Estou triste, bastante triste com várias situações que observo na sociedade.
Penso que não estou a desempenhar adequadamente o meu papel de professora.
Atrás de qualquer profissional (médico, solicitador, advogado, psicólogo, empresário, agricultor, juiz, terapeuta, advogado, florista, assistente social, operário, construtor civil e outros…) estão os ensinamentos da família e da sociedade. Nesta, faz parte o professor, que longo de 15 a 20 anos, dispõe de muitas, mas de muitas horas, na formação de vários seres humanos, homens do futuro que não podem descurar o sucesso humano e ético, do financeiro.
Nos últimos dias tive conhecimento de uma situação que faz interrogar-me e duvidar do meu papel na sociedade, enquanto docente que, ao longo de 30 anos, contactou com mais de uma geração …
Não vou identificar as pessoas, porque o que interessa aqui é a situação, que ao longo da minha vida, nunca vi igual.
Em caso de divórcio e partilha da guarda dos filhos, existem sempre problemas, é certo… mas, os adultos têm o dever de minimizar esses problemas para o bem e para a saúde emocional e psicológica dos filhos.
Então, como é possível, a justiça retirar um filho a uma mãe, aos avós maternos, com os quais tinha uma vida feliz, estrutura e apoio emocional, para, à viva força, entregar essa guarda total ao pai, com o qual sente aversão, devido à violência doméstica que presenciou para com a mãe?
Como é possível, sem mais nem menos, devidamente documentados pela justiça, o menino ser retirado da Escola, escoltado pela GNR e ser entregue ao pai?
Onde está a humanidade de todos os intervenientes do processo?
Porque não trabalharam paulatinamente no sentido do menino perdoar e ter compaixão pelo pai… Esta forma abrupta vai ter melhores resultados? O menino, proibido de ter contacto com a progenitora ou com os avós maternos, vai passar a gostar do progenitor? É assim?? Ou vai temê-lo cada vez mais e ficar com sequelas psicológicas e emocionais para o resto da vida?
Como estamos a preparar os nosso alunos, futuros profissionais? Para as médias altas dos exames? Só para o sucesso financeiro? Para um dia tornarem-se adultos frios, desumanos que seguem à letra o que aprenderam no manual da universidade? E os valores da compaixão, do perdão, da tolerância, da solidariedade, da sensibilidade humana, da sensibilidade ambiental e da empatia?
É o que falta aqui neste caso – empatia e querer o melhor para o menino. E o melhor para o menino não é retirá-lo abruptamente dos braços da mãe e dos avós maternos para entregá-lo com frieza ao progenitor, tal e qual um objeto de pertença sua.
Os profissionais têm que ter empatia para tomar soluções assertivas, humanas, ponderadas, sempre com um único fim – o bem de todos os intervenientes e sobretudo do menino.
Portanto, estou triste, porque acho que não estou a preparar bem as crianças que são o futuro do nosso país. Porque se estivesse, não existiriam profissionais com decisões de tamanha frieza e crueldade, que só de pensar, fico com a impressão que regressamos à Idade Média.
Lúcia Faria