“Os centros urbanos deveriam ser máquinas de conexão entre pessoas, ricos e pobres, negros e brancos, jovens e velhos. Caso contrário, falham na sua missão mais básica e deixam de ser lugares de oportunidades.”
Nos últimos anos muito se tem escrito e falado sobre o conceito de “cidade dos 15 minutos” apresentando-se como uma proposta inovadora para o planeamento urbano, onde todos os serviços essenciais estão acessíveis num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta. A promessa é atrativa: menos poluição, mais tempo livre, comunidades mais coesas e vidas mais saudáveis. No entanto, persiste uma questão crucial que não pode ser ignorada: a liberdade individual e o direito de cada cidadão em escolher como e onde deseja viver.
Não se discute que a ideia parta de uma boa intenção. Menos trânsito, menos poluição e mais tempo para o lazer são, sem dúvida, objetivos desejáveis. No entanto, ao reduzir a dependência do automóvel, não estaremos também a reduzir a liberdade de escolha? Quando os governos começam a definir como devemos deslocar-nos e onde devemos viver, cria-se um precedente perigoso. Poderá esta ideia, por mais ecológica que seja, transformar-se numa forma subtil de controlo estatal?
Para muitos, esta proposta pode parecer uma solução para os desafios urbanos contemporâneos. Ainda assim, há quem veja nela uma tentativa de limitar a liberdade de movimentos. A analogia feita por alguns críticos com um “campo de concentração urbano” pode parecer exagerada, mas revela um medo genuíno: o receio de que a proximidade imposta se torne numa forma de confinamento, onde a liberdade de ir e vir seja progressivamente restringida.
Sustentabilidade sem Imposição
É urgente resolver problemas como a falta de transportes públicos, o congestionamento urbano e a poluição, e a “cidade dos 15 minutos” apresenta-se como uma solução possível. Mas é fundamental que esta proposta não se transforme numa espécie de ditadura urbana. A sustentabilidade deve ser um objetivo a alcançar, mas nunca às custas da liberdade individual. Cidades mais sustentáveis não podem significar cidades onde se é forçado a viver de uma determinada forma.
O sucesso deste modelo depende de políticas flexíveis e voluntárias, que permitam que cada indivíduo escolha o seu estilo de vida. Se alguém deseja morar perto do trabalho para poder caminhar até lá, excelente! Mas se outro prefere viver na periferia e conduzir o seu veículo, essa escolha deve ser igualmente respeitada. Uma sociedade livre é aquela que oferece opções, e não imposições.
A “cidade dos 15 minutos” pode ser uma resposta inteligente para os desafios do urbanismo atual, mas deve ser implementada com cuidado para que não se transforme numa forma de controlo. A liberdade e a autonomia são valores fundamentais que não podem ser sacrificados em nome de uma visão unilateral de sustentabilidade.
Como disse George Washington, “a liberdade, quando começa a criar raízes, é uma planta de rápido crescimento”. Que as nossas cidades sejam solo fértil para essa liberdade, e não um espaço onde ela seja podada.
Por Portugal
Pelos portugueses
Jorge Miguel Neves