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Os poderosos também caiem e a regulação também falha

Arrancou a 15 outubro, dez anos depois dos factos, o julgamento do mega processo do Banco Espírito Santo, o gigante financeiro que caiu em agosto de 2014.

Será porventura um dos maiores da justiça portuguesa, não se consegue estimar a duração do caso, que envolve 18 arguidos, mais de 700 testemunhas e para cima 300 crimes.

Ricardo Salgado conhecido como “DDT – o “Dono Disto Tudo”, o rosto histórico do BES é a figura principal do caso. O antigo CEO é suspeito de ter cometido 65 crimes que incluem associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento, mas devido à demora do processo três desses crimes já prescreveram.

“Má gestão, ocultações e a queda que ninguém previu”. No dia 3 agosto 2014, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, anunciou ao país o fim do BES, a queda de um império perante a alegada “evidência de falhas de controle e atos de gestão danosa“.
Afinal de contas, a sentença passada aos contribuintes foi decidida, com a separação do BES (banco mau) do Novo Banco (o banco bom), e em 2017, com um acordo de venda à Lone Star.

Estas duas decisões passaram-nos a todos uma fatura superior a 8,2 mil milhões de euros. É o valor estimado atualmente para a construção do novo aeroporto de Alcoche- te. Foi isto que os contribuintes pagaram até 2023, segundo o Tribunal de Contas.

Assim ter-se-á evitado a não-implosão total do BES, terá salvo muitas empresas, famílias e, até a economia portuguesa nesses anos, uma vez que o custo da eventual liquidação do BES seria bastante superior. Mas essa circunstância não nos deve impedir de escrutinar os erros políticos e de supervisão.

As medidas implicaram uma capitalização do Novo Banco no valor de 4,9 mil milhões de euros feita através do Fundo de resolução, dos quais o estado emprestou 4,4 mil milhões.
Dez anos volvidos o Ministério Público considera que a derrocada do BES teve um impacto de 11,8 mil milhões de euros no país.

Não devemos nem podemos desvalorizar o comportamento criminoso de quem movimentou milhões entre as contas das empresas do Grupo BES para ocultar um buraco que os portugueses têm de pagar.

Mas o colapso do BES não foi apenas o maior escândalo financeiro em Portugal. Foi o colapso de um grupo empresarial que tinha uma influência relevante em vários setores da economia portuguesa, na banca, nos seguros, na energia, nas telecomunicações, na comunicação social, na construção civil e na indústria.

A sua influência nos principais partidos políticos era também evidente, com quadros do Grupo Espírito Santo a marcarem presença na maior parte dos Governos que estiveram em funções até então. O fim do BES foi um terramoto na economia e na política e o país que daí resultou será diferente.

Mas, como é que o julgamento do colapso do BES pode ser uma boa notícia, com tantos acontecimentos que prejudicaram a vida de milhares de pessoas, contaminando o sistema financeiro e acentuando um discurso de ódio entre os ricos e os outros e que foi pago literalmente por todos nós.

“A única boa notícia é que o julgamento começou, demorou demasiado tempo mas talvez Portugal possa acertar contas com o passado recente” José Alberto Carvalho.
O início do julgamento fica marcado por uma imagem incómoda e que talvez pudesse ter sido evitada, foi exposta a debilidade do homem “responsável“ que fez isto tudo. Não devemos enaltecer a satisfação pela desgraça de alguém, mas também não podemos desculpar os erros de quem não estará agora capaz de compreender tudo aquilo que fez no passado.

Porque a verdade é que todos os portugueses sentiram e pagaram de alguma forma direta e indireta as ações deste homem e de outros.
O que se anseia noticiar no fim do julgamento é que foi feita justiça, mas para isso, infelizmente, é que será tarde demais.

Na Comissão Parlamentar de inquérito do BES em dezembro de 2014, Ricardo Salgado disse “segundo um velho provérbio chinês, o leopardo quando morre deixa a sua pele e um homem quando morre o que deixa é a sua reputação” este proverbio poderá parecer agora uma frase estranha dita por este Ricardo Salgado que surge hoje muito debilitado na TV, mas talvez seja mais certeira do que nunca.

“A glória é fugaz, mas a obscuridade é eterna” Napoleão Bonaparte

Editorial publicado na edição imprensa de 25 de outubro de 2024

Susana Faria

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