Vivemos tempos em que a política desilude cada vez mais e não é difícil perceber porquê: casos de corrupção, furtos, tráfico de influências, dinheiro escondido e muitos outros escândalos enchem quase diariamente as notícias. Isto cria aquela sensação de que “são todos iguais”, mas será mesmo assim?
Edmund Burke dizia que “a sociedade é um contrato entre os vivos, os mortos e os que ainda hão de nascer”. Este pacto só funciona com confiança nas instituições. Quando essa confiança desaparece, ficamos sem rumo, sem líderes éticos para guiar a sociedade.
Ainda assim, não é justo meter todos os políticos no mesmo saco. Sim, há quem ande lá pelos piores motivos, mas também há muitos que trabalham com dedicação e seriedade. O problema é que os maus exemplos falam mais alto e fazem parecer que está tudo podre.
Os eleitores, com razão, sentem-se traídos. Quando votamos esperamos que os interesses do povo estejam acima de tudo. Quando isso não acontece, a indignação é natural, mas dizer que “são todos iguais” não resolve nada. Se desistirmos da política, deixamos o caminho livre para que os piores continuem no poder.
Como Burke dizia: “o mal triunfa quando os homens de bem nada fazem”. Precisamos de mudanças a sério. Justiça mais rápida, partidos que afastem corruptos e eleitores mais atentos. Não dá para continuar a fingir que não vemos o que está mal, seja com silêncio ou indiferença.
Há ainda outra questão que não podemos ignorar: o silêncio cúmplice de muitos. Quantos no meio político, sabem das falcatruas dos colegas, mas escolhem virar a cara? A ética não é uma questão de conveniência, é a base de qualquer sociedade saudável. Tolerar o intolerável, mesmo que em silêncio, é uma forma de compactuar com o declínio. A solução para este fenómeno não reside apenas em leis mais duras ou em discursos inflamados. Reside na regeneração moral da política, na escolha de líderes que compreendam que ser eleito é servir, e não ser servido. Reside em nós, os eleitores, que devemos aprender a separar o trigo do joio e não ceder à tentação fácil de pintar todos com o mesmo pincel. Afinal, a virtude e a sabedoria devem ser os guias de uma sociedade que se quer próspera e livre.
Jorge Miguel Neves