Reportagem publicada na edição 1468 de 28 de fevereiro de 2025
Hugo Marinho, 48 anos, é mais do que um cozinheiro numa empresa de construção civil especializada em obras públicas: é a essência do Carnaval da Longra. Natural de Varziela, Hugo mudou-se para Sernande há 23 anos, pelo casamento, e desde então nunca falhou um único desfile carnavalesco, nem mesmo durante a pandemia de Covid-19.
“Quando vi o primeiro Carnaval, nasceu algo em mim”

O envolvimento de Hugo com o Carnaval da Longra, onde participa há 23 anos, começou no momento em que assistiu ao seu primeiro desfile. “Quando vi o primeiro Carnaval, nasceu algo em mim. Foi logo um bichinho que apanhei, achei piada, pois ando sempre na brincadeira, seja onde for, no trabalho, ou noutras situações. Apesar da idade que tenho, sinto-me uma criança”, conta.
Para ele, o Carnaval é uma forma de escapar da realidade e de afastar os dias tristes. “Não se pensa em nada, não há tristeza. É como tocar bombos, é só dar nele (no bombo). Também gosto de ver as pessoas felizes, a alegria na cara delas. É uma vila pequena, somos poucos, mas quando chegamos aqui ao início da avenida, parece-me logo que somos muitos, fico mesmo admirado”, explica.
Hugo tem uma predileção por disfarces que arrancam gargalhadas. Geralmente vai disfarçado de mulher, mas tenta fazer com que sejam “engraçadas, que tentem cativar as pessoas a assistir”, diz.
No ano passado, por exemplo, desfilou como peixeira, levando consigo sardinhas frescas. Nos anos anteriores, assumiu os papéis de médica e criança veterinária, entre outros. Para este desfile na Longra, no próximo dia 4, já tem o tema decidido: será a senhora dos tremoços de Varziela, uma figura lendária naquela freguesia, mas por razões pouco salutares.
“Lá vai o tolinho, sozinho, outra vez”
Durante a pandemia de Covid-19, quando as festividades foram canceladas, Hugo Marinho manteve a chama do Carnaval acesa. “O Carnaval não pode terminar, nem devido à pandemia. Esse bichinho que está em mim tem de continuar, na mesma, seja sozinho, seja em desfile. É preciso arranjar forças onde não as há”, declara com determinação.

Mesmo com as restrições, esfilou sozinho pelas ruas da vila, levando alegria a um lar de idosos, para animar os utentes “e afastar a tristeza” daqueles tempos. “Lá vai o tolinho sozinho, outra vez, ouvi dizer. Mas depois também fui a um lar de idosos, em Barrosas, para afastar a tristeza que se vivia, naqueles dias. Sobretudo, gosto de brincar, de fazer das minhas”, relembra com um sorriso.
Questionado sobre a razão pela qual muitos homens se disfarçam de mulheres no Carnaval, Hugo responde com humor: “Homens já somos, durante o resto do ano. É divertido, sobretudo pelo vestuário, há muito por onde escolher, torna-se mais engraçado”.
A preparação para o seu desfile no Carnaval da Longra começa muito antes da festividade. “Estou sempre a pensar que tipo de personagem vou escolher. Depois, no próprio dia, a minha esposa é quem me ajuda. Também é o dia em que rapo a barba (mais risos), a única vez que o faço durante o ano”, revela.
Apesar do entusiasmo de Hugo, a sua filha não partilha da mesma paixão pelo Carnaval. “Nisso, não sai ao pai, não alinha”, admite.
Embora a filha não se envolva nas festividades, Hugo não está preocupado com o futuro do Carnaval da Longra. “Somos uma vila pequena, mas a juventude alinha nestas coisas, não me preocupa”, conclui.
Paulo Alexandre Teixeira