“As novas tecnologias desenvolvem um mundo onde a informação viaja mais depressa do que a verdade, e onde a busca pela atenção frequentemente triunfa sobre a busca pela sabedoria.”
Vivemos num tempo em que as redes sociais estão por toda a parte. Moldam não só como comunicamos, mas também como pensamos, reagimos e acima de tudo, como participamos na vida política. Plataformas como Facebook, Twitter, Instagram e TikTok tornaram-se em verdadeiros palanques digitais. Nessas plataformas, políticos discursam, cidadãos respondem e opiniões ganham forma num piscar de olhos. No entanto, esta revolução digital traz consigo oportunidades e também desafios que não podemos ignorar.
Há não muito tempo, a comunicação política dependia quase exclusivamente dos jornais, das rádios e televisões. Hoje, basta um “tweet” ou uma publicação no Facebook para um político chegar diretamente a milhões de pessoas. Esta proximidade tem um valor inquestionável, a mensagem chega sem intermediários, o diálogo é direto e há uma sensação real de proximidade. Os cidadãos podem questionar, criticar ou elogiar, enquanto os políticos têm a oportunidade de mostrar um lado mais humano, mais acessível.
Além disso, as redes sociais democratizaram o acesso à discussão política. Qualquer pessoa, com um telemóvel na mão, pode denunciar injustiças, mobilizar-se por causas importantes ou lançar movimentos sociais que ultrapassam rapidamente as fronteiras do mundo digital para gerar impacto no mundo real.
Mas nem tudo é positivo neste palco virtual. A liberdade de expressão, pedra angular das democracias modernas, enfrenta ameaças constantes com a propagação desenfreada de desinformação e o crescimento do discurso de ódio. As famigeradas “fake news” têm uma capacidade devastadora, influenciam eleições, minam a confiança nas instituições e alimentam a divisão numa sociedade já fragilizada.
Os algoritmos, desenhados para nos manter agarrados aos ecrãs, acabam por criar autênticas bolhas de informação. Nestes espaços, as pessoas são expostas apenas a conteúdos que reforçam as suas crenças pré-existentes. O resultado? Mais radicalização e menos espaço para o diálogo ou para a construção de consensos.
Como podemos então equilibrar a liberdade de expressão com a responsabilidade “online”? Esta é sem dúvida, uma das maiores questões do nosso tempo. As plataformas digitais têm de ser mais proativas no combate à desinformação, mas sem nunca se transformarem em juízes do que pode ou não ser dito. Ao mesmo tempo, cabe a nós, utilizadores, cultivarmos uma maior literacia mediática. Precisamos de aprender a distinguir fontes credíveis, a questionar conteúdos sensacionalistas e a denunciar discursos de ódio.
As redes sociais são, sem sombra de dúvida, uma ferramenta poderosa para aproximar os cidadãos da política e fortalecer a democracia. Mas também podem ser usadas para manipular, dividir e corroer os valores democráticos.
A solução não passa pela censura nem pela retirada das redes do debate público. O caminho está na criação de mecanismos eficazes de regulação, mais transparência e uma cultura de responsabilidade partilhada. O futuro da política digital dependerá da nossa capacidade de equilibrar liberdade com ética, inovação com responsabilidade e progresso com a proteção dos valores que nos definem enquanto sociedade.
No final de contas, as redes sociais são apenas isso, redes. E como qualquer ferramenta, o seu impacto depende sempre de quem as utiliza e com que intenção.
Jorge Miguel Neves