar a lecionar, se não o tivéssemos “desviado” argumentando que faria muito mais a diferença na abertura de saberes e horizontes para a Física e Engenharia, nos nossos alunos, no ensino secundário, ao prepará-los quer para a universidade, quer para a vida ativa).
Começou por criar o “Física na Lixa” partilhando, pro bono, as suas experiências com os alunos e colegas de Física e Química; este projeto rapidamente alargou o horizonte da sua influência, sendo consultado a nível internacional e estando ativo até ao presente.
Desde muito cedo, começou a divulgar a Ciência – Física e Química- no Jardim de Infância e nas escolas de 1º ciclo da Lixa, muito antes dos projetos “Ciência Viva” terem cá chegado. Os seus pares (Lurdes Almeida, Cidália Brochado) fizeram-lhe companhia nessas idas ao encontro dos mais novos, provocando-lhes o gosto e a curiosidade, prática esta que foi mantendo, mais tarde integrado no “Ciência Viva” e até com parceria das disciplinas de Ciências da Natureza e Biologia, até ao ano passado (tendo passado o testemunho, este ano, a outras colegas).
Quando lhe perguntámos «O que o faz investir tanto na parte experimental da disciplina de Física?», respondeu que «A Física não deve ser vista como algo abstrato ou apenas teórico, mas como a ciência que procura descrever e explicar o mundo onde vivemos. Para tal, é imprescindível recorrer a atividades experimentais que despertam a curiosidade, estimulam o pensamento crítico e desenvolvem a capacidade de resolução de problemas, competências essenciais para o futuro dos nossos alunos. A minha dedicação à preparação de experiências e de outros recursos nasce do desejo de captar o interesse dos alunos pela ciência, especialmente pela Física.»
Quisemos saber com que dificuldades se defronta, no exercício da profissão, no seu dia a dia, ao que respondeu que como professor, lida «diariamente com desafios que vão muito além do ensino propriamente dito. A burocracia excessiva retira tempo útil que poderia ser investido na preparação das aulas e no apoio dado aos alunos. A falta de recursos e condições adequadas para um ensino experimental de qualidade é outra dificuldade que, por vezes, nos deparamos. Apesar de tudo, continuo a acreditar na importância do meu papel enquanto docente e a procurar formas de superar estas dificuldades, sempre com o foco no progresso e no sucesso dos alunos.»
Há mais de 15 anos que trabalha em parceria com o docente Carlos Saraiva (do AE de Trancoso), partilhando, graciosamente, os seus trabalhos junto de colegas e de alunos, os quais reconhecem que lhes são muito úteis; os dois docentes já conquistaram vários prémios, alguns conjuntamente, resultado do seu trabalho colaborativo.
Têm publicado artigos na Gazeta de Física, na Revista Ciência Elementar, na The Physics Teacher e outros; têm partilhado, enquanto Formadores e formandos, nos Encontros da APPFQ, nos Ciclos de Conferências da UBI, nas Conferências Nacionais de Física e nos Encontros Ibéricos para o Ensino da Física, os seus trabalhos experimentais, sendo que também é coautor de um livro de exercícios de Física e Química A.
Dos prémios, destacamos, a título individual, o “Prémio André Freitas”- Prémio de boas práticas pedagógicas, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Física, em 2022; e, em 2024, alcançado conjuntamente com Carlos Saraiva, o Prémio “Lídia Salgueiro”- Melhor artigo publicado na Gazeta de Física, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Física.
Lembramos que, em 2018, 2019 e 2020, foi agraciado, tal como Carlos Saraiva, com um Prémio de Distinção, um Prémio de Mérito e uma Menção Honrosa, respetivamente, atribuídos pela Casa das Ciências, pelos seus recursos educativos.
Em 24 de novembro de 2024, integrou o Primeiro Mural “Alumni Science Wall of Fame” da Faculdade de Ciências da Universidade da Beira Interior, em reconhecimento do seu destaque pelo seu desempenho em termos científicos, académicos e/ou da sociedade em geral”.
Fez formação no C.E.R.N., na Suíça, e em Inglaterra , no Rutherford Appleton Laboratory e no Joint European Torus.
Integra, também, há décadas, a bolsa de Formadores do CFAEsousanascente e é membro do Conselho Geral do nosso Agrupamento.
Quando lhe perguntámos «Qual o conselho que daria a um aluno que lhe confidenciasse querer ser professor de Física?», o seu sorriso iluminou-se e referiu que «Os jovens que pretendem ser professores devem estar conscientes que a profissão tem desafios diários, mas também momentos de enorme gratificação. O desejo de ser professor deve ser encarado com paixão e determinação, mas também com a consciência de que é necessário um grande compromisso. A influência que um professor pode ter na vida de um aluno é incalculável e essa é a nossa maior recompensa. No entanto, a desvalorização da profissão e a falta de reconhecimento por parte das entidades responsáveis têm afastado os jovens, com talento e motivação, do exercício da carreira docente.»
É um colega estimado pelos pares, pelos alunos e por todos os que com ele privam.
É um docente que eu caracterizaria como “desassossegado” no que respeita às matérias e “ávido” de partilha das mesmas; de alma “limpa” no que concerne às energias; ciente “congregador” de forças (também humanas); “humilde” no trato; indubitavelmente, um bom exemplo do “pó de estrelas” de que somos feitos…
Quando, em molde de despedida, o questionámos sobre o que o faz continuar a investir na carreira, ou porque motivo ainda não desistiu do ensino, deu-nos uma pronta resposta: «O que me faz continuar é, em primeiro lugar, os meus alunos. Ser professor é, também, uma oportunidade de partilhar a beleza da ciência, de inspirar os jovens e de contribuir para um futuro melhor. Apesar dos desafios, a paixão pelo ensino e a importância que temos na vida dos alunos fazem com que valha a pena continuar. Como disse Albert Einstein, um dos maiores génios da Física, “há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atómica: a vontade”. E é essa vontade de fazer a diferença que me move todos os dias.»
Por cá, conhecemo-lo como prof. Albino Rafael, ou Rafael, (Binito para os amigos).
Ao docente, ao colega, ao amigo… um grande “Bem Haja”!!!
Que orgulho tê-lo entre nós!!!
Lina Marinho (docente da equipa do JSP,
com o contributo das perguntas para entrevista da Mariana Costa e do Rui Azevedo, ambos do 12º ano de 2023/2024, ex membros do JSP e ex seus alunos)