Mal chegara o novo ano de 2025 e a notícia correu célere, ainda mais agora com esta nova moda de comunicar a necrologia através de um simples passar dos dedos no que se tornou ser o equipamento com maior persistência e proximidade no nosso dia a dia – o telemóvel.
Armindo Soares Teixeira falecera neste segundo dia do calendário deste Janeiro de 2025, quando contava 86 anos.
Conheci o Armindo Soares Teixeira no ano de 1978, quando a convite dele próprio, mas por intermediação de um amigo comum, ingressei numa das suas empresas – a Fábrica de borrachas Guiarco.
Nesse quase final da década setenta do século passado, Armindo “Pepino” era já industrial, tomando-se depois um empresário com relevância no meio da indústria em Felgueiras, com valiosos e variados contactos com alguns empresários de dimensão nacional.
Nascido na freguesia de Sendim, Armindo, como o seu irmão Armando, frequentara a oficina de “mestre” Firmino da Costa Leite, uma verdadeira escola de aprendizagem e formação profissional na arte de tornearia e serralharia.
Empreendedor, com enorme pressa e vontade de se afirmar, criou a sua própria empresa de serralharia – Armindo Soares Teixeira & Cia, Lda., com sede no lugar da Estrada Nova em Várzea.
Essa actividade de serralharia tornou-o próximo do maior empresário do setor da cortiça em Portugal – Américo Amorim – com quem encetou importantes negócios.
Primeiro, na construção de gigantescas prensas hidráulicas destinadas à produção de placas de aglomerado de cortiça “prensada” na Corticeira Amorim.
Mais tarde, o negócio avolumou-se pela decorrência de importantes transações comerciais de compra de matéria prima – borracha – que ele transformava na sua nova unidade de produção de solas de borracha para a indústria de calçado – Fábrica de Borrachas Guiarco, Lda…
Esses materiais que a Corticeira recebia do Leste Europeu, dos chamados países da “cortina de ferro” – Bulgária, Hungria, Roménia, Geórgia e doutros estados que eram também produtores de vinho, importando as rolhas pela troca direta com borracha sintética, um derivado do petróleo abundante nas refinarias desses países do leste europeu, ao tempo na órbita de influência e do domínio da URSS.
Essa nova indústria das borrachas haveria de se tornar a sua “menina dos olhos” por diversas razões.
A iniciativa era uma novidade no meio da indústria local, surgindo como uma oferta alternativa à então dependência da indústria de calçado a norte do rio Douro, no fornecimento de solas e demais componentes, provenientes de empresas da zona de S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis.
A sua insistente vontade de obter conhecimentos acerca das transformações químicas inerentes ao manuseamento da borracha, a que aliou o saber e domínio da técnica na construção das prensas hidráulicas na sua serralharia, garantiram-lhe competitividade e também uma elevada rentabilidade da sua nova indústria.
Armindo Soares Teixeira, rapidamente conquistou assinalável notoriedade no meio empresarial através das suas indústrias e dos seus negócios bem sucedidos.
O sucesso das actividades industriais de Armindo Soares Teixeira, ajudou e fomentou a criação de várias outras indústrias e da sua participação em empresas e negócios de outros setores, constituindo-se como um efetivo grupo económico de empresas.
Na decorrência dos anos 80/90 do século XX, Armindo Soares Teixeira associou-se a conhecidos empresários que, sentindo e antevendo o “boom” desenvolvimentista do setor imobiliário e da construção, nomeadamente em Felgueiras, nos finais das décadas referidas, quebraram algum do seu entusiasmo pela indústria transformadora.
A actividade imobiliária, a compra de terrenos para infraestruturar e a sua participação em empresas de construção civil em formação, foram os passos seguintes da sua realização empreendedora.
São os anos do surto de crescimento urbano em Felgueiras com a transformação dos terrenos que, até então, eram pertença, legítima, mas intocável, ocupados por quintas e casais rurais na posse hereditária das famílias tradicionais, que, no centro, impediam o crescimento e o desenvolvimento urbano.
Esses espaços, então eminentemente rurais, haveriam de ceder à pressão urbanística em crescimento, perímetros de terrenos altamente valorizados, que poderiam agora receber as avenidas novas e com elas viriam também os novos edifícios comerciais e habitacionais da cidade.
Armindo Soares Teixeira acompanhou a dinâmica de desenvolvimento desse período e tornou-se num agente participativo nesse movimento de construção e renovação de importantes unidades habitacionais, comerciais e de serviços, predominantemente na cidade de Felgueiras.
Relevante foi a sua participação na empresa de construção “Socofel”, promotora de alguns dos edifícios mais marcantes da cidade de Felgueiras datados nesse período. Criou, alguns anos depois, a sua “Imobiliária Impacto”, promovendo o crescimento da cidade na direção norte onde implantou importantes edificações urbanas.
Na área agrícola é reconhecido um ato de aquisição de um imóvel relevante sob o ponto de vista do interesse patrimonial e da tradição rural da região – a Casa de Cramarinhos em Moure – mas que não viria a ter projeção nessa actividade. Acabaria, mais tarde, por alienar esse imóvel.
Armindo Soares Teixeira deixa a marca indelével de um cidadão que muito bem caracteriza o “ser-se felgueirense”.
Um “self made man” que se fez por si próprio, subindo na vida, apesar de ter começado com nada ou muito pouco.
Perspicaz, inteligente, trabalhador e … muito empreendedor.
Com algumas citações resumidas nestas frases, Armindo deixou um guião e uma forma muito peculiar, aqui resumida, onde se destaca o modo como se posicionava perante alguns aspetos da vida:
“A inteligência é pertença de cada um, que deve utilizá-la a seu favor, direcionando a sua utilização também para os outros!”
“O trabalho nunca acaba, mas usa-o moderadamente, não exageres!
Trabalho em demasia não garante um resultado correspondente!”
Trabalhar, trabalhar, trabalham os que, dia a dia, descem até à Escavanca e ao Corvete (os burros dos moleiros de Jugueiros e Sendim) e, de lá sobem, sempre carregados. No entanto, apesar de tanto trabalho, não alteram a sua condição de burros de carga…!”
“Deixa tempo para desenvolver o pensamento e cria novas ideias!”
“Procura os amigos e ouve-os calado, mas com muita atenção!
Alguns deles ensinam mais que um livro aberto!”
“Lança iniciativas baseadas nas tuas próprias ideias!”
“Dinheiro!? Há sempre muito dinheiro! Ele está feito e anda por aí! Precisas apenas que ele (o dinheiro) se desloque para onde estão as tuas iniciativas!”
“Cria laços de confiança! Eu posso viver com pouco dinheiro, mas… preciso sempre de crédito!”
Armindo Soares Teixeira
Este é o cidadão nascido em Sendim!
Que soube contornar as limitações que o contexto do seu tempo e da sua origem muito modesta, poderiam ter condicionado.
Tornou-se um exemplo seguido por muitos dos que, a seu tempo, o serviram e que, mais tarde, lançaram negócios e empresas que são hoje importantes centros de criação de emprego e de riqueza em Felgueiras.
Deixou a sua mão na participação ativa em algumas das organizações económicas que ajudaram a construir a cidade e o concelho.
Criou emprego, fomentou desenvolvimento, património e riqueza.
Reservado e discreto, Armindo viveu sobretudo para dentro dele próprio e da família!
Partiu no segundo dia do calendário deste mês de Janeiro de 2025!
O concelho de Felgueiras tem uma dívida de reconhecimento e gratidão pela sua vasta ação, correspondente aos seus 86 anos de Vida!
Manuel Faria