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Requiem por Pinto da Costa

Com este texto termino a intervenção regular que, de edição em edição, tenho vindo a escrever sob a rubrica “O FUTURO FOI ONTEM“, sendo que em próximas edições e sob outra rubrica, aqui estarei, desta feita para abordar outras frentes de escrita de âmbito mais global, e desde logo, e em jeito de começo, para falar das eleições presidenciais de Janeiro de 2026, e consequentemente, da desnecessidade de virmos a ter António Vitorino como Presidente da República.

No entretanto, e “a talhe de foice”, não poderia ter encontrado tema de tão grande relevância para encerrar esta rubrica, porque, olhando para a vida desportiva, social e cultural de Jorge Nuno Pinto da Costa, dificilmente poderemos deixar de concluir que, afinal, o “Futuro foi (mesmo) Ontem”.

Desde logo, e desde 1976, quando se tornou director de futebol do F.C. do Porto, mas com mais enfoque, quando em Abril de 1982, pela primeira vez, chegou à presidência do clube.

Pinto da Costa, que enquanto presidente conquistou 2.588 títulos nas diversas modalidades, 69 dos quais na área do futebol, não era só um homem do desporto, mormente do futebol, porque também foi um vincado humanista com elevada dimensão social e cultural.

Foi, também, um peso muito forte na vida regional e um fervoroso adepto da criação e implementação das Regiões Administrativas no País.

Marcou sobremaneira o clube, a cidade, a região norte e o país, sendo que o crescimento do clube e da cidade se encontram indelevelmente ligados. Outrossim, também sempre usou com elevada mestria e elegância o futebol para carregar e enaltecer a bandeira da regionalização.

DR André Moniz

Com ele, o ADN do clube renasceu em 1982, tornando-se desde aí e por mais de quarenta anos num fascínio para os sócios e dos adeptos.

Por isso é que, num momento particularmente oportuno, terno e feliz, André Villas Boas o imortalizou com o cognome de o “Presidente dos presidentes” porque o seu legado, não sendo reversível, perdurará com ele para a eternidade como um acontecimento irrepetível.

Porém, Pinto da Costa também foi um homem da cultura, destacando-se desde muito cedo, e para todo o sempre, as suas conhecidas paixões pelo fado e pela poesia.

Declamar trechos poéticos de António Nobre, Fernando Pessoa e José Régio constituíram momentos especiais da sua vida, o último em Outubro de 2024, quando em Lamego, depois de uma intervenção musical a cargo de Tony Carreira, num improvisado recital de poesia, durante trinta minutos, declamou trabalhos desses e de outros autores.

O “Cântico Negro – (sei que não vou por aí), de José Régio, sempre me pareceu ser um dos seus poemas favoritos, e o qual, sendo muito extenso e de complexa decoração, foi por ele tantas vezes recitado com igual mestria e perfeição até ao fim dos seus dias.

Pinto da Costa também era um homem do fado, que gostava de ouvir e de cantar. Com alguma frequência era visto em Lisboa nas boas casas dessa especialidade, não só para ouvir, mas, também, e não raras vezes, para deliciar os seus amigos e os demais presentes com o seu profundo e encantatório modo de cantar o fado.

Por isso é que, a poesia, que em momentos especiais de fascínio tantas vezes declamou, ficará para sempre exposta ao lado dos imensos títulos desportivos que enquanto líder do F.C. do Porto granjeou.

Presentemente e no futuro, teremos que aprender a viver com o legado da sua ausência, não esquecendo, jamais, que Pinto da Costa foi quem revolucionou o clube, tendo-se constituído, também e para sempre, num eterno destemido na luta contra o centralismo de Lisboa, não só no desporto, mas também noutros domínios.

Tendo nascido no dia dos Santos Inocentes, Jorge Nuno Ponto da Costa considerou um dia que nunca foi um santo, mas como também sempre o disse, “anjinho não sou (nunca foi) de certeza”.

Tendo sido um homem gigante na vida do futebol, Pinto da Costa também foi sempre um Super-Dragão apaixonado pelas outras modalidades, e daí os 2.591 troféus conquistados ao longo da sua longa vida desportiva, especialmente enquanto presidente do F.C. do Porto.

Procurar reduzi-lo apenas a uma personalidade do desporto e do futebol é manifestamente muito pouco, porque, tendo sido Pinto da Costa um magnífico aluno de Português, Francês e Música, todos os seus percursos de vida mostraram a saciedade que foi muito mais, e ademais, um homem da cultura com um porte muito expressivo no campo da solidariedade social.

Daí a subtileza deste registo em formato de Requiem, para aprimorar o portismo de milhares de felgueirenses

José Quintela 

OBS: Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico

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